segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

o sono, a dança, o amanhã

dança aquele mesmo passo
sopra aquele mesmo tom
canta aquele velho samba
que eu já não sei qual é o som

ando sonolento por aí
já não ando sem você em mim
rodopiando sempre sem parar
respirando forte enfim

finjo não ter certeza
me faço de desentendido
ou seja
tudo vai durar
o tempo que eu não me mover

e te ver rodar
e te ver sorrir
e te ver correr
voltando pra mim

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

parapeito

alinha tuas mãos nas minhas
empilha as contas e as cartas sobre a mesa
fecha a janela porque vai chover
e tranca a porta se for demorar

deixa o som da tv bem baixinho
eu não quero ouvir o que me faz lembrar
mas deixa teu sorriso perto
pra se um dia eu precisar sonhar

não é o calor que faz agora
não é o vento ou o telhado
é o barulho de você la fora
e o som que vem dos carros

e vai embora assim sem dizer nada
fecha os olhos como se o coração não enxergasse
mas se perde de novo quando olha
eu indo embora sem querer voltar

domingo, 22 de janeiro de 2012

café requentado

um dia acordei assim
os dias que eu queria que passassem devagar
hoje eu corro pra não ver
requento meu café de ontem
evito teu olhar
te escrevo em bem-me-quer
pra não ter mais que te ver chorar

se bem que teu rosto lindo corado
e meus dedos que ficavam molhados
durmo e não encontro mais
requento os dias pra um dia
finalmente eu te encontrar em paz.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

terraço

tem vezes que o céu parece tão perto
e você tão longe
respiro fundo
não é hora de brincar de esconder

justo quando deveria me encontrar
e me mostrar o bairro
o terraço
a fita e o laço

logo quando eu queria te encontrar
te mostrar o meu lado
o afago, as luzes no terraço
e tudo que um abraço pode dar

quando a gente finalmente se ver
eu disfaço o estrago
a falto do terraço
tudo que seu abraço me faz falta.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

sobre o ator que não sabia atuar

começou assim, eu andando imaginando um universo diferente. o estranho da turma conhecido mundialmente por saber sei lá o que. então eu precisava descobrir algo em que eu fosse bom além de vencer partidas de video game e ser o estranho da turma. não me lembro em qual rua estava quando percebi que já estava fazendo uma coisa que pouca gente fazia. imaginar. foi só questão de me perder. foi quando fiz dezoito e percebi que minha imaginação não ia me salvar do mundo real. criar situações era mais fácil do que vive-las. e elas começaram a se tornar reais. mais reais do que aquele menino parado no portão de casa vendo os carros passarem pudesse prever. mas não me lembro em qual dia estava quando resolvi não parar. e veio o amor. e não parou mais. não tinha o mesmo gosto da adolescencia. nem melhor nem pior. e aprendi que amor não se mede, não se rotula, não se muda. e descobri a música. descobri que eu sabia bem mais do que achava que sabia. como das outras vezes, eu não lembro onde eu estava. talvez no sofá marrom eu acho. e foi um efeito dominó. veio a amizade. foi a amizade. ainda é a amizade. veio as madrugadas, do jeito ou mais perfeitas que eu imaginei. veio os beijos, os abraços, os carinhos, as frustrações, as dores, as poucas mas ainda lágrimas. e as confusões. ah, minhas doces e mal fadadas confusões. eu lembro onde eu estava quando percebi o quanto gosto disso. estava parado, olhando a cidade lá de cima, em silêncio, ouvindo meus amigos conversarem e ouvindo The Suburbs do Arcade Fire. me lembrei daquele menino de treze anos doido pra sair da gaiola, que olhava o horizonte pensando aonde aquela rua ia parar. onze anos depois, descobri que ela sempre para comigo sorrindo de uma maneira ou de outra em qualquer lugar que eu nunca vou lembrar. mas vou saber que estive ali sorrindo. sempre.

domingo, 8 de janeiro de 2012

eu passei naquela rua hoje

pra que fingir? pra que correr?
eu luto todos dias pra um dia desses eu descansar feliz.
é tão simples ver, é tanto querer
que a gente nem nota.

para um pouco aqui do meu lado
e em silêncio conversa comigo como naquele dia longe.
muito longe.
eu queria que fosse longe o suficiente para não precisar voltar tão cedo.
mas amanhã é segunda-feira e a gente já se esquece de novo.
e de novo.

mas senta,
e escuta o que nos trouxe até aqui.
aquela música, aquele dia, aquele ano,
aquele feriado, aquele carnaval.
aquele passo errado, olho pro lado e já não tem mais.
a gente não sabe mais.
e tudo fica com gosto de de guarda-chuva.

mas senta aqui, eu prometo que não vou demorar.
não sei se despedida é a solução, mas morei um dia no seu abraço,
eu só queria visitar pra ver hoje como tudo está.

senta aqui e me conta como vai você,
antes que eu me vá de vez
pra nunca mais voltar.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

o calculista

em meio a tantas planilhas, trabalhos e contas, eu fiz uma planilha pra você. usei todas as formulas possíveis, fechei e abri abas, inverti pontos e sinais, usei gráficos, desenhos e formatações, tudo para descobrir onde errei nos meus cálculos iniciais. porque nos meus planos, eu simplesmente pegaria minhas coisas e iria embora, mas parei na escada sem entender sequer porque tinha parado alí. e se não fosse o porteiro, acredito que ainda estaria lá, olhando pra parede. é que eu, que só vejo números no total, me esqueci de calcular a variável 'saudade' em alguma célula no meio dessa bagunça toda. fecho a planilha sem salvar, e volto a esperar um e-mail que nunca chega.

Supercombo - O Calculista

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

sem você no corpo II

vez ou outra me pego conversando com você de novo, tentando te explicar algo que nem mesmo eu sei. e que não tem explicação. na verdade não precisa de explicação, mas sempre estou sentado na escada, com um café frio em uma mão e um cigarro na outra, pensando o que vai ser do meu verão agora sem aquilo tudo de meses atras. começa a chover lá fora como de costume e me lembro que deixei as janelas abertas. mas a preocupação vai embora quando vem uma ponta de esperança de que vou chegar em casa e a janela vai estar fechada, a comida vai estar em cima da mesa e você vai estar sorrindo pra mim, sentada no sofá, como deveria ser.

domingo, 1 de janeiro de 2012

sem você no corpo

é que as coisas que a gente perde pela vida
de vez em quando a gente acha em momentos ideias
quando tem que achar
em dias como esse

está em você, está em mim
está em nós

é como pingar limão e andar no sol
viver marca
as vezes arde
e te faz lembrar o que te fez chegar aqui

que seja eterno enquanto dure
que seja feito o possível pra sorrir
daqui pro futuro o que tiver que ser

sem você no corpo...