domingo, 24 de junho de 2012

catavento

ouça: bon iver - minnesota, WI

não vai adiantar dizer que já passou. arranhar meus discos, parar de ler meus livros, evitar meus shows. não vai surtir efeito comprar um vestido novo, cortar o cabelo, doar meu moletom que ficou na sua casa para a caridade. e pra que cortar as nossas fotos, rasgar as cartas, colocar um salto alto? não é assim que as coisas funcionam. não vai ser do jeito que você quer. não adianta jurar de pé junto que não vai lembrar da vista da minha janela a tarde, da escada que fazia você perder seu folego, do mendigo da esquina da padaria perto da minha casa. a gente dançando na rua e da vida passando. e as coisas que te faziam feliz ficando pra trás. não é como quando você pisca forte o olho e tudo some. isso não existe. é fantasia sua, a mesma fantasia de quando você imaginava que isso podia dar certo. a mesma fantasia que fazia você jurar que ia ficar enquanto eu te excitava. o mesmo devaneio que me fez te escrever de novo. a alucinação que te trouxe até aqui. não vai adiantar porque eu vou estar nos seus mais profundos. você não vai conseguir esquecer. eu não vou deixar. e você também não.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

confronto (ou sem você no corpo III)

para ler ouvindo: chico buarque - folhetim

eu sinto qualquer minimo corte causado pela folha do caderno
ou qualquer coisa que arranhe a pele
como o vento por exemplo
o ar é estranho, parece veneno
tudo é preto e branco, os dias cinzas são monocromáticos
e eu não diferencio as placas nas ruas
vou somente aos lugares que vou automaticamente
por puro efeito da rotina
morfina
imerso dentro de mim
procurando e procurando
absorto sem ar
ignorando qualquer milimetro que ultrapasse
a ponta dos pelos do meu corpo

pisando firme no chão (sem chão)
olhando as horas (sem relógio)
sem hora pra voltar
pra onde voltar
pra que voltar
pra quem voltar
eu volto sozinho pra casa

procurando e procurando
voando sem par
ignorando qualquer milimetro que ultrapasse
a fina pele do teu corpo

estou absorto em desalento
estou absorto em você

terça-feira, 19 de junho de 2012

plebeu e sinuca

ser poeta é assim
sente coisa onde não tem
ser humano é assim
acha coisa onde sentir

terça-feira, 12 de junho de 2012

alvoroço

para ler ouvindo: umrio - cor de jasmim

observo meus óculos embaçados depois de um final de semana intenso, juntando as cenas e os cacos do filme b que é a minha vida. é sempre um problema tomar decisões. é sempre um problema tomar decisões sendo eu. é sempre um problema tomar decisões sendo eu bêbado sob o efeito da madrugada. não que eu me arrependa é claro - nessa hora do pensamento sobe um leve sorriso tímido no meu rosto - pois afinal de contas sou eu o cara que se joga de cabeça e nada a braçadas largas para onde der, sem nem saber onde esta indo. não me lembro de uma unica vez na vida ter evitado, desviado, pensado melhor e recuado. eu fraquejo, eu sempre quero ver onde vai dar. vem sorte, vem dessa vez mudar, dançar, me fazer sentir de novo - sorriso irônico. seria menos eu. talvez um dia fosse melhor, ao menos um pouco deixar de ser o garoto que desce o morro correndo de chinelo em tempo de tropeçar, cair e se machucar. só uma vez escutar a mãe preocupada e ir com cuidado e ir devagar.

um dia eu mudo eu juro. eu juro.

eu me rendo fácil a olhares, lugares, ao calor da minha pele, a língua tua. um dia eu vou aprender a me cuidar, eu prometo, de verdade. mudo o segredo da chave, mudo o disco, a cerveja, mudo de país se for preciso. apago a minha agenda, mudo meu numero, meu jeito de andar, de escrever, durmo com metade das garotas da cidade até sumir com teu gosto da minha boca. doo minhas roupas pra não sentir mais seu perfume. um dia te encontro, te olho e te sussurro no ouvido: - passou. mas por enquanto só pego a flanela e limpo devagar meus óculos. agora consigo ver o outro lado da rua. agora consigo ver com clareza que eu não vou mais ficar como eu pensei.

domingo, 10 de junho de 2012

em chamas

ouça: estrada - luz

isso não é mais sobre amor.

eu perdi a fé, as chaves, a cabeça e um pouco da razão. eu encontrei meu isqueiro e gente perdida na rua.

isso não é mais sobre querer.

eu perdi o tato, a visão, o olfato e o paladar. eu encontrei meu ponto fraco e me escondo pra esquecer.

isso não é mais sobre sentir.

eu perdi o voo, a avenida do contorno e as moedas do meu bolso. eu a encontrei no ponto de táxi sem saber pra onde ir.

isso não é mais sobre esquecer.

eu perdi a vontade, o emprego, o trago e joguei fora o cigarro. eu encontrei o que eu tinha perdido quando a peguei olhando pra mim. sem saber.

isso não é mais sobre sonhar.

eu perdi tanta coisa que perdi a conta. e as coisas que eu encontrei joguei pro ar pra ver se achava em outro alguém. por puro prazer.

sábado, 2 de junho de 2012

dois cobertores e meio

o que a gente pensa que esta fazendo dizendo assim?
o que a gente pensa que faz quando faz isso?
o que se quer dizer balançando os braços feito uma bailarina cansada de esperar?
o que não esperar dizer de um abraço?
e quando corre pra longe sem saber, pra evitar?
o que pensa que diz mas não fala?
e o que a gente faz com o peso das palavras?
o que fazer com o pé que sobra pra fora da coberta, sozinho?
o que a gente quer acreditar?
o que a gente ainda faz aqui?
o que a gente ainda tenta salvar?

porque ainda espera tanto de mim?