terça-feira, 26 de novembro de 2013

os três acordes de evelyn e adam grey

a noite eu troco de canal
como se eu visse algo que eu
não tenha visto outra vez
o cansaço me disfarça o tédio

durmo e quando eu durmo mal
é como se eu pudesse escolher
sonhar ou não
a poeira já me cobre o terno

e nada disso eu vejo passar
o relógio me ultrapassa assim
e tudo isso eu sei que é normal
encontro o que me importa

de manhã assisto o jornal
o mundo explode na minha cara de
quem não sabe muito o que fazer
o sol vem acordar meu prédio

saio e é tudo tão igual
a cidade me rejeita como febre
atirar ou não
eu não posso estar falando sério

e tudo isso tem que acabar
algum carro me atropela enfim
jogo tudo isso inteiro pro ar
não há nada aqui que importa

mas hoje já são quase seis
e eu me sinto tão bem
mas hoje eu sei é minha vez
e eu já me sinto tão bem
mas hoje eu sei que eu não sei
e vai ficar tudo bem

mas hoje eu minto sem porque
e já passaram das seis

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

a poeira dos outros

todas as inquietações da alma
nuas e expostas ao vento
tatuadas em papel a4
penduradas por barbantes
perduradas em nós
nuas tomam banho de sol
a espera da chuva
junto com os prédios
as árvores e toda essa gente
essa gente toda

a poeira dos outros
escondida em baixo dos tapetes
envolto por móveis
escondido por tijolos
colocados a mil
aos milhões de tijolos

a poeira dos outros
espalhadas pelas empregadas
no ponto de ônibus
nuas se despem em palavras
como quem diz
essa gente é gente também
apesar do que tem
apesar do que não tem

a poeira dos outros nunca convém

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

refém

o sangue lá dentro sendo roubado por fora
sensação que aflora de eterna euforia
qualquer dia eu explico o espaço entre o céu
e as nuvens rodando sem encontrar o réu
que roubou
e matou
e levou embora maria

ainda sinto a sensação de impotência nas mãos
e a criação de tamanha desesperança
no que quer que poderia ter evitado
e inventado a dor

dor do tamanho dos edifícios
que tampam e nauseiam minha visão
dor que não só dói como bambeia as pernas
e bombeia o sangue de maneira estranha
sem sentido mais
passa o coração vazio e faz um som de eco
que acorda a vizinhança inteira
em um pedido involuntário de socorro
socorre maria de mim
sou pobre de nobre pedaço de alma
e um rim que funciona a benção
de nossa senhora de sabe-se lá o meu fim

domingo, 13 de outubro de 2013

as goteiras do meu prédio

gostei do seu cheiro sem perfume
que tirou o azedume da semana inteira
e deixou em chamas minha respiração
que eu tentei disfarçar contando casos besteiras
sem saber o que dizer pra não pular no teu colo
e logo minha bochecha estava rubra de frio e álcool
combinando com o tom da sua pela morena
e seu jeito de falar sobre a cidade
que eu não conhecia até você mostrar
com sua visão de rapaz alto
a cabeça deve chegar nas nuvens
e que aposto que voa ao me beijar

foi quando de repente seus olhos tropeçaram nos meus
eu os fechei com força sem saber o que pensar
e agora ardia nas faces rosa
e sua mão apertou mais forte meu quadril
que você gentilmente se acachou para eu me encostar

mesmo assim fiquei na ponta dos pés
pra te alcançar e não me perder
eu sempre me perco quando gosto de você
amanheço cantando elis como se ela não tivesse partido assim
sem saber
o que era amor, o que vou fazer

se não me perco te perco
se te perco me perco entre
uma e outra noite que se vai
despercebida
madruga a dentro
dia a fora
vida la fora
que me trai

sábado, 31 de agosto de 2013

Capitulo I

As 5 da manhã eu ouço não só as batidas do meu coração compassadas em ritmo de bossa nova como ouço o barulho do fluxo do meu sangue subindo e descendo pelas minhas veias. Estou deitada na minha cama e o teto parece mais baixo que o normal, mas eu não sinto medo. Eu esperava que alguma coisa acontecesse. Na verdade esperava um momento revelador – a hora, a data, o local e o motivo – que me levava a ser como eu era; perdida no meio de tantos encontros e desencontros, que aconteciam no meio do nada que eram esses encontros. Eu achei que nesse exato momento eu entenderia porque eu estava aqui, drogada e o porque minha memória (vida) parecia tão longe do momento agora.
Eu tinha um caminho, e desviei até aqui.
Foi como se eu estivesse em um carro seguindo a mesma auto estrada por dezoito anos, e havia uma bifurcação. Esquerda e direita, não havia um meio termo. Era como a angustia da separação, mas de mim mesma. Era como a sorte da indecisão, o azar da escolha e o meu corpo um inteiro, não uma fração. O meu sorriso era loteria, o resultado final. Meu devaneio era o resto, o que ficou pra trás. Um dia eu voltaria se ainda existisse volta. Se não houvesse contramão. Mas o carro seguia, os dias passavam.
Era tudo um jogo mal jogado por mim, que não sabia chutar. O galo da vizinha canta, e eu não sei que horas são, pela primeira vez em meses. Começo a rir de euforia e desespero. Não saber as horas me da a sensação de não saber em que lugar da vida eu estou, e agora me dou conta que não sei do dia, do mês e da semana. Mas nunca me esqueço do ano, porque eu queria me chamar Ana. Lembro de desejar ser Ana a 8 anos atrás, na primeira vez em que a estrada bifurcou. Naqueles dias em que o asfalto hora curvava para um lado, hora curvava para o outro, lembro de estar no banheiro da casa da minha avó após o ano novo, depois da vida nova, e a minha tia me mandava prestar atenção com a voz alta que preenchia meus ouvidos amplificada pela excelente acustica do banheiro. Ela dizia “você vem de uma família de fracassados, você precisa ser feliz, entendeu?” Naquela época eu tinha medo de olhar nos olhos das pessoas, e até hoje conto nos dedos as pessoas que olhei nos olhos, mas eu me lembro de olhar no fundo dos olhos dela, no susto e no impulso. Eu não me lembro de ter respondido, mas me lembro de ter escovado os dentes olhando fundo nos meus olhos. Eu queria fazer isso agora então vou me levantar e procurar no espelho se eu sou feliz. Tenho mil argumentos pra provar que sim, mil sentimentos pra dizer que não. E uma vida inteira pra não saber responder.
A estrada bifurcou de novo, no mesmo lugar, na mesma direção. Eu tremo de ansiedade porque tentar é morrer e viver, tudo ao mesmo tempo, no mesmo segundo em que respiro. O carro segue a 150 por hora, e o que eu vou fazer da minha escolha é tudo um jogo mal jogado por mim, que não sei defender. Eu não sei me mover sem saber. Quando não sei machuco. Machuco a mim e ao mundo. E ao criado mudo que sempre chuto quando levanto correndo. E agora me preocupo porque eu não sei mais andar devagar. Porque necessariamente eu corro eu direção a bifurcação? Quando eu estou na esquerda olho as janelas da rua, desejando subir prédios. Quando estou na direita, olho as ruas da janela desejando cair no asfalto, fazer barulho e machucado. Sinto uma ponta de inveja das pessoas decididas que sabem onde vão. Sinto um baseado inteiro de tédio de saber o que esperar. Eu canso de saber, me mato de esperar. Me canso de viver, me mato de sonhar. Começo a não acreditar nas pessoas decididas que não olham pro lado, não olham pra trás. Não queriam que fosse diferente o café da manhã. Não queriam que fosse diferente a roupa do dia, ou queriam estar transando no escritório com a secretária. Eu pensei isso tão forte que esqueci de respirar e segurei com força o lençol, e me dei conta que não enxergava o teto mais.
Eu sai de mim pra não ter que escolher. Esquerda ou direita, matar ou viver. E pra não ter que escolher, eu sai do carro em movimento, e deixei que ele fosse mato a dentro, e nunca mais o vi. Parei no meio da estrada, exatamente no meio, e decidi pegar carona no primeiro carro que passasse. Ou ele pararia ou ele passaria por cima de mim. A escolha que eu fiz, o contexto em que eu vivi, as pessoas com quem sorri, todos os dias desde que eu nasci. O mundo girou pra lá e pra cá, em torno do sol, puxando a lua, choveu, ventou, não nevou, estiou, e tudo, extremamente tudo me desviou até aqui.
Adormeci.
Acordei e não tive resposta. Fiz um café pra variar. Abri a porta da varanda e o sol estava lá, pra variar. A vizinha estendia roupa no varal, pra variar. As crianças choravam, pra variar. Eu não achava meus óculos, pra variar. Coloquei um disco do Chico pra variar. Sentei com um cigarro, pra variar. Apoiei minha cabeça na mão e suspirei desiludida pra variar. Mastiguei uns biscoitos enquanto olhava a vizinhança, pra variar. Quando notei no canto direito da minha visão uma roupa diferente, um sorriso diferente. Enquanto Chico cantava “deixa em paz meu coração” eu fiz um almoço diferente, e me senti diferente, como se não precisasse jogar. Como mesmo se eu virasse a esquerda, lá na frente eu pudesse virar a direita. Como mesmo se eu não pudesse mais virar, a estrada se faria certa em um tempo ou outro. Eu nunca gostei de placas me mostrando aonde ir. Foi assim que escureceu, foi assim que eu venci.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

joão

trago estrelas
respiro fumaça
neblina me cega
o medo me mata

dia após dia
noite após tarde
um pé atravessa
o outro milagre

trago estrelas
sinal amarelo
cortina fechada
ilumina concreto

sentido contrário
mão contra mão
mudo de aquário
não diz nada não


trago estrelas
dia após dia
respiro fumaça
noite após tarde

neblina me cega
um pé atravessa
o medo me mata
outro milagre

trago estrelas
sentido contrário
sinal amarelo
mão e contra mão

cortina fechada
mudo de aquário
ilumina concreto
não diz nada não

terça-feira, 16 de julho de 2013

o diário dos novos dias II

I
permanece intacto o pensamento de que a sorte vive em tudo e em tudo de bom dará
tudo vai dar certo o que quer que certo signifique
a deus dará com fé e bom coração
adeus dará a lágrima que desce em vão
a mão que me estende certeira e me levanta do medo
afaga a cabeça e me desce no sono
me faz entender que sorrir não causa nenhum esforço
ilumina o caminho de volta pra casa e guia pra dias melhores

II
o nó na garganta e os trocados suados
café amargo e o jeans surrado
a música na cidade que desvia a atenção dos carros parados
que fazem barulho maior que os sinos nas igrejas
melodia que percorre o corpo e viaja a mente
pra longe do mundo que julga e impõe medo
faz caber no olhar o que não coube no mundo
e nenhum outro mundo entende

III
ouço a conversa da loteria e do risco da morte
e os ventos do norte ainda não movem moinhos
as contas pra pagar e a verdade do universo na fila do banco
o poeta ainda esta vivo e sobrevive com a ajuda de aparelhos
procura emprego porque no berço a fome chora
e sua poesia não é mais uma são três e nada pode esperar
na esperança da boa aventurança
que aprendeu com o próximo que veio antes dele
segue espalhando seus poemas no sinal
e seu grande nome ao vento

IV
no térreo precinto sinais de fumaça sem fogo
a cabeço é um estorvo e dores latentes
entre conversas de presidentes e dores de dente
o prédio em chamar de vidas sem precedentes na história
cada história em balcão de bar e sussurros em festas
cada dialética do mundo animal que come mais do que precisa
enquanto o bando passa fome na esquina
suas fêmeas são doentes e seus filhos estranhos
aos olhos de quem não sabe olhar
o futuro que chora porque sabe que não vai chegar

V
bate ponto na via e assovia na esquina a espera da condução amarela
que leva de volta para o amor
nos braços a marca da amarga viga
que cheira a bolor de dinheiro vencido
jazigos e amigos esperam visita nas camas de hospitais
em suas casa ou no centro da cidade
no meio do acaso do caos
quando o tempo deixa e o destino não leva antes que seja tarde
antes que me falte mais palavras do que vida pra viver
eu nunca vou parar de dizer que foi bom te ver
eu olho muito e guardo pouca coisa
mas me assusto quando lembro detalhes de enfeites
que me fazem acreditar. do nada no meio da tarde
faço alarde pra fazer barulho pra incomodar
e pra recordar ao mundo que eu existo
e um turbilhão invade a minha casa meu ouvido meu ar
eu preciso gritar as vezes
meu coração bate do lado direito do peito
e onde quer que eu invente que ele exista
espero que ele exista nas pessoas que eu amo
e que lhes deixem surdo de boas intenções
que aja sempre comemorações por estarmos vivos
felizes e seguindo nossas próprias direções
e que elas sempre se cruzem por nossas opções
divago ao acaso precisando de um abraço
e de olhar mais pro espaço
o espaço do celular que nunca funciona acabou

segunda-feira, 24 de junho de 2013

o sopro do dragão

a cidade acordou com o seu teto de vidro em pedaços no chão
refletindo o sol preguiçoso de começo de inverno
as pessoas comentam qualquer coisa sobre a televisão
como se não tivesse havido inferno

inferno nosso de cada dia,
o inferno de todos os santos
o mar que vem pela avenida
quando viver já não tem mais encanto

quando a voz já não é mais ouvida
e ninguém parece ouvir mais pranto
o grito ecoa pelo silêncio na esquina
enquanto o mundo permanece girando

bem no meio do olho do furacão
coragem bate mais forte do que o sangue lateja
não existe mais pátria nem nação
não é só olho que lacrimeja

é a mãe gentil que não sabe se chora
ou se sorri pelo filho que luta
entre o medo e a esperança que aflora
o dia já não é mais o mesmo nas ruas

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Quem Precisa do Brasil

No começo, eu manti um pé atrás com as manifestações pelo país.

Uma semana antes dos protestos, no meu trajeto ônibus/centro/metrô, entre 6 e 7 da manhã, reparava nos rostos das pessoas nos transportes públicos e pelas ruas. Os rostos cansados, ou melhor, abatidos pelo cansaço de trabalhar em um emprego que não sonhou quando era criança - porque não teve tempo de sonhar, teve que trabalhar pra ajudar a família, e levantar cedo e ser humilhado em um ônibus lotado sem conforto e sem descanso, trabalhar 8 horas por dia como manda o regulamento, num emprego que lhe exige sacrifícios físicos e psicológicos. E no final, voltar no mesmo ônibus, humilhado pela lotação, olhando pros rostos de gente tão ou mais cansado que ele.

Quando abro o jornal: aumento do custo de vida, violência, desvio de dinheiro publico, mais violência, menos educação, caos na saúde, leis e decretos sem o menor sentido.

Quando olho a periferia ao meu redor, ao menor sinal de crescimento econômico, a favela foi tomada de carros populares, antenas de tevê a cabo, puxadinhos e segundo andar irregulares, roupas de marca, academias, tevês de led e celulares

Quando abro o jornal: cura gay, pec 37 e 39, gastos bilionários em futebol, leis esdruxulas de uma entidade privada internacional que passam por cima das leis que beneficiam o povo, impunidade parlamentar, mais desvio de dinheiro publico, menos educação.

Quando ouço as pessoas conversando na rua: bigbrother, novela, futebol, fofoca, famosos, cansaço pelo trabalho, jeitinho brasileiro de passar a perna e tirar vantagem em tudo.


Uma semana antes dos protestos, no meu trajeto ônibus/centro/metrô, entre 6 e 7 da manhã, reparava nos rostos das pessoas nos transportes públicos e pelas ruas. Essas pessoas vão chegar em casa, tomar banho, fazer a janta, assistir ao telejornal, a novela, e dormir. Se elas tiverem filho, elas preocuparam como anda a educação da escola em que ele esta matriculado? Esses filhos dessas pessoas estão preocupados em se tornar alguém mais esclarecido do que seus familiares na vida ou só estão preocupados em arrumar um trabalho menos árduo que lhes dê dinheiro pra comprar o tênis da moda?

Essas pessoas vão chegar em casa para suas famílias ou, ao invés disso, vão para os bares gastar tudo que ganhou com seu sub-emprego para amenizar o cansaço e a desilusão de que nunca vão ter um oportunidade? Eles nunca vão ter uma oportunidade porque não tem oportunidade ou porque não procuram uma oportunidade?

É justo muitos se matarem para ter uma oportunidade enquanto poucos limpam a bunda com uma nota de 100?

No começo, eu manti um pé atrás com as manifestações pelo país.

Todo esse discurso "Robin Wood" da classe média me faz pensar no fim e no depois. No fim, que seria bom pra quem? Bom pras linhas de frente que organizaram os protestos, conseguem visibilidade e numa dada reforma pulam para o outro lado, e não se sabe mais quem é porco, quem é humano. No fim conduzido pelos oportunistas da efervescência com o intuito de angariar militantes para suas causas partidárias ou de movimentos com ideias unilaterais, fazendo todo mundo esquecer do fim que deveria existir: o bem estar comum. E ainda, o fim das pessoas de bem, que entraram pro protesto com a esperança de não ter que trabalhar 14 horas por dia pra colocar o filho em um colégio particular com medo do ensino publico do propro país. As pessoas que estavam no meu lugar a anos atrás, na luta contra o cenário politico vigente, hoje vê tudo isso pela tevê com o ar de "já vi esse filme antes". São pessoas da classe média que tem que trabalhar 14 horas por dia, que não tem os mesmos problemas que as pessoas que eu vejo nos transportes públicos e nas ruas, mas que não se sentem representados pelas pessoas que ajudaram a eleger com o grito nas ruas por um país melhor. Sinto nos olhos dessas pessoas a pergunta: onde esta o país pelo qual eu gritei a décadas atrás?


No começo, eu manti um pé atrás com as manifestações pelo país, mas eu não resisti!

Li e reli, exaustivamente, manifestos e opiniões. Gente que apoia, gente que condena. Gente que acha que vai haver nova ditadura, gente que acha que não vai dar em nada. Gente que reclama do trânsito, gente que buzina. Gente que não sabe porque está lá, mas está. Gente que daria tudo pra estar lá, mas pode estar. Gente. Milhões de gente. Gente que antes não sabia a quantas andava seu país. Agora sabem. Sabem porque, porque mais que todas as profecias do fim dessa história, levantamos da cadeira e gritamos, envelhecemos gritando, e vamos morrer gritando. Não é só na manifestação. Vamos gritar nos bares em conversa com os nossos amigos. Gritar no facebook compartilhando fatos, notícias verídicas e discutindo opinião e informação. Vamos gritar dentro de casa, buscando referência no passado e agindo corretamente no futuro. Vamos gritar nas nossas cabeças todo duvida e pensamentos, gerando mais discussão e mais informação. Vamos criar nossos filhos gritando que se ele não gritarem também, tudo que nos construirmos vai ser tomado de novo aos poucos. Eu não resisti, porque agora a cara abatida pelo cansaço do povo no transporte publico e nas ruas se mistura a um leve contentamento de esperança de dias melhores. Eu não resisti porque vi nos olhos de quem gritou a décadas, apesar de já terem gritado e visto esse filme, a esperança em quem grita hoje.

Eu não resisti a manifestação porque nós precisamos do Brasil.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

pele, carne e osso

pele, carne, osso e coração
unha, sujeira, ardor e concreto
meço minhas palavras em oração
o céu invade a torre do meu prédio

procuro explicações que não chegam das nuvens
e vou pra debaixo da terra com as minhas
porque rio na cara da desgraça que me pune
porque querer ser eu mesmo toda a vida

na via todavia contramão
na mão tudo aquilo que me despeço
de tudo que me é ilusão

no sorrio o controverso
da métrica que me assassina
pra eu me sentir vivo no inverno

segunda-feira, 27 de maio de 2013

inacabado

intro
me senti incomodado com o seu sorriso enquanto me beija
e me atordoei com a cor do seus olhos
que muda conforme a luz que eu olho
e fiquei mal acostumado com sua mão que bagunça meu cabelo
e nem me incomodo com o batom que fica pelo meu corpo
e pela minha roupa

verso
ajeita sua mão na minha
e encosta seus lábios nos meus
encontra motivos e caminha
pro meu lado que já é todo teu
senta e se ajeita o corpo
que eu chego pra te carregar
tenta e me espera um pouco
que eu to pensando em te trazer pra cá
pra se sentir pequena nos meus braços grandes
pra eu me sentir pequeno frente ao seu querer
pra te fazer poema em meio a tanta prova
pra de mim você não se esquecer

sexta-feira, 10 de maio de 2013

serena

para ler ouvindo: maglore - motor

como o tempo martela a saudade
com o tempo ganhei de você
na garganta seguro o estrago
que esse nó não deixou escorrer

no pescoço seguro a cabeça
erguida e os meus olhos nos teus
com sufoco juntei a coragem
que em outro tempo entreguei a você

meu coração

passa despercebido à cidade
e o barulho que faz ao te ver
nenhum caos abafou o alarde
que hoje assisto pensando em você

que hoje evita chamar o meu nome
canta só o que escrevi outra vez
outra vez vai me ver tão distante
olha só na janela o que fez

seu coração

como o tempo correu sem piedade
e barulho que faz ao me ver
na garganta segura a vontade
que em outro tempo vivia em você

no pescoço segura a vaidade
canta o nó que eu soltei ao escrever
nenhum sol te aqueceu como o abraço
olha só o que fazia viver

nosso coração

terça-feira, 7 de maio de 2013

o diário dos novos dias

não são sete da manhã e a cidade já pulsa desenfreada seus carros e sua gente mal dormida com cara de sono, e cansada pela falta de sonho (a novela acabou as 22 e pouco). já vi o céu de quase todas as cores e na falta de fones de ouvido fica ressoando qualquer barulho desconexo que vira qualquer melodia indecifrável e sem drama. não atravesso mais o sinal vermelho nem esbarro em gente que não conheço. em contrapartida não abraço meus amores e afins. eu sinto falta falta desses prédios enormes e desbotados, a natureza opaca criada pelo homem que ganha vida pelas histórias que ganham vida pela vida que pulsa desenfreada pelos seus corredores, escadas e janelas. a gente pulsa a cidade que pulsa os prédios que pulsam a gente que pulsa amor pelo que quer que seja, escondido onde quer que esteja. o belo horizonte anda cada vez mais belo, de qualquer lugar que eu veja.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

gasolina, gás e prego

dias retrôs
dias de chuva no metrô e calor
alucinação pela falta de exatidão
não pelas drogas, mais pelo cansaço
não pelos olhos mas pelo coração
enxerga longe no prédio a direita
só tem prédios pra olhar, não tem escolha
não tem escola, não tem atenção
o vento bate na transpiração e gela
o pouco de calor que tinha nas mãos
o pouco de esperança que tinha nos dedos
escorreu junto com a água que caiu no chão da praça
mas a cabeça esta erguida
e o seco esta na garganta e no ar
que segura o choro e seca as lagrimas
o que segura o passo no sinal aberto para os carros
o que segura o peso no peito e mantém o corpo no chão
e a cabeça nas nuvens flutuando no espaço
então corre
"pela espada viverás, morrerás
pela espada"

segunda-feira, 22 de abril de 2013

três poemas sobra a cidade

para ler ouvindo: rubel - nuvem /quadro verde

poema mudo

mesmo calado
falo pelos cotovelos
(e com os cotovelos)
dobrados em cima da mesa
leio o letreiro que assim como eu não diz nada
mas manda eu ficar em silêncio
e em silêncio eu grito
que eu ficaria em silêncio por mais uma vida
observando o barulho com atenção

poema cego

quado eu pisco os olhos
já estou dentro do ônibus
olhando o cansaço na face
e o vendedor de balas no sinal
as pessoas passam por mim como um sonho
e eu me vendo de memórias
que talvez sejam imaginação
e cego eu tateio tudo a minha volta
pra ter certeza que o céu é azul como me contam

poema surdo

o som que eu ouço da tua boca
me faz enxergar tanta coisa no escuro
quando eu peço silêncio e você fala
coisas que eu não queria prestar atenção
mas guardo tudo no mundo
quando eu peço pra te ouvir e você cala
o mundo que eu guardo com afliação
eu fecharia meus olhos e minha boca
e andaria pela cidade no meio do trânsito
(sem ouvir os carros)
segurando seus dedos
e ouvindo somente sua voz
me levando pra sua casa
me levando por você

domingo, 31 de março de 2013

velocidade

o tempo não passa
a gente passa pelo tempo que tem
pra espreguiçar, pra falar que ama
quando o sorriso estampa o tempo bom
há muito percebi que não sei andar devagar
um passo atropela o outro
e minha cabeça anda no inferno de dias
por isso piso torto, pra fora do chinelo
meu dedo é torto e tropeço no vento

o tempo passa
a gente passa pelo tempo que não tem
pra lamentar, pra falar que odeia
quando o sorriso estampa o tempo ruim
há muito percebi que não sei falar
a língua atropela o pensamento
e minha cabeça anda no inferno de meses
por isso falo pouco, quase monossílaba
meu enrredo é pouco e tropeça no senso

o tempo para
a gente passa pelo tempo que falta
pra ficar, pra falar o que quer
quando o sorriso estampa o tempo da alma
há muito percebi que sei viver
os olhos atropelam a estrada
e minha cabeça anda no inferno de vida
por isso amo tanto, quase que sobra
meu abraço é longo e atravessa contratempo

segunda-feira, 25 de março de 2013

foge

no centro da cidade, a tarde
a chuva, a culpa
no centro da idade, alarde
sua bochecha, purpura

cada frase que eu pronuncio soa absusrda nos meus ouvidos
foge enquanto é tempo, enquanto eu não te acho no meu abraço

no centro da chuva, a cidade
a culpa, a tarde
no centro da sua bochecha, meu sorriso purpura
o alarde do meu coração, a idade

cada olhar que eu pronuncio soa o universo nos meus ouvidos
foge enquanto é tempo, enquanto eu não te acho em mim
porque quando eu acho, eu me pergunto o que será dos meus sentidos?
jogo meu peito aberto nessa história sem fim

domingo, 17 de março de 2013

a fabula do homem de lata

o homem de lata sorrindo
pediu um coração
o homem de lata menino
sempre sonhou em sentir
mas sua boca reta não expressa desejo
não sorri amarelo nem vermelho
seus olhos opacos não marejavam
não cerravam, não fitavam
nem sorriam
o homem de lata sozinho
sem um coração, não sabia sentir
mas sabia que queria sentir
sentia que queria saber do motivo de se ter um coração

o homem de lata perdido
já não tão menino
implorou um coração
jurou aguentar todo o peso
o vazio, a dor, o anuvio
que podia trazer o amor
o ódio, o ganho, a perda
e a alegria e a tristeza
que qualquer vida podia ter
o homem de lata só queria viver

e ganhou um coração
o homem de lata explodindo
saiu a sentir
mas como todo bom menino
o homem de lata sem brio
não sabia brincar
e se perdeu no jardim

o homem de lata ferido
depois de tudo sentido
não queria mais sentir
arrependido, amargurado e falido
queria parar por ali

mas o homem de lata fundido
aprendeu que sorriso não tem volta
e a vida que se escolha não demora

quinta-feira, 7 de março de 2013

nevada

I
é como se a neve caísse de um céu azul, cheio de nuvens em perfeita forma, com o sol robusto de plano de fundo. como se não precisasse de explicação pra cair. as coisas ao seu redor movem independente da sua vontade, e você está na frente de um universo de coisas, fazendo o seu próprio movimento, movendo as coisas que te importam e a vida de quem cruza seu caminho. mas você não controla o semáforo. ninguém controla.

II
ando dividido entre a louça pra lavar e a vontade de sair, entre a conta pra pagar e a vontade de sorrir. ando meio a meio com o sorriso e com a vontade de chorar e observando o caos que existe fora dos meus olhos e a paz que tento colocar dentro do meu coração. se eu fechar os olhos talvez mas ainda ouço as buzinas desenfreadas e o barulho da sociedade ao meu redor precisando dormir e descansar como um anjo descansaria.
mas eu não controlo o asfalto. ninguém controla.

III
eu tenho feito esforço pra falar menos e ouvir mais. observo cada feição dentro do ônibus como uma criança descobrindo o mundo. por efeito de opinião eu só falo pra obter reações porque a vida é chata sem ação e reação. mas quando eu mover minha boca, encostar a caneta no papel, abraçar de verdade com o coração e colocar a respiração em ordem, talvez eu entenda a minha falta de vontade de dizer de tudo que eu ainda não sei. e por ventura eu nem queira saber.
mas nós não nos controlamos. ninguém controla.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

relâmpago

por menos que eu pensei caí
segui o chão
e eu não reparei
que na cidade haviam
tantos nãos
mais do que eu possa ver
segui um trilho
sem qualquer final
e na cidade á luz de filmes
sem qualquer sinal
e na verdade eu só não sei

me larga
que hoje o céu não vai estar longe daqui

por menos que eu pensei caí
segui o chão
mas hoje eu levantei
e na cidade havia
tanto sol
pra que então correr
se lá no fundo tudo é tao igual
e na cidade á luz de velas
eu sinto o temporal
que na verdade é tudo que eu já sei

me larga
que hoje o céu não vai estar longe daqui
me larga
que o meu lugar já não é mais esse aqui
não me larga
se o seu lugar for tudo que eu tenho nas mãos

o meu coração

domingo, 17 de fevereiro de 2013

terminal ferroviário; estação central

ouça: harmada - avenida dropsie

o calor incomoda, os oculos marcam e a camisa suada já faz parte do corpo. os pés não sustentam os joelhos que não sustentam os quadris que não sustentam o coração. a cabeça em outro lugar que não o chão, os prédios em volta, a vida real. o minerio estilhaça os poros do corpo feito caco de vidro; no ar, como se fosse ar, misturado a fumaça do cigarro da cidade e do trem. trem que não vem, trem que não vai. relogio que anda mas não sai do lugar. tempo que não voa porque a gravidade é maior. em frente aos trilhos, em meio as pessoas, preso na mente, sentado torto. tudo é maior. e o menor resquisio de vontade é ouro. ouro de tolo pra se convencer. mas o trem vem, perco a hora, perco o chão. tomo café no bar.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

preciso de um abajur

o silêncio é barulhento dentro da minha cabeça cansada
sou peso em cima do entulho que um dia eu chamei de lar
fantasmas aparecem a todo tempo e eu não mecho um músculo
deixo que levem do resto que ficou

imagino a cidade vazia, ruas (completamente) desertas
o aperto é grande dentro do meu coração feliz
que pouco a pouco se acostuma com o que virá
o mundo era pequeno dentro da minha cabeça grande

em um espaço enorme com os olhos pequenos
faz pouco tempo que eu reparei no horizonte a minha vida inteira
as nuvens giram com a terra (planeta) e se dissipam
eu continuo sem saber pra onde vou (aqui)

eu queria voar por aí
mas mantenho meus pés no chão aonde eu possa ver
eu preciso de um abajur
eu preciso viver



ps.: manuel de barros precisava ver a cena (à "gramatica expositiva do chão", dele) e ao zé (gentileza) que me deu esse presente e me fez pensar tanto bem.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

fé móvel

a gente acredita no que quer
quando a vida da escolha
a gente acredita quando vai dar certo
que sempre deu
a gente quer que der certo porque o certo virá

a gente tem fé no que quiser

a gente acredita que vai
tem fé e vai
não importa pra onde ou o que
ou se quer se existe

a gente acredita que ama e existe

a gente existe e acredita que vai
e tem fé em cada luz do dia
a gente precisa crer pra querer e ter

a gente se move e tem fé no passo que não vai cair

a gente afirma que não vai chover
e quando molha a gente perde a fé
de que sabe onde vai

mas sem porque você vai e acredita que a fé te leva

só acredita e vai
o que você quer existe
o que tem fé só precisa ser pra você
e pra mais ninguém

domingo, 13 de janeiro de 2013

leme

ouça: topaz - contas

as coisas que eu amava, as pessoas que eu vivia. fico pensando por onde andam, que faculdade fazem, se casaram, tiveram filhos e estão felizes. alguns foram pra igreja, pararam de beber. outros continuam lá, nos mesmos lugares. é só andar sozinho pelos mesmos lugares, procurando as mesmas coisas nos mesmos sentidos. sempre que eu preciso. marca certas páginas da minha vida inteira que eu nem cheguei a contar, mas dividi de norte ao sul dessa cidade e de algumas outras tudo que eu podia sentir. hoje ando pelo mundo com tudo que eu encontrei e somei a tudo que eu podia viver. cada pedaço. lamentando por ter lamentado de tanto coisa que sorrio hoje de ter feito. cada tarde errada, que pra ter chegado aqui parece ter sido certa no meio das contas.

as coisas que eu amo, as pessoas que eu vivo. fico pensando por que andam aqui.

as coisas que eu vou amar, as pessoas que eu vou viver. fico pensando quem ainda vai passar por aqui.

domingo, 6 de janeiro de 2013

sexta-feira

bom dia

De todas as pessoas do mundo que eu podia encontrar nessa cidade sem fim, eu tinha que encontrar ele, de pijama na fila do supermercado, depois de ter sonhado com ele na noite anterior e depois de uma manhã muito ruim. Pensei em me esconder, mas de repente a vontade passou quando eu percebi que ele me olhava com aquele olhar bobo e a boca entreaberta apoiado no carrinho. Acabamos sentados no banco do shopping tomando sorvete em absoluto silêncio que me pareceu uma eternidade, mas talvez tenham sido meros 40 segundos. Quando ele disse “você não precisa se explicar” eu desabei, e fui sincera como nunca devemos ser. Disse que ele não passava de um sonho adolescente, de uma utopia de uma vida diferente e que o que eu sentia por ele não era o suficiente pra jogar tudo pro alto e de repente ser outra pessoa. Não funcionava assim. E pedi desculpas no final, bufando. Como se fosse ensaiado ele acabou o sorvete quando acabei de falar e disse “vamos lá fora, preciso fumar”. Ele nunca ia parar de fumar. E me incomodava. Fiquei ainda mais confiante sobre minha explicação. Tinha um argumento ali caso ele tentasse me convencer do contrário. Quando saímos, ele acendeu o cigarro e percebi que meu argumento era falho porque apesar de tudo sentia saudade do jeito charmoso com que ele fazia isso. Ele deu um trago e perguntou “mas você está feliz” e por um instante eu não soube responder. As pessoas falando alto a nossa volta tiraram minha atenção. E acabei respondendo que sim, de um jeito que fizesse parecer que eu hesitei em responder para não magoá-lo. Ele sorriu com o canto direito da boca, com aquele jeito irônico e debochado que ele sempre fazia quando não acreditava em alguma coisa. E antes que eu pudesse me irritar ele me abraçou forte, do jeito que me faz errar a respiração, e foi embora. Fiquei olhando ele dobrar a esquina com o almoço em uma mão e um cigarro na outra. Precisava voltar a trabalhar, mas fiquei no escritório a tarde toda ouvindo Jeff Buckley sem atender ao telefone. Não funcionava assim.

boa tarde

Voltei para cara sorrindo, sem conseguir explicar porque estava sorrindo, e sem querer pensar nisso. Fiz um bom almoço ao som de The Strokes, assisti aos noticiários, saí com o cachorro pra passear no parque, comprei coisas pra casa, encontrei alguns amigos, fui visitar a minha avó. Quando voltei arrumei tudo, revisei alguns trabalhos e fiz uma música. Quando toquei novamente, percebi que era sobre ela de novo, e sem querer pensar nisso achei melhor ir dormir. Meu dia estava ganho, não funcionava assim

boa noite

Relacionamentos são complicados, principalmente os de longa data. Mulheres sempre são complicadas, e cabe a nós homens sermos a parte simples. Nem sempre é fácil, mas quando você gosta é bom ter paciência. Quando elas não atendem ao telefone é preocupante, mas no meu caso deixei o dia passar. Quando ela atendeu falou pouco, parecia séria, não quis incomodar. Disse que amanhã a encontrava e pra ela ficar bem. No meio da noite, bebendo com os meus amigos, resolvi ligar novamente tentando distraí-la, mas ela não atendeu. Já um pouco bêbado, resolvi passar em sua casa por passar, mas ela não estava. Fiquei repassando as ultimas semanas tentando encontrar algum erro que eu tenha cometido e não reparei, mas nada. Tudo estava na mesma nesses últimos 3 anos. Tudo no lugar, como manda o regulamento. Trabalhávamos, estudávamos, visitávamos nossos pais no final de semana, viajávamos nas férias pra praia, fazíamos sexo duas vezes por semana como qualquer casal normal. A vida era normal. Eu realmente não entendia e me deixava impaciente. Resolvi esperar na sala, talvez dormir por ali mesmo e esperar ela chegar e perguntar o que estava acontecendo, tentar resolver. Éramos maduros o suficiente para conversarmos abertamente. Sempre foi assim, sempre. O notebook dela estava em cima da mesa de centro na sala, resolvi passar o tempo, ouvir uma música. Quando abri o aparelho tocava uma música bonita até, gravação caseira, não conhecia o artista. Ouvi Radiohead e adormeci. Ela chegou no meio da madrugada e deitou ao meu lado no sofá e adormeceu. Achei melhor deixar pra amanhã. Sempre foi assim, sempre. É assim que funciona.