segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

preciso de um abajur

o silêncio é barulhento dentro da minha cabeça cansada
sou peso em cima do entulho que um dia eu chamei de lar
fantasmas aparecem a todo tempo e eu não mecho um músculo
deixo que levem do resto que ficou

imagino a cidade vazia, ruas (completamente) desertas
o aperto é grande dentro do meu coração feliz
que pouco a pouco se acostuma com o que virá
o mundo era pequeno dentro da minha cabeça grande

em um espaço enorme com os olhos pequenos
faz pouco tempo que eu reparei no horizonte a minha vida inteira
as nuvens giram com a terra (planeta) e se dissipam
eu continuo sem saber pra onde vou (aqui)

eu queria voar por aí
mas mantenho meus pés no chão aonde eu possa ver
eu preciso de um abajur
eu preciso viver



ps.: manuel de barros precisava ver a cena (à "gramatica expositiva do chão", dele) e ao zé (gentileza) que me deu esse presente e me fez pensar tanto bem.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

fé móvel

a gente acredita no que quer
quando a vida da escolha
a gente acredita quando vai dar certo
que sempre deu
a gente quer que der certo porque o certo virá

a gente tem fé no que quiser

a gente acredita que vai
tem fé e vai
não importa pra onde ou o que
ou se quer se existe

a gente acredita que ama e existe

a gente existe e acredita que vai
e tem fé em cada luz do dia
a gente precisa crer pra querer e ter

a gente se move e tem fé no passo que não vai cair

a gente afirma que não vai chover
e quando molha a gente perde a fé
de que sabe onde vai

mas sem porque você vai e acredita que a fé te leva

só acredita e vai
o que você quer existe
o que tem fé só precisa ser pra você
e pra mais ninguém

domingo, 13 de janeiro de 2013

leme

ouça: topaz - contas

as coisas que eu amava, as pessoas que eu vivia. fico pensando por onde andam, que faculdade fazem, se casaram, tiveram filhos e estão felizes. alguns foram pra igreja, pararam de beber. outros continuam lá, nos mesmos lugares. é só andar sozinho pelos mesmos lugares, procurando as mesmas coisas nos mesmos sentidos. sempre que eu preciso. marca certas páginas da minha vida inteira que eu nem cheguei a contar, mas dividi de norte ao sul dessa cidade e de algumas outras tudo que eu podia sentir. hoje ando pelo mundo com tudo que eu encontrei e somei a tudo que eu podia viver. cada pedaço. lamentando por ter lamentado de tanto coisa que sorrio hoje de ter feito. cada tarde errada, que pra ter chegado aqui parece ter sido certa no meio das contas.

as coisas que eu amo, as pessoas que eu vivo. fico pensando por que andam aqui.

as coisas que eu vou amar, as pessoas que eu vou viver. fico pensando quem ainda vai passar por aqui.

domingo, 6 de janeiro de 2013

sexta-feira

bom dia

De todas as pessoas do mundo que eu podia encontrar nessa cidade sem fim, eu tinha que encontrar ele, de pijama na fila do supermercado, depois de ter sonhado com ele na noite anterior e depois de uma manhã muito ruim. Pensei em me esconder, mas de repente a vontade passou quando eu percebi que ele me olhava com aquele olhar bobo e a boca entreaberta apoiado no carrinho. Acabamos sentados no banco do shopping tomando sorvete em absoluto silêncio que me pareceu uma eternidade, mas talvez tenham sido meros 40 segundos. Quando ele disse “você não precisa se explicar” eu desabei, e fui sincera como nunca devemos ser. Disse que ele não passava de um sonho adolescente, de uma utopia de uma vida diferente e que o que eu sentia por ele não era o suficiente pra jogar tudo pro alto e de repente ser outra pessoa. Não funcionava assim. E pedi desculpas no final, bufando. Como se fosse ensaiado ele acabou o sorvete quando acabei de falar e disse “vamos lá fora, preciso fumar”. Ele nunca ia parar de fumar. E me incomodava. Fiquei ainda mais confiante sobre minha explicação. Tinha um argumento ali caso ele tentasse me convencer do contrário. Quando saímos, ele acendeu o cigarro e percebi que meu argumento era falho porque apesar de tudo sentia saudade do jeito charmoso com que ele fazia isso. Ele deu um trago e perguntou “mas você está feliz” e por um instante eu não soube responder. As pessoas falando alto a nossa volta tiraram minha atenção. E acabei respondendo que sim, de um jeito que fizesse parecer que eu hesitei em responder para não magoá-lo. Ele sorriu com o canto direito da boca, com aquele jeito irônico e debochado que ele sempre fazia quando não acreditava em alguma coisa. E antes que eu pudesse me irritar ele me abraçou forte, do jeito que me faz errar a respiração, e foi embora. Fiquei olhando ele dobrar a esquina com o almoço em uma mão e um cigarro na outra. Precisava voltar a trabalhar, mas fiquei no escritório a tarde toda ouvindo Jeff Buckley sem atender ao telefone. Não funcionava assim.

boa tarde

Voltei para cara sorrindo, sem conseguir explicar porque estava sorrindo, e sem querer pensar nisso. Fiz um bom almoço ao som de The Strokes, assisti aos noticiários, saí com o cachorro pra passear no parque, comprei coisas pra casa, encontrei alguns amigos, fui visitar a minha avó. Quando voltei arrumei tudo, revisei alguns trabalhos e fiz uma música. Quando toquei novamente, percebi que era sobre ela de novo, e sem querer pensar nisso achei melhor ir dormir. Meu dia estava ganho, não funcionava assim

boa noite

Relacionamentos são complicados, principalmente os de longa data. Mulheres sempre são complicadas, e cabe a nós homens sermos a parte simples. Nem sempre é fácil, mas quando você gosta é bom ter paciência. Quando elas não atendem ao telefone é preocupante, mas no meu caso deixei o dia passar. Quando ela atendeu falou pouco, parecia séria, não quis incomodar. Disse que amanhã a encontrava e pra ela ficar bem. No meio da noite, bebendo com os meus amigos, resolvi ligar novamente tentando distraí-la, mas ela não atendeu. Já um pouco bêbado, resolvi passar em sua casa por passar, mas ela não estava. Fiquei repassando as ultimas semanas tentando encontrar algum erro que eu tenha cometido e não reparei, mas nada. Tudo estava na mesma nesses últimos 3 anos. Tudo no lugar, como manda o regulamento. Trabalhávamos, estudávamos, visitávamos nossos pais no final de semana, viajávamos nas férias pra praia, fazíamos sexo duas vezes por semana como qualquer casal normal. A vida era normal. Eu realmente não entendia e me deixava impaciente. Resolvi esperar na sala, talvez dormir por ali mesmo e esperar ela chegar e perguntar o que estava acontecendo, tentar resolver. Éramos maduros o suficiente para conversarmos abertamente. Sempre foi assim, sempre. O notebook dela estava em cima da mesa de centro na sala, resolvi passar o tempo, ouvir uma música. Quando abri o aparelho tocava uma música bonita até, gravação caseira, não conhecia o artista. Ouvi Radiohead e adormeci. Ela chegou no meio da madrugada e deitou ao meu lado no sofá e adormeceu. Achei melhor deixar pra amanhã. Sempre foi assim, sempre. É assim que funciona.