quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

pontos

eu apaguei seus recados. rasguei nossas fotos. troquei o número do meu celular e mudei de e-mail. mudei o itinerário para não passar mais por aquela escada. troquei de travesseiro, de colchão, de lençol, mudei os moveis de lugar, e se pudesse tinha mudado de casa. encaixotei alguns discos para ficar mais difícil escuta-los, mudei a marca do cigarro e comprei um tênis novo. cortei o cabelo, fiz a barba que você tanto gostava, emagreci. fui rever velhos amigos, visitar parentes, passei três dias fora de casa. aprendi a fazer café, soltei pipa como na infância, assisti mais aos noticiários, fui ao campo de futebol extravasar. sai a noite sem rumo, sozinho, com fome. voltei de manha, sem rumo, sozinho, sem nome. comecei e não terminei três livros, ganhei umas rugas. pensei em reformar a casa. marquei os dias nos calendários, respirei fundo, tomei mais um café. queimei mais um cigarro e desisti. liguei pedindo pra você voltar.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

dejavu

a coisa que eu mais tenho feito desde então é parar pra pensar. certas horas isso se torna um defeito, eu sei, mas é assim que me protejo. a conclusão é sempre óbvia. eu já vi esse filme antes, não há nada de novo no seu 'me evitar', não há nada de novo que você possa me explicar. como esse mundo é engraçado, agora quem foge sou eu. eu não imponho condições pra você voltar. eu não preciso de provas, promessas, ou indulgências. eu só preciso que você esteja aqui as seis, como sempre fez. mas o paradoxo disso tudo, é que pra isso acontecer você precisa deixar de ser tão você as vezes. você é como um filme ruim, que eu já sei fim, e não é nada original.

para ler ouvindo nada original do pato fu.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

sem necessidade para capitulo 2

Nesse momento R se jogou contra A e a abraçou e beijou com tamanha força e paixão que nem se A fizesse todos os esforços que conseguisse conseguiria se soltar. E os míseros cinco segundos de resistência mostraram que ela não queria se soltar. Foi um beijo longo e demorado onde tudo se explicava sem brigas ou pretensões. Logo estavam sobre a cama e mais rápido ainda sob os lençóis, onde se tornavam um só mais uma vez. E depois de cinco anos ainda conheciam cada pedaço do corpo um do outro. R ainda sabia fazer A feliz. A ainda se lembrava como era sorrir daquele jeito sem nenhum esforço. Eles eram um novamente, até o destino, o tempo, e o medo separa-los de novo e de novo e de novo.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

interjeição

ah, se você soubesse
ficaria pro jantar ou iria as seis?
ah, se coubesse tudo que eu pensei dizer.
ah, se eu soubesse como te fazer feliz
ficaria até o amanhecer?
ah, se coubesse um pouco mais de nós
em você.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

sobre agum tempo (perdido) atrás

apague a luz do teu quarto e pegue o telefone
agora vamos alimentar a saudade com vozes
e iludir nossos corações com risadas
você fala tanta coisa sem sentido
mas só tua voz vai me fazer dormir essa noite
a tua risada empolgada de criança mimada
e teus sonhos de adulto que só quer brincar
a distancia me abraça
e a sua distancia me corrói
refaço todos os planos pra te ver
mas vou esconder essas palavras aqui
quem sabe um dia você possa saber.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

fobia

você
diz ser uma mulher feita
mas não passa de uma criança medrosa
com medo do escuro
com medo de se machucar no escuro
de que esse machucado vire dor
que essa dor se transforme em cicatriz
e que essa cicatriz nunca suma.

é tanto medo
que nem meus beijos e abraços no escuro
foram capaz de te dar coragem
eu sei
fui incapaz

amar é como andar de bicicleta
mesmo com o joelho e cutuvelo ralados
e a barriga gelada de nervossismo
a gente sempre tenta de novo e de novo
nada paga aquela sensação de voar
sem as rodinhas laterais para nos amparar
o vento batendo livre no rosto
e o controle suficiente para desviar das pedras no caminho

toda essa sensação de liberdade
vale a pena
pelo menos pra mim









e pra você?