sábado, 21 de abril de 2012

saída

- então, você tanto se esforçou que conseguiu me esquecer...
- você e sua mania de razão. como pode ter tanta certeza?
- você nunca esteve tanto tempo sem me esbarrar por aí ou sem deixar algum sinal de que ainda lembra...
- é que cheguei a conclusão que isso não ia nos levar a lugar algum.
- não é bem assim. nos trouxe até aqui.
- o que tem aqui?
- nós.
- e o que tem "nós"?
- alguma coisa que não consegue ficar pra trás.
- você também sumiu. isso não significa que você deixou pra trás?
- eu não sumi.
- você também há um bom tempo não me esbarra por aí...
- eu não faço as coisas acontecerem. elas simplesmente acontecem.
- então porque você esta parado há duas horas me esperando sair do trabalho?
- então porque você esta parada há meia hora me esperando dizer que estou com saudade?
- porque eu gosto de ter certeza.
- porque eu ainda gosto de você.

os carros buzinavam forte no centro da cidade em meio aquele transito intenso. ameaçava chover. choveu muito aquele dia quando eu fui embora. mas não o suficiente para impedir que eu a visse me olhando do outro lado da rua enquanto o ônibus partia pra longe daqueles dias de paz.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

as palavras do poeta torto

ouça: legião urbana - montanha mágica

você se esconde atrás desse violão
canta palavras que não sabe dizer
atravessa a rua sem olhar pra trás
escreve nas paredes pra não esquecer
olha bem pra esse céu que não é mais teu
joga fora o tempo, o verso e o refrão
olha dentro do teu olho e diz se é paz.
olha bem pros meus olhos e diz se é amor
da voltas ao relento sem bem saber
mas nem esse sereno é bem ilusão
eu já não sei mais o que responder
quando pergunta a quantas andas o destino
que não quer mais saber de você
de quantas voltas quiser teu balão
sempre vai voltar aqui
enquanto preocupar com o que perdeu
preso tanto tempo em quem partiu
já não é mais você, eu enfatizo
é tudo que você ganhou, e bem
parece que você não viu

quinta-feira, 12 de abril de 2012

vendaval

após dormir o final de semana inteiro, a rotina me obrigava a colocar os pés pra fora de casa na segunda pela manhã. parecia ter havido um vendaval que devastou tudo em um raio de duzentos metros ou mais. e logo eu, com problemas pra reter informação recente e com um deficit de atenção absurdo, lembrava cada passo nesses duzentos metros. o dia parecia insosso e foro do lugar, bem assim, clichê, como você gosta tanto. as pessoas estavam imersas em seus pensamentos e mal olhavam para o lado, me fazendo questionar o que eu perdi na minha hibernação. no curto tempo e distancia da minha casa até o meu trabalho, tudo estava devagar e melancólico, como um luto coletivo. cheguei levemente preocupado ao escritório mas estava tudo lá, imovel. as pessoas, minha mesa, meus papeis, os problemas. os comprimentos falsos e os sorrisos amarelos. peguei um café e um cigarro como de rotina e fui até o patio fumar. com a vista das montanhas atras do prédio, quando a fumaça começou a me envolver, eu entendi que não era o mundo que estava errado. era meu mundo sem você que parecia ter alterado a rotação da terra. da minha terra. o vendaval foram lembranças. a calmaria era a consequencia. e o dia era finalmente o fim. e o amanhã não parecia um recomeço.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Outono 06'

ouça: topaz - sono

eu nunca hesitei fechar os olhos, virar as costas e seguir.
eu nunca hesitei em evitar.
eu nunca hesitei em hesitar.

mas houve uma vez que meus pés arrastaram no chão e minhas pernas não queriam obedecer. houve essa vez que mordi forte os lábios e pensei em ficar. não foi um daqueles momentos que você sabe o que está fazendo. foi um daqueles minutos que você não sabe porque sente nada. ou porque esta sentindo tudo ao mesmo tempo sem pensar.
eu não sei se acertei ao ouvir a tulipa cantando 'do amor' no meu ouvido. nem sei se deveria ter chamado pra subir. a ideia era não ter ideia do que fazer. pelo menos uma vez. era essa vez. nossa vez. nada haver eu pensei. pensei em arriscar perder, pra pelos menos vencer as vezes que eu pensei vencer indo embora. mas talvez estivesse apenas deixando de ganhar. ganhar o que eu não sabia. jogava pra perder justamente por não saber o que podia ganhar.
então ela subiu. ganhei um sorriso e algumas lembranças pela casa que ela esquecia e vinha buscar as vezes. mas um dia ela se esqueceu de esquecer e esqueceu o caminho de volta.

eu sempre hesitei ganhar pra não ter que perder. é assim que funciona.
eu sempre hesitei lembrar pra não ter que esquecer. é assim que se passa os dias.
eu sempre hesitei em ter que hesitar em viver
pra nunca mais ter que evitar em te ver.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

o poeta das palavras tortas

de repente tudo ficou impossivel como se fosse o ontem
de repente tudo ficou claro como se fosse amanhã
de frente o presente, o liquidificador e o medo
de frente o espelho, teus olhos os mesmos

do nada tudo ficou amarelo
do tudo nada mais era azul
do quase já não era sem tempo
do tempo já não era mais meu

eu sigo sempre a sorte perdido
eu sigo sempre forte indolor
eu sigo capenga esses trilhos
eu sigo fingindo não ser

porque não parar por aqui?
porque tanto tempo a perder?
porque não parece ser fim
porque não parece ser eu

domingo, 1 de abril de 2012

lamento

me exlica, tanta falta
ai de mim que não meço
as palavras
e eu não sei
o momento
eu perdi
tanto tempo.
me explica, tua alma
ai de mim que não meço
o tormento
e eu não sei
o momento
eu perdi
tanto tempo aqui.

outono 01'

ouça: quarto negro - desconocidos

- há muito deixei de ter medo. não me lembro quando, onde ou porque, mas de repente estava com o pé na estrada, me metendo em qualquer confusão que me desse distração por um curto período de tempo.
- e foi melhor assim?
- a intensidade e a beleza compensam o efêmero. pelo menos pra mim. nem sempre tão real quanto eu imagino, mas como bruno já questionava, o que é o real além da impressão do que se sente?
- e você esta feliz agora?
- sabe, os dias tem sido bem iguais. você não sabe o que acontece ou como foi dormir no sofá, então você assiste a vida seguir, mas é só o relógio que segue. até os carros parecem não sair do lugar. é só o congestionamento eu sei, mas não venta por aqui há um bom tempo.
- e você nunca vai mudar né?
- eu já tentei. mas não.