sábado, 25 de agosto de 2012

dinamite (ou a borboleta e o furacão II)

para ler ouvindo: bon iver - flume

tudo que pode explodir causa ansiedade pela explosão. aquilo que está intacto não apresenta motivos para não ser quebrado. não existia porque pra não dar aquele passo. eu ainda acreditava no velho clichê do olhar. e confundiu como eu esperava que fosse. não fazia um mês que ela passeava pelo meus dias. eu perdi as contas em algum canto perdido pela casa. eu sempre perco alguma coisa pelo caminho, até o dia em que eu parar de perder. provavelmente será o dia que eu não vou estar mais no caminho. e vou estar parado contanto essa história a quem interessar possa. eu odiava historias até começar a gostar. eu não gostava até começar a amar. é como uma linha de defesa pra não acontecer de novo, mas sempre acontece. explode feito um furacão, bonito como uma borboleta colorida, inofensiva, sem saber porque vai de peito aberto para o olho. entorpecida, ela só abre as asas e vai.

ela subia as escadas com aquele meio sorriso olhando pra baixo com medo de me encarar. eu sempre queria estar esperando no final das escadas mas sempre me segurava e ficava atrás da porta esperando ela bater. agindo normalmente como se não precisasse agir. são só coisas bobas que a gente faz sem perceber, mas quando você começa a lembrar os detalhes são mais fortes do que o ponto final. e você nem se quer lembra em que lugar você estava na história quando começou o final. de qualquer maneira, depois que ela parou de subir as escadas e tudo ficou assim, como o final de uma tormenta, lembro dela dizer - para todos os efeitos eu nunca estive aqui.

passei a encarar como se fosse possível e o tempo mudou muitas coisas por aqui e por lá também, mas existem coisas que não se pode mudar e o quadro dela continua no mesmo lugar. Ficaria um buraco na parede e eu odeio remendar coisas. As vezes eu gosto de lembrar porque aquele quadro que eu nem gostava ainda esta alí quase dois anos depois. pra lembrar que, pra todos os efeitos, eu nunca estive aqui também.

sábado, 18 de agosto de 2012

a primeira epifania

compreendi o significado da gente
mesmo que nadasse contra a corrente
mesmo que seja errado, pago, barato
sem sal, por mal.

aprendi que é normal, e que não há como evitar
o que se veste, se faz, se sai, se sonha sem pensar
em curvas escuras, claras como a luz do sol,

evitei o que se corre sem querer
e o que não da pra evitar
o que se aprende sem perceber
o que se entende só de olhar

em um mundo onde não se esconde de ninguém
onde não há sombra de duvidas
o que eu pensei querer nunca existiu
o que existiu eu passei sem ver



* texto escrito com joaquim emidio aniversariante do dia. meus sinceros parabéns pelos anos e pela ideia do poema.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

porto, ponte, âncora, paz

essas ruas me trazem ventos que eu não sei porque
essa vista me cega e me entorpece de paz
eu já não lembro o tempo que me trouxe até aqui
nada me enlouquece nesses dias de cais

é um estar pleno de graça sem perigo
e achar abrigo onde tiver que ser
o interior corre no seu próprio caos
a cidade esquece o que precisa ter

entre fumaças e destinos eu sigo sorrindo
passos largos, torto, perdido, caminho
eu noto que o sino não bate outra vez

eu que há muito não ouvia nada
já não sabia que som fazer
ouvi o ruído da vida chegando outra vez