domingo, 26 de janeiro de 2014

felicidade (contra-poema a gabriel cunha)

felicidade fere
até chegar lá
vai e volta feito febre
sem quando vai chegar

a propaganda diz caminho
sono e felicidade breve
raiva se esvaindo por um fio
antes que tu te entristece

feliz cidade riu
passou no riso a tarde
foi embora e ninguém viu

olha só o que acontece
olhos presos no anil
felicidade leve

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

meio desligado

quando vem o desencontro o pensamento sai de orbita
me volta pra terra que eu quero descer
eu quero nascer, crescer e multiplicar
e entender que pra mim qualquer coisa já não satisfaz

vem dirigir o meu tato, me levar os olhos
me salvar a mão, te lavar a alma
vem me aprender de tanto me errar

vem sem arrempender, sem te prender
mas sem te querer eu não durmo mais

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

(os passos que eu não dei) quem precisa do brasil

quando não estou escrevendo, me sinto no marasmo total. mesmo com o dia cheio de trabalho, faculdade, comida e pessoas, é como se estivesse parado vendo a cidade em horário de pico, e eu ali, me perguntando de onde vem tanta gente, com meu cabelo mal penteado, a barba por fazer e um cigarro queimando torto na boca - assim, bem clichê. Porque é assim que eu me sinto sem escrever. Um clichê, um esboço, em engodo.

entediado e blasfemando 'que saco', desço a via com os olhos vermelhos e a cabeça a mil. ouço noticias de amigos distantes que me confortam. vejo rostos amigos que me distraem. ouço todo som que essa cidade produz, mas já não ouço de um ouvido mais. tudo me soa esperança, inclusive minha vontade de escrever o amor. eu não sei o quão conturbado pode ser, mas o que teria sido de mim se tivesse ouvido a zoé? ou qualquer canção que me levasse a chorar. ouço noticias sobre meu país que me sufocam mais do que a garganta seca em dia de verão. ouço meu pai revoltado em casa querendo matar ministro a tamancadas. não é que já é verão. a sociedade civil ocupa o que é de todos, e as crianças choram no ouvido de ninguém.

esse tempo todo passei juntando retalho de brigas passadas, batendo a cabeça na mesa, tropeçando em estranhos na rua, sofrendo um pouco sem querer, vendo meu time perder. gritar é pra quem tem voz, eu sou só um desafinado qualquer. canto samba tímido no quarto e para poucos e bons amigos. mas o que eu quero te dizer, é que a coisa aqui ta preta. esse vai ser um texto inacabado, pois meu mundo nunca vai caber nesse mundo que vocês conhecem. somente meus abraços, apertos de mão, beijos, olhares e minhas duvidas vão me expressar.

percebe? é tanta coisa pra viver que sobra pouco. me sobram socos que eu queria dar. me faltam pés pra chegar em qualquer lugar. eu penso sempre em sair daqui, mas olho o horizonte de qualquer esquina, e essa vista me prende mais do que ancora no cais. a partir daqui conto o que eu não vivi, porque assim como escolhi sorrir, um dia eu escolhi ficar.