terça-feira, 13 de novembro de 2012

manifesto pela liberdade

Acordo todo dia as seis em ponto. Jogo a água fria no rosto, o café forte na garganta e visto a roupa ainda sonolento, quase a mesma roupa de todos os dias. Saio no vento frio e espero a condução que segue meia cidade em caos, com pessoas correndo e cuspindo fumaça. Vou em pé olhando sem vontade as poucas arvores em tanto quando falsas. Chego ao meu destino e forço um sorriso pro porteiro, pra secretária e pro estagiário. Sento na minha cadeira, tomo posse da minha mesa – que não é bem minha - alguém comprou e me deixou sentar ali. O dia passa arrastado, levanto e tomo um ar puro, estico as pernas com um café e um cigarro, indicação do medico – que também disse para eu parar com o café e com o cigarro, mas cada coisa de uma vez. Volto pra cadeira que não é muito minha, nem de ninguém.
Vem a hora do almoço e reviro a mesma comida do mesmo restaurante há um bom tempo. Peço peixe mesmo sem gostar de peixe, porque disseram que faz bem e pra eu sentir um gosto diferente na boca, mudar alguma coisa na minha vida. Depois finjo me interessar pelas manchetes dos jornais expostos na banca, e até arrisco subir a sobrancelha com a noticia de uma melhora na economia do país, enquanto fumo outro cigarro sem perceber. E sem perceber já é hora de voltar e quando eu volto, a minha cadeira que já sinto ser um pouco minha está lá, olhando pra mim como se sentisse minha falta, pronta pra arrastar o resto do dia comigo.
Como se fosse outro mês a hora de ir embora chega e tomo o caminho de volta pra minha casa que nem é tanto minha, meu pai deixou pra mim. Passo antes no supermercado pra comprar cerveja e alguma bobagem pouco nutritiva para comer. E quase as mesmas pessoas que eu vi correndo o dia inteiro estão lá, correndo outra vez. Elas parecem ser quase sempre iguais, com as mesmas caras de perdidas comentando a vida de personagens de novela como se fossem as suas, reproduzindo idéias de livros de auto-ajuda como se soubessem quem são. Pago no cartão de debito pois me esqueci de sacar dinheiro. Eu queria estar de chinelos e mais a vontade em mim.
Enfim chegando em casa, recebido por ninguém, abro uma cerveja, bolo um baseado, ouço a Janis gritando no ultimo volume e me deixo esquecer. Assisto um desenho animado que me faz falta de uma porção de coisas e no intervalo, uma propaganda de um pacote turístico para 15 dias para Santa Clara, no Peru. Eu poderia citar mil e um fatores desse dia, incluindo a erva, para que eu arrumasse as minhas malas e partisse, mas não sei nenhum no momento. Anexo a esse manifesto de mim para mim mesmo, deixo uma procuração passando todos os meus bens á minha psiquiatra Luiza Maria Machado que me orientou a escrever sobre meu dia e encontrar o motivo do meu problema para dormir. O problema era eu mesmo e a vida que eu escolhi viver. Problema essa que estou concertando agora.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

afobação

para ler ouvindo: chico buarque - sem você 2

quando procuro um nome na agenda do meu celular com suas iniciais e não vejo seu nome no topo, sinto como se tivesse que lembrar alguma coisa impossível de esquecer, mas eu não lembro. da um branco na cabeça e no coração, e uma pontada de ansiedade na boca do estomago. tento escrever alguma coisa quando vejo uma garota com o mesmo penteado que o seu, que me lembra alguém que não está na minha memória, nem nas minhas fotos mais recentes. entre amigos, quando alguém conta um caso parecido com o que vivemos e eu tento contar a nossa história eu me perco no meio porque não me lembro o final, porque não sei se o começo e o meio realmente aconteceram ou estou apenas inventando pra fingir experiência. mas se parecem com recordações ou algo assim. esses dias até achei um quadro que não me lembro de ter comprado, se quer faço ideia de onde veio. percebe o que esta acontecendo? lembrar e esquecer já se tornou tão banal que mal vejo a diferença entre os dois. nem ao menos sei pra quem estou escrevendo isso tudo. se eu lembrar te conto com calma em uma outra temporada qualquer.

sábado, 13 de outubro de 2012

das palavras que eu mais gosto

de todos os sentidos do corpo humano
os que eu mais gosto de sentir é o que eu sinto com os pés
os pés na parede fria, no chão gelado,
no asfalto quente. na terra fofa,
na areira seca, no mar incerto.
o chute na bola, a força no pedal,
o impulso pra correr, o salto mortal.

falo como se eu não gostasse dos dedos,
dos cachos do cabelo,
do bico do seio,
das cordas de violão,
dos anseios.

tem meus olhos que já não enxergam tão bem
mas ainda vejo sorridente
o mar transparente
o céu azul
a serra verde
o meu amor que reluz

vez ou outra meu nariz coça
não sinto o cheiro de nada
mas o perfume da moça
o suor do trabalho
a bonina nascendo
e o café fresquinho
eu sinto o cheiro de cor

mordo a língua pra falar de receio
quando sinto em outra língua que o amor já veio
eu falo de menos e sinto o recheio do doce ao amargo
que a vida me traz

das palavras que eu mais gosto
na vida com certeza á vida que me satisfaz
não falo das (palavras) que eu menos gosto
pois neste momento de vida que passa poesia
palavras que não traduzem minha alegria
eu não quero ouvir falar mais

domingo, 7 de outubro de 2012

redemoinho (ou porque eu fui embora)

ouça: vanguart - das lagrimas

eu poderia usar qualquer desculpa esfarrapada pra você não me odiar, e tentar te explicar porque eu não estava do seu lado quando acordou. seria bem mais fácil porque a verdade é difícil e complicada, tão absurda que não consigo acha-la, quanto mais escrever e explicar para que você não se sinta mal lendo isso. então saiba que tudo que você ler daqui pra frente é pura mentira pra te confortar e me ausentar da culpa pelo seus próximos dias ruins. eu vou me sentir melhor assim, e se você acreditar também será melhor pra você e todo mundo sai menos triste, porque a última verdade que escrevo aqui é que eu não vou estar completamente feliz sem você do meu lado.
então por onde começo? ah, justamente por essa parte, a parte que você de alguma maneira me fez precisar de você pra sorrir com força a ponto de machucar meu maxilar e me deixar vendida e de joelhos. de onde você tirou essa ideia de me fazer te amar? eu não nasci pra isso, quanto mais pra saber lidar com essa vontade de não ir embora. essa fase de me acomodar até com seus defeitos em detrimento de tudo que eu sonhei para meu príncipe encantado. e você esta longe de ser meu príncipe encantado porque você se quer veste calças aos domingos. você me vê nervosa da mesa de jantar e vem com esse papo de senta aqui e se aconchega.
você é o único que consegue me parar.
foi a primeira vez que eu dormi até as duas da tarde e não vi o dia passar. acho que o mundo sente falta de mim. eu vou sentir falta de você e dos seus planos absurdos que pareciam até fazer sentido quando você me contava com a empolgação de uma criança na mesa do bar. e o tempo todo eu só queria entender seu tempo e a maneira como você me faz feliz sem perceber. em algum lugar lá fora eu vou parar e perceber a grande burrada que eu fiz a qualquer momento, então eu vou rezar todos os dias para que você ainda seja meu em alguma parte da sua vida, assim como eu fui sua e nunca consegui dizer. meus olhos sempre disseram por mim e como eu desejo que você tenha ouvido quando eu gritei naquele silêncio que só você sabe fazer antes me beijar e tirar a minha roupa.
pode parecer tudo bobo e sem sentido agora mas quando você olhar pra fora da sua janela você vai entender. mas caso contrario vou estar deitada no sofá vendo tv se você precisar.

com amor, v

domingo, 30 de setembro de 2012

sorte

o batido insistente do pé no chão e as duas embalagens de cupcake em cima da mesa eram indícios de uma longa espera. a cabeça que girava em todos as direções possíveis e o dedo polegar que ensaiava o uso de um isqueiro, coisa de quem havia parado de fumar há pouco tempo mas que logo voltaria com força total, porque com certeza era uma péssima hora pra parar largar o vicio. todos os sinais eram evidências de que alguém tinha dado o bolo na garota que roubava minha atenção nos poucos minutos do meu lanche. a sorte as vezes bate no lugar errado, pois jamais faria uma garota tão bonita esperar tanto. fiquei imaginado o tipo de babaca que faria isso, ou se ela tinha um defeito muito grande mas mesmo assim pensei em me aproximar. pensei em usar o raciocínio da sorte, fazê-la rir, quebrar o gelo e me sentar à sua mesa. falar de livros, discos, filmes e um pouco desse delírio cotidiano. trocaríamos telefones e eu a chamaria para tomar algo mais forte que um café; começaríamos a namorar, noivaríamos depois da faculdade e juntaríamos grana; casaríamos. teríamos dois filhos e um jardim igual ao dos romances que escrevo no verão.
ainda era inverno. minha bebida acabara e eu tomava apenas a água do gelo derretido enquanto fitava suas pernas. quando dei por mim já era dezoito e trinta e minha aula começava. levantei apressado e olhei uma ultima vez procurando alguma coisa, e nossos olhos se esbarraram por segundos. continuei andando, minha vida não tinha tempo para o amor. e uma garota que espera tanto alguém não entenderia um sonho que não tem tempo pra acontecer. continuei sonhando até a hora de dormir. agora eu não lembro de mais nada.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

paranoia

ouça: cazuza - quase um segundo

o tempo sem ti não é um tempo qualquer
o tempo sentir não é pra qualquer um
nesse segundo eu penso fazer o que quero
no segundo seguinte já não é bem o que eu vejo
percebo que faça o que eu fizer
o que meu coração quer
ainda é o que eu desejo
ainda há você no meu peito

domingo, 9 de setembro de 2012

razão

quando eu fui mais eu e menos você
quando eu fui mais casa e menos mundo
é estranho o vento te roubando o ar
eu não percebi o fim de tudo

e foi o começo desse absurdo
que eu quis chamar de recomeço
e tentar me acostumar sem teu susurro
conseguir a paz que não tem preço

e pode me virar do avesso
eu não te devo explicação
desse sorriso que não me cabe no peito
dessa vontade de voltar a dar as mãos

de pouco a pouco abandonei o labirinto
que eu criei quando tentava te encontrar
sai as presas sem pensar em ter um rumo
de pouco a pouco nunca mais penso em voltar