sexta-feira, 27 de agosto de 2010

sobre os haicais jogados alí

as vezes eu me pego rezando pra você ligar.
as vezes você liga e eu nem atendo.
as vezes todos os meus discos só fazem lembrar você.
as vezes eu não os entendendo.
as vezes eu queria fechar os olhos e te beijar.
mas acabo que só lamento.
porque se um dia você me deixar.
não vai existir remendo,
que vá juntar de novo,
o que eu pretendo não unir.
não vai existir remendo
pra curar o sofrimento
e todo esse tormento
de você existir.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

quatro

ouve esse silêncio. durante tanto tempo foi tudo que eu sempre quis. eu tenho um quarto escuro como proteção. e imagens que eu não sei de onde vem, contando o que eu ainda não vi. e eu deixei tudo pra trás com uma facilidade tamanha. acho que chamamos isso de paz. eu acho que chamamos isso de experiência. ou cicatrizes. ou como você queira chamar. em um sábado a tarde a campainha toca. era o carteiro. sem me preocupar com a samba-canção surrada, levanto com a barba por fazer, o cabelo desgrenhado, as olheiras e a camisa velha (ou a velha camisa) com o renato russo estampado. eram as contas do mês. afinal, meu endereço elas sabem de cor. e alguém também deve saber. talvez resolva aparecer. ouve esse silêncio. houve? e o carteiro pergunta. e eu respondo:
- eu sinto muito. ela não mora mais aqui.


inc: monno - quem sabe
zander - polvora
legião urbana - acrilic on canvas

sábado, 7 de agosto de 2010

prólogo

Após longos beijos e abraços de ódio e amor, tomaram o rumo do carro dela. Ela dirigia sem olhar muito pra ele, e ele se agarrava a mochila como se houvesse algo precioso lá, e a encarava com o canto do olho.
- Então, como está São Paulo?
- Ah, o mesmo caos de sempre. Mas você deveria ir pra lá...
- Você sabe que odeio aquela cidade tanto quanto você.
- Mas ela seria menos chata se você estivesse lá...
- E sua mãe? Deveríamos aproveitar que você está de férias e visita-la...
- É, eu conversei com minha irmã. Podemos ir pra lá semana que vem...
- Eu não sei porque insisto nisso! Eu vou visitar a tua mãe enquanto você desaparece e se aproveita nos braços daquelas vagabundas de São Paulo! Que ódio
- Já ouviu aquela teoria de que todo cachorro sem dono sonha em ter um lugar pra voltar?
- Não começa...
- Sério, se você fosse comigo eu não teria porque sumir mais...
- Você sabe que não duro em São Paulo 3 dias...
- Podíamos mudar pra Santos!
- Santos?
- Sim, Santos. Conseguiríamos um apartamento fácil lá com nossos amigos. Dinheiro não é problema, e lá não é tão irritante quanto São Paulo, nem tão pequeno quanto Gramado, e fica perto da minha vida...
- Porque você faz isso comigo?
- Porque se um dia eu pensei em ter um dono, esse dono seria você.
- Mas porque isso agora?
- Porque eu cansei de fingir que você está lá pra eu ficar feliz. Daí quando eu acordo e percebo que não é você e que foi tudo uma ilusão da minha cabeça, minha vontade é pegar o primeiro avião e vir te ver. E é isso que acontece, eu desisto de ficar longe de você. Eu desisto. E queria que você desistisse também...

domingo, 1 de agosto de 2010

sem necessidade para preocupações

talvez fosse segunda-feira de manhã quando percebi isso. eu sempre percebo as coisas nos piores momentos. naquele café requentado. na tv baixinha jogando o lixo do mundo pelas antenas. no silêncio. nas crianças rindo indo pra escola. nas crianças em si. meus únicos passos certos são quando estou indo trabalhar. meus únicos horários certos são dessa rotina que eu não me lembro de ter sonhado. em toda segunda-feira de manha eu não costumo me lembrar de muita coisa. muito menos de quem eu sou. e o que me tornei. é que só me lembro quando estou nos seus braços. é que só acordo quando vejo seu sorriso. eu tento não explicar. e acho que nem quero entender. você também deveria fazer o mesmo. não que eu não goste, mas é que posso fugir entende? então me aproveita hoje. não me diga palavras bonitas. morra em meus braços, mas respire outros ares. lembre-se que hoje eu sou seu, amanha eu sou do mundo. escreva meu nome na areia e deixa o mar apagar, e leva-lo dalí. não escreva meu nome no cimento, é muito mais difícil de apagar. e dolorido também. eu só quero evitar. mas não quero evitar você. então eu ascendo um cigarro tentando te afastar, mas você já aprendeu a contemplar a fumaça brincando com a luz. então eu tento não falar, e fingir que não é comigo, mas acho que minha respiração confusa acusa minha confusão. então eu peço pra você ficar e confundir, eu peço pra você passar aqui depois das seis e me desviar de todo tédio e principio de agonia. eu só peço pra não me deixar fugir, e quem sabe talvez eu esteja cansado de ser quem eu sou. só o tempo vai curar, só o tempo vai dizer, só o tempo vai explicar, o que meu sorriso insiste em esconder e resistir.

sobre a madrugada

- me ensina a ser você?
- o que tem de mais em ser eu?
- eu não sei. só sei que queria causar em você o que você causa em mim.
- mas eu não me apaixonaria por mim...
- agora é tarde...