para ler ouvindo: mahmundi quase sempre
suponhamos que fosse um tempo diferente, e eu não pensasse na palavra saudade no minimo dez vezes ao dia, e não tivesse que dize-la no minimo três. talvez eu nem sentisse de verdade mesmo. foi quando ela perguntou - saudade de quê - e eu disse - de tudo - de tudo o quê - mas é só quando os dias são chatos e a movimentação á minha volta não é o suficiente pra me distrair, então eu me distraio na unica coisa que me faz falta na vida. é assim, sempre distraído que eu nem sei de tudo da unica coisa que que me faz falta. só sei que digo. só sei que sinto. de vez em quando eu paro, vivo, e me repito aqui e todos os dias da minha rotina, até mesmo na rotina de sair da rotina. e ela perguntou - até hoje - e eu disse - só os dias que eu acordo. os que eu não acordo eu sonho. por mim da tudo na mesma. se fosse um tempo diferente eu daria de ombros e perguntaria - quem - mas é o mesmo tempo e o mesmo dia que eu me lembro nos outros dias, mesmo com o passar do ano passado e os temporais e o calor e o frio e a ventania que derrubou arvores na estrada. não é como se eu escolhesse o calendário em que eu vivo. mas cada vez que eu arranco uma folha esse dia parece chegar ao final. minha esperança se encontra em cada dia que eu não sei qual é. meu tempo passa a cada dia que eu não sei quem sou.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
casa nova II
sabe-se lá se eu consigo
procuro abrigo, de tempo em tempo
eu sou o tempo que sobra entre
o que eu consigo deixar pra trás
enquanto eu corro pra valer
entre os meus vicios mais antigos
caminho entre os vivos
querendo viver
se já for tarde, pra tanto alarde
o que me sobra? cantei até explodir
não pode ser tão tarde, pra minha parte
casa nova é ter você morando aqui
procuro abrigo, de tempo em tempo
eu sou o tempo que sobra entre
o que eu consigo deixar pra trás
enquanto eu corro pra valer
entre os meus vicios mais antigos
caminho entre os vivos
querendo viver
se já for tarde, pra tanto alarde
o que me sobra? cantei até explodir
não pode ser tão tarde, pra minha parte
casa nova é ter você morando aqui
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
balanço I
desde pequeno, todo esse drama ao meu redor nunca fez muito sentido pra mim. mesmo quando meus pais se separaram, eu realmente não queria saber o motivo, eu estava bem. mas minha mãe insistia em me levar ao psicologo as quintas feiras como se eu tivesse algum problema. no começo foi divertido toda a atenção e as brincadeiras mas depois eu me cansei e não queria mais, mas não me deixaram parar de ir. até o dia em que fiquei parado na sala de espera sozinho olhando pro teto até decidir ir embora pra nunca mais voltar.
eu realmente não me importava.
eu não gostava do meu pai na época, sempre tão rígido com suas regras e lições. ele só ficava legal quando bebia, mesmo assim correndo o risco de haver uma briga com minha mãe por motivos que eu sempre desconhecia. ele bebia bastante nos finais de semana e aos domingos pela manhã tocava caetano pra mim e tentava me ensinar a tocar. eu não queria aprender, eu não sei se era a pouca idade ou o fato de eu não me sentir bem perto dele.
eu só queria correr.
ele só queria seu violão, sua pinga, um filho pra ensinar as coisas da vida. contar histórias e falar sobre os anos 70 e 80 e namorar no final da tarde no sofá de baixo das cobertas, mas não era assim. a resposta do mundo era cobrança. eram as contas pra pagar era a mulher pedindo dinheiro e a mãe que não queria o filho que ele não queria ser. queria cantar as coisas bonitas da américa mas parecia que a américa só queria reclamar. ele só queria alguém que o ouvisse de verdade e parasse de contar as horas pra tudo. mas ele tinha um filho pra criar. ele era um filho pra ser. um marido pra tentar
ele só queria correr.
o mundo desmoronou pra família. sem emprego, com cobrança, sem amor, com aliança. eu brincava com os meus bonecos com os ouvidos atentos a tudo que acontecia na casa, e olhava pela janela esperando meu aniversário chegar, pra ter a sensação que esta tudo bem de novo. eu tinha uma irmã agora, tudo tinha que ficar bem de novo. era estranho aquele silêncio no jantar. o medo aumentava e os gritos também.
ele saía do elevador quando outra pessoa entrava pra não ter que conversar
eu fui alheio a guerra. não me lembro quando mas fui morar com minha avó. eu aprendi a andar de ônibus e nunca mais veria meus amigos de infância. meu primeiro beijo, meu primeiro time, meu primeiro gol, meu primeiro videogame, minha primeira vida. o futebol na rua e o pique-esconde quando a luz acabava. o final da rua que dava em um corrêgo e a linha do trem. o escolar que sempre me trazia no mesmo horário, todos os dias. mesmo quando estava doente e não ia a aula eu aparecia na esquina pra acenar para o senhor que eu não me lembro o nome mas que o rosto não me sai da memoria.
rua saldanha da gama, 256, belo horizonte, brasil
havia um telefone antigo no canto da sala, daqueles que você tem que girar a tecla pra baixo pra discar. era verde claro e estava sempre brilhando. eu fui obrigado a crescer e deixar ele pra trás. eu fui sendo levado e ninguém que me levou sabe pelo que ou porque. eu simplesmente estava subindo a rua com a mochila nas costas. a minha mãe chorava enquanto eu visitava meu pai nos finais de semana em um bairro próximo de onde eu tinha saído.
não lembro de nenhuma explicação. não lembro de querer uma explicação.
todos os dias eu andava por cerca de meia hora para levar minha irmã ao colégio infantil. era 12:40 da tarde. as vezes o sol era tão forte que atravessa a rua entre os carros para chegar logo na sombra. o sol queimava minha cabeça, não me deixava pensar. arrastava minha irmã como um fardo que eu era obrigado a carregar. as vezes não trocávamos uma palavra. na minha cabeça eu criava uma história de super-heróis baseadas nas revistas que eu não parava de ler, não era pra fugir, eu não estava infeliz, mas eu só queria estar brincando com as outras crianças, que já não eram mais tão crianças assim. e eu ainda sonhava. o resto do mundo parecia que não. eu não me encontrava ali. nem em lugar nenhum.
eu realmente não me importava.
eu não gostava do meu pai na época, sempre tão rígido com suas regras e lições. ele só ficava legal quando bebia, mesmo assim correndo o risco de haver uma briga com minha mãe por motivos que eu sempre desconhecia. ele bebia bastante nos finais de semana e aos domingos pela manhã tocava caetano pra mim e tentava me ensinar a tocar. eu não queria aprender, eu não sei se era a pouca idade ou o fato de eu não me sentir bem perto dele.
eu só queria correr.
ele só queria seu violão, sua pinga, um filho pra ensinar as coisas da vida. contar histórias e falar sobre os anos 70 e 80 e namorar no final da tarde no sofá de baixo das cobertas, mas não era assim. a resposta do mundo era cobrança. eram as contas pra pagar era a mulher pedindo dinheiro e a mãe que não queria o filho que ele não queria ser. queria cantar as coisas bonitas da américa mas parecia que a américa só queria reclamar. ele só queria alguém que o ouvisse de verdade e parasse de contar as horas pra tudo. mas ele tinha um filho pra criar. ele era um filho pra ser. um marido pra tentar
ele só queria correr.
o mundo desmoronou pra família. sem emprego, com cobrança, sem amor, com aliança. eu brincava com os meus bonecos com os ouvidos atentos a tudo que acontecia na casa, e olhava pela janela esperando meu aniversário chegar, pra ter a sensação que esta tudo bem de novo. eu tinha uma irmã agora, tudo tinha que ficar bem de novo. era estranho aquele silêncio no jantar. o medo aumentava e os gritos também.
ele saía do elevador quando outra pessoa entrava pra não ter que conversar
eu fui alheio a guerra. não me lembro quando mas fui morar com minha avó. eu aprendi a andar de ônibus e nunca mais veria meus amigos de infância. meu primeiro beijo, meu primeiro time, meu primeiro gol, meu primeiro videogame, minha primeira vida. o futebol na rua e o pique-esconde quando a luz acabava. o final da rua que dava em um corrêgo e a linha do trem. o escolar que sempre me trazia no mesmo horário, todos os dias. mesmo quando estava doente e não ia a aula eu aparecia na esquina pra acenar para o senhor que eu não me lembro o nome mas que o rosto não me sai da memoria.
rua saldanha da gama, 256, belo horizonte, brasil
havia um telefone antigo no canto da sala, daqueles que você tem que girar a tecla pra baixo pra discar. era verde claro e estava sempre brilhando. eu fui obrigado a crescer e deixar ele pra trás. eu fui sendo levado e ninguém que me levou sabe pelo que ou porque. eu simplesmente estava subindo a rua com a mochila nas costas. a minha mãe chorava enquanto eu visitava meu pai nos finais de semana em um bairro próximo de onde eu tinha saído.
não lembro de nenhuma explicação. não lembro de querer uma explicação.
todos os dias eu andava por cerca de meia hora para levar minha irmã ao colégio infantil. era 12:40 da tarde. as vezes o sol era tão forte que atravessa a rua entre os carros para chegar logo na sombra. o sol queimava minha cabeça, não me deixava pensar. arrastava minha irmã como um fardo que eu era obrigado a carregar. as vezes não trocávamos uma palavra. na minha cabeça eu criava uma história de super-heróis baseadas nas revistas que eu não parava de ler, não era pra fugir, eu não estava infeliz, mas eu só queria estar brincando com as outras crianças, que já não eram mais tão crianças assim. e eu ainda sonhava. o resto do mundo parecia que não. eu não me encontrava ali. nem em lugar nenhum.
domingo, 2 de dezembro de 2012
carrossel
eu ganho a rua e perco o senso
de direção até a rua vinte e três
me perco sempre entre a esquina e a farmacia
eu ganho sempre algo que o mundo sabe
e eu não sei
cambaleando eu chego sempre antes das cinco
pois de inteiro eu já não chego aonde eu sei
eu ganho senso e perco a rua a contragosto
sem pressa eu chego em quase tudo que eu sonhei
pra reforçar eu perco tempo e me repito
eu já não piso mais na rua vinte e três
sem graça, eu perco a cena e me demito
de pingo em pingo eu vejo tudo que eu mudei
em vai e vem clichê o tempo segue
alheio a tudo em linhas tortas de pileque
em vai e vem me deixa tonto e me esquece
o tonto segue e sem vencer desaparece
e sem direção vai pela rua vinte e três
de direção até a rua vinte e três
me perco sempre entre a esquina e a farmacia
eu ganho sempre algo que o mundo sabe
e eu não sei
cambaleando eu chego sempre antes das cinco
pois de inteiro eu já não chego aonde eu sei
eu ganho senso e perco a rua a contragosto
sem pressa eu chego em quase tudo que eu sonhei
pra reforçar eu perco tempo e me repito
eu já não piso mais na rua vinte e três
sem graça, eu perco a cena e me demito
de pingo em pingo eu vejo tudo que eu mudei
em vai e vem clichê o tempo segue
alheio a tudo em linhas tortas de pileque
em vai e vem me deixa tonto e me esquece
o tonto segue e sem vencer desaparece
e sem direção vai pela rua vinte e três
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