e sinceramente não sei como vim parar aqui. foi um pesadelo eu disse pra mim mesmo, mas a janela da sala estava quebrada por um granizo que esperava pacientemente no chão pelo seu fim. me sentei largado no sofá me julgando tão sem reação quanto aquele pedaço de gelo que se formou na natureza com o intuito de me foder. mas em algum lugar estava minha capacidade de me reinventar. eu só precisava procurar.
procurei pelo quarto, nas roupas, nos discos, embaixo da cama, na poeira de semanas. no corredor, na luz acessa, nas drogas, na sala, na televisão, na fé. no banheiro, no canto no chuveiro, lavando o rosto encarando o espelho, no meu cabelo. na cozinha, na comida, no sexo. cada hora eu era um, todo minuto eu tinha medo.
e engolindo seco eu desci minha rua, procurando nas placas, nos postes, nos fios de alta tensão, com o nariz empinado mirando o céu. procurei no meio fio, nos bueiros e seguindo os ratos, mirando o chão. ambos doeram de maneira diferente.
então segui em frente e entrei no ônibus. eu era o esquisito que escrevia nervoso em um caderno velho, com uma letra garrancho. e que vez ou outra olhava pelo vidro sujo a sujeira da rua em pane. em conflito fundo. sem ler os letreiros que identificavam onde eu estava e as marcas das lojas que identificavam quem eu sou.
desci no centro da cidade, bem no coração onde as pessoas passam e a mantém viva, pulsando, cinza, alegre, com a veia entupida de carros e gente querendo morrer. eu queria renascer ali, mas tudo já parecia inventado de alguma maneira. mas e o artista que pinta no meio da calçada velha? e o poeta que faz musica com seu jazz no meio do caos? as buzinas e as crianças chorando entram na dança do meu sofrimento cotidiano e contemporâneo de herança moderna provocado pela bossa nova.
certa noite acordei e parei em uma praça pra escrever, enquanto todos planejavam comprar um carro e aposentar mais cedo, eu queria dormir até mais tarde e não ser tão louco assim. me distraí no que estava procurando. nem todo texto tem que ter um fim.
quinta-feira, 26 de junho de 2014
segunda-feira, 12 de maio de 2014
eu vou voltar a falar de amor
nossos corpos se entrelaçam
em encaixe perfeito
nossos olhos se encaram
como se um do outro fossem feito
quando a vida corre mais do que meus pés
e os dias ficam cheios e vazios de você
não há nada que me prenda a esse inferno
eu queria aprender a não correr
e te manter por mais um tempo na coberta
e desligar os telefones e as tevês
cantar ao mundo o que ninguém mais pode ver
posso ser um míope quase cego
segurando minhas lembranças num balão
desafinado eu te entrego minha canção
em encaixe perfeito
nossos olhos se encaram
como se um do outro fossem feito
quando a vida corre mais do que meus pés
e os dias ficam cheios e vazios de você
não há nada que me prenda a esse inferno
eu queria aprender a não correr
e te manter por mais um tempo na coberta
e desligar os telefones e as tevês
cantar ao mundo o que ninguém mais pode ver
posso ser um míope quase cego
segurando minhas lembranças num balão
desafinado eu te entrego minha canção
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
desastre natural
a vida me deixou amargo, como o limão que eu tomei.
sem açucar, sem afeto, com amor tudo é mais caro
ganhar, perder, sorrir, chorar
chegar mais perto, ir mais longe.
a vida me deixou calado, como cinema mudo
tentei explicar o barulho, mas ninguém me ouviu.
como reação em fiquei surdo
sem perceber, tanto pra dentro como pra fora
como um fanático politico
como alguém que vende seu tempo
eu perdi o meu barato
atravessando vias, tentando conter meu corpo em chamas
espalhei minha alma na atmosfera tentando abraçar o mundo de uma vez
e viver como quem puxa o gatilho
quero ter um filho com o nome do meu avó
e o sorriso do meu pai
e a força da mãe, que vai suportar o tanto que carrego do meu pequeno universo
constituído de tudo que vivo como se vivesse todos os sonhos de uma vez
nos três somos o cosmo inteiro dessa vez
vamos brincar amanhã quando parar de chover
sem açucar, sem afeto, com amor tudo é mais caro
ganhar, perder, sorrir, chorar
chegar mais perto, ir mais longe.
a vida me deixou calado, como cinema mudo
tentei explicar o barulho, mas ninguém me ouviu.
como reação em fiquei surdo
sem perceber, tanto pra dentro como pra fora
como um fanático politico
como alguém que vende seu tempo
eu perdi o meu barato
atravessando vias, tentando conter meu corpo em chamas
espalhei minha alma na atmosfera tentando abraçar o mundo de uma vez
e viver como quem puxa o gatilho
quero ter um filho com o nome do meu avó
e o sorriso do meu pai
e a força da mãe, que vai suportar o tanto que carrego do meu pequeno universo
constituído de tudo que vivo como se vivesse todos os sonhos de uma vez
nos três somos o cosmo inteiro dessa vez
vamos brincar amanhã quando parar de chover
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
estiagem
é tudo indeciso, tudo dividido
plano mal acabado, chuva de granizo
quebrou meu teto de vidro, invadiu meus olhos de cera
inundou meu peito de luz e mais
quando tudo escorreu pelas mãos
inclusive o tempo e o martírio
só me sobrou a perdição
do que eu fui, do que eu sou
do que não me lembro de ter sido
ácido derrete na língua
como perfura um prego no dedo
dor de alma não tem mertiolate
azul é a cor do meu desespero
que não cessa com a fumaça do beck
nem com o passar de um ano inteiro
só vai cicatrizando o sorriso
e a carcaça de um velho sem jeito
plano mal acabado, chuva de granizo
quebrou meu teto de vidro, invadiu meus olhos de cera
inundou meu peito de luz e mais
quando tudo escorreu pelas mãos
inclusive o tempo e o martírio
só me sobrou a perdição
do que eu fui, do que eu sou
do que não me lembro de ter sido
ácido derrete na língua
como perfura um prego no dedo
dor de alma não tem mertiolate
azul é a cor do meu desespero
que não cessa com a fumaça do beck
nem com o passar de um ano inteiro
só vai cicatrizando o sorriso
e a carcaça de um velho sem jeito
domingo, 26 de janeiro de 2014
felicidade (contra-poema a gabriel cunha)
felicidade fere
até chegar lá
vai e volta feito febre
sem quando vai chegar
a propaganda diz caminho
sono e felicidade breve
raiva se esvaindo por um fio
antes que tu te entristece
feliz cidade riu
passou no riso a tarde
foi embora e ninguém viu
olha só o que acontece
olhos presos no anil
felicidade leve
até chegar lá
vai e volta feito febre
sem quando vai chegar
a propaganda diz caminho
sono e felicidade breve
raiva se esvaindo por um fio
antes que tu te entristece
feliz cidade riu
passou no riso a tarde
foi embora e ninguém viu
olha só o que acontece
olhos presos no anil
felicidade leve
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
meio desligado
quando vem o desencontro o pensamento sai de orbita
me volta pra terra que eu quero descer
eu quero nascer, crescer e multiplicar
e entender que pra mim qualquer coisa já não satisfaz
vem dirigir o meu tato, me levar os olhos
me salvar a mão, te lavar a alma
vem me aprender de tanto me errar
vem sem arrempender, sem te prender
mas sem te querer eu não durmo mais
me volta pra terra que eu quero descer
eu quero nascer, crescer e multiplicar
e entender que pra mim qualquer coisa já não satisfaz
vem dirigir o meu tato, me levar os olhos
me salvar a mão, te lavar a alma
vem me aprender de tanto me errar
vem sem arrempender, sem te prender
mas sem te querer eu não durmo mais
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
(os passos que eu não dei) quem precisa do brasil
quando não estou escrevendo, me sinto no marasmo total. mesmo com o dia cheio de trabalho, faculdade, comida e pessoas, é como se estivesse parado vendo a cidade em horário de pico, e eu ali, me perguntando de onde vem tanta gente, com meu cabelo mal penteado, a barba por fazer e um cigarro queimando torto na boca - assim, bem clichê. Porque é assim que eu me sinto sem escrever. Um clichê, um esboço, em engodo.
entediado e blasfemando 'que saco', desço a via com os olhos vermelhos e a cabeça a mil. ouço noticias de amigos distantes que me confortam. vejo rostos amigos que me distraem. ouço todo som que essa cidade produz, mas já não ouço de um ouvido mais. tudo me soa esperança, inclusive minha vontade de escrever o amor. eu não sei o quão conturbado pode ser, mas o que teria sido de mim se tivesse ouvido a zoé? ou qualquer canção que me levasse a chorar. ouço noticias sobre meu país que me sufocam mais do que a garganta seca em dia de verão. ouço meu pai revoltado em casa querendo matar ministro a tamancadas. não é que já é verão. a sociedade civil ocupa o que é de todos, e as crianças choram no ouvido de ninguém.
esse tempo todo passei juntando retalho de brigas passadas, batendo a cabeça na mesa, tropeçando em estranhos na rua, sofrendo um pouco sem querer, vendo meu time perder. gritar é pra quem tem voz, eu sou só um desafinado qualquer. canto samba tímido no quarto e para poucos e bons amigos. mas o que eu quero te dizer, é que a coisa aqui ta preta. esse vai ser um texto inacabado, pois meu mundo nunca vai caber nesse mundo que vocês conhecem. somente meus abraços, apertos de mão, beijos, olhares e minhas duvidas vão me expressar.
percebe? é tanta coisa pra viver que sobra pouco. me sobram socos que eu queria dar. me faltam pés pra chegar em qualquer lugar. eu penso sempre em sair daqui, mas olho o horizonte de qualquer esquina, e essa vista me prende mais do que ancora no cais. a partir daqui conto o que eu não vivi, porque assim como escolhi sorrir, um dia eu escolhi ficar.
entediado e blasfemando 'que saco', desço a via com os olhos vermelhos e a cabeça a mil. ouço noticias de amigos distantes que me confortam. vejo rostos amigos que me distraem. ouço todo som que essa cidade produz, mas já não ouço de um ouvido mais. tudo me soa esperança, inclusive minha vontade de escrever o amor. eu não sei o quão conturbado pode ser, mas o que teria sido de mim se tivesse ouvido a zoé? ou qualquer canção que me levasse a chorar. ouço noticias sobre meu país que me sufocam mais do que a garganta seca em dia de verão. ouço meu pai revoltado em casa querendo matar ministro a tamancadas. não é que já é verão. a sociedade civil ocupa o que é de todos, e as crianças choram no ouvido de ninguém.
esse tempo todo passei juntando retalho de brigas passadas, batendo a cabeça na mesa, tropeçando em estranhos na rua, sofrendo um pouco sem querer, vendo meu time perder. gritar é pra quem tem voz, eu sou só um desafinado qualquer. canto samba tímido no quarto e para poucos e bons amigos. mas o que eu quero te dizer, é que a coisa aqui ta preta. esse vai ser um texto inacabado, pois meu mundo nunca vai caber nesse mundo que vocês conhecem. somente meus abraços, apertos de mão, beijos, olhares e minhas duvidas vão me expressar.
percebe? é tanta coisa pra viver que sobra pouco. me sobram socos que eu queria dar. me faltam pés pra chegar em qualquer lugar. eu penso sempre em sair daqui, mas olho o horizonte de qualquer esquina, e essa vista me prende mais do que ancora no cais. a partir daqui conto o que eu não vivi, porque assim como escolhi sorrir, um dia eu escolhi ficar.
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