terça-feira, 22 de julho de 2014

fomidão

esse sono
consome meu corpo
me joga pra baixo
feito peso morto

essa fome
atrapalha meu nome
me deixa pensando
feito padre infame

essa rua
continua na lua
me deixa suspenso
feito pingo de chuva

esse sonho
dorme acordado
não abre meu olho
mas me aquece o sangue

esse frio
me treme o corpo
me mantém vivo
em busca de sol

esse sorriso
me torna amigo
do que eu preciso
eu vivo em mol

esse poema
precisa de metrica
as vezes não rima
com o que eu faço da vida

esse fim
que não chega nunca
as vezes machuca
mas eu prefiro assim

esse você
que lê o que eu digo
espero sorrindo
que esteja feliz

quinta-feira, 26 de junho de 2014

certa noite acordei de sonhos intranquilos

e sinceramente não sei como vim parar aqui. foi um pesadelo eu disse pra mim mesmo, mas a janela da sala estava quebrada por um granizo que esperava pacientemente no chão pelo seu fim. me sentei largado no sofá me julgando tão sem reação quanto aquele pedaço de gelo que se formou na natureza com o intuito de me foder. mas em algum lugar estava minha capacidade de me reinventar. eu só precisava procurar.

procurei pelo quarto, nas roupas, nos discos, embaixo da cama, na poeira de semanas. no corredor, na luz acessa, nas drogas, na sala, na televisão, na fé. no banheiro, no canto no chuveiro, lavando o rosto encarando o espelho, no meu cabelo. na cozinha, na comida, no sexo. cada hora eu era um, todo minuto eu tinha medo.

e engolindo seco eu desci minha rua, procurando nas placas, nos postes, nos fios de alta tensão, com o nariz empinado mirando o céu. procurei no meio fio, nos bueiros e seguindo os ratos, mirando o chão. ambos doeram de maneira diferente.

então segui em frente e entrei no ônibus. eu era o esquisito que escrevia nervoso em um caderno velho, com uma letra garrancho. e que vez ou outra olhava pelo vidro sujo a sujeira da rua em pane. em conflito fundo. sem ler os letreiros que identificavam onde eu estava e as marcas das lojas que identificavam quem eu sou.

desci no centro da cidade, bem no coração onde as pessoas passam e a mantém viva, pulsando, cinza, alegre, com a veia entupida de carros e gente querendo morrer. eu queria renascer ali, mas tudo já parecia inventado de alguma maneira. mas e o artista que pinta no meio da calçada velha? e o poeta que faz musica com seu jazz no meio do caos? as buzinas e as crianças chorando entram na dança do meu sofrimento cotidiano e contemporâneo de herança moderna provocado pela bossa nova.

certa noite acordei e parei em uma praça pra escrever, enquanto todos planejavam comprar um carro e aposentar mais cedo, eu queria dormir até mais tarde e não ser tão louco assim. me distraí no que estava procurando. nem todo texto tem que ter um fim.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

eu vou voltar a falar de amor

nossos corpos se entrelaçam
em encaixe perfeito
nossos olhos se encaram
como se um do outro fossem feito

quando a vida corre mais do que meus pés
e os dias ficam cheios e vazios de você
não há nada que me prenda a esse inferno
eu queria aprender a não correr

e te manter por mais um tempo na coberta
e desligar os telefones e as tevês
cantar ao mundo o que ninguém mais pode ver

posso ser um míope quase cego
segurando minhas lembranças num balão
desafinado eu te entrego minha canção

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

desastre natural

a vida me deixou amargo, como o limão que eu tomei.
sem açucar, sem afeto, com amor tudo é mais caro
ganhar, perder, sorrir, chorar
chegar mais perto, ir mais longe.

a vida me deixou calado, como cinema mudo
tentei explicar o barulho, mas ninguém me ouviu.
como reação em fiquei surdo
sem perceber, tanto pra dentro como pra fora

como um fanático politico
como alguém que vende seu tempo
eu perdi o meu barato
atravessando vias, tentando conter meu corpo em chamas

espalhei minha alma na atmosfera tentando abraçar o mundo de uma vez
e viver como quem puxa o gatilho
quero ter um filho com o nome do meu avó
e o sorriso do meu pai

e a força da mãe, que vai suportar o tanto que carrego do meu pequeno universo
constituído de tudo que vivo como se vivesse todos os sonhos de uma vez
nos três somos o cosmo inteiro dessa vez
vamos brincar amanhã quando parar de chover

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

estiagem

é tudo indeciso, tudo dividido
plano mal acabado, chuva de granizo
quebrou meu teto de vidro, invadiu meus olhos de cera
inundou meu peito de luz e mais

quando tudo escorreu pelas mãos
inclusive o tempo e o martírio
só me sobrou a perdição
do que eu fui, do que eu sou
do que não me lembro de ter sido

ácido derrete na língua
como perfura um prego no dedo
dor de alma não tem mertiolate
azul é a cor do meu desespero

que não cessa com a fumaça do beck
nem com o passar de um ano inteiro
só vai cicatrizando o sorriso
e a carcaça de um velho sem jeito

domingo, 26 de janeiro de 2014

felicidade (contra-poema a gabriel cunha)

felicidade fere
até chegar lá
vai e volta feito febre
sem quando vai chegar

a propaganda diz caminho
sono e felicidade breve
raiva se esvaindo por um fio
antes que tu te entristece

feliz cidade riu
passou no riso a tarde
foi embora e ninguém viu

olha só o que acontece
olhos presos no anil
felicidade leve

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

meio desligado

quando vem o desencontro o pensamento sai de orbita
me volta pra terra que eu quero descer
eu quero nascer, crescer e multiplicar
e entender que pra mim qualquer coisa já não satisfaz

vem dirigir o meu tato, me levar os olhos
me salvar a mão, te lavar a alma
vem me aprender de tanto me errar

vem sem arrempender, sem te prender
mas sem te querer eu não durmo mais