terça-feira, 30 de novembro de 2010

sobre nostalgias

e ela disse: "eu te amo pra sempre ou procure algo melhor". os dias aqui passam devagar. Olha esse céu azul. ele parece tão infinito. talvez seja. ah, mas porque somos tão jovens? sente essa liberdade. eu me sinto tão livre que poderia morrer se quisesse. a madruga é tão diferente da noite. e essas luzes artificiais não ajudam muito. então vamos correr para as montanhas e aproveitar enquanto o tempo não vem nos buscar e nos tirar daqui. pelo menos o seu sorriso ele não vai poder levar. não de dentro de mim. pelo menos enquanto ele não vem nos buscar, o mundo é nosso. e você não tem que ir embora essa noite. não hoje. não há retorno pra nós essa noite. não nessa. não.

sábado, 30 de outubro de 2010

sobre dulce num país de plastico

dulce despertou de um sonho bom, num lugar estranho e com a cabeça pesando mais do que seu corpo. tentou levantar para entender o que estava acontecendo, mas a gravidade não deixou. quase ia adormecer novamente, quando lembrou-se de olhar pro lado. uma garota jovem bonita, e loira, aparentando seus vinte e cinco anos, sentava em uma cadeira simples, devorava uma lasanha requentada enquanto assistia um filme b qualquer que passava na tv. ela tinha olhos fortes e azuis e vestia uma camisa social masculina enorme e um short de pijama verde apenas. reparou que sua convidada bela adormecida tinha acordado e olhou para ela abrindo um largo sorriso. e indagou:

- finalmente acordou branca de neve?

- ahn... acho que sim.

a loira dona do apartamento se levantou e abrindo a porta da geladeira lhe ofereceu uma cerveja. "é ótimo para curar a ressaca" disse entre gargalhadas. dulce sorriu e apoiando na parede conseguiu sentar-se na cama. tinha certeza de que boa coisa não tinha feito para estar ali, mas estranhamente se sentia bem, apesar da dor de cabeça latejante e gosto estranho na alma do que aconteceu. a loira se aproximou de novo e lhe entregou um copo d'água com um remédio para dor de cabeça. eram cinco e trinta da manha e lá fora alguma vida começava a pulsar. mas lá dentro de dulce ela sentia que a vida dela tinha parado de pulsar ali.

- então, não vai começar com aquelas perguntas do tipo 'quem sou eu?' 'como eu vim parar aqui?' 'quem é você?' e etc não?

- eu ainda to meio perdida eu acho... - a loira riu.

- entendo. bom, meu nome é thais. acho que vai ser muita informação pra sua cabeça agora, mas você não se lembra de nada do que aconteceu ?

- só me lembro de ter ido a festa e ter começado a beber. depois não lembro de mais nada...

- parece eu olhando para mim há dez anos atrás. incrível.

- mas eu fiz muita merda?

- muita? só o suficiente para ser expulsa da festa. você chegou como a garota mais bonita da festa, a carne nova do pesado. todos te pagavam bebida e você dançava como se não se houvesse amanhã. e direto de expulsavam do banheiro porque estava comendo alguém lá. daí você começou a usar alguma coisa estranha e e começou a chorar. os caras não paravam de chegar em você mas você não queria mais e começava a gritar e estapeá-los. depois disso te expulsaram e tinha um cara te esperando lá fora. vocês discutiram aos berros e você deu um tapa na cara dele. no segundo seguinte ele saiu andando e você caiu na sarjeta em mais choro e começou a vomitar. foi aí que eu te socorri até a minha casa. te dei um banho, você vomitou meu banheiro inteiro e acordou a vizinha mais chata do prédio. te dei meu pijama preferido e você desmaiou falando alguma coisa sobre amar alguém, mas estar fugindo disso como nunca fugiu de nada na vida, e adormeceu feito um anjo caído. e agora estamos aqui. fim.

dulce olhava fixamente o copo e as coisas que thais falava passavam como um filme mal rodado em sua cabeça. havia um nó em sua garganta que a fazia suspirar vez ou outra em busca de ar. finalmente se recostou na parede e deu um longo suspiro. quebrando o silêncio entre o final do relato e seus pensamentos confusos.

- o que eu faço da vida agora?

- você não tem casa? pai? mãe?

- eu fugi de casa pra ir naquela festa - disse com um sorriso irônico de quem tinha acabado de se enterrar viva.

- é garota, você está perdida. sabe, talvez você possa ficar aqui um dia ou dois, até por as idéias no lugar. depois disso tente voltar pra casa dos seus pais e vá atrás daquele garoto que você deu o tapa. ele sim te ama de verdade, as pessoas daquela festa não. agora eu vou caminhar, volte a dormir até essa dor passar ok?

thais foi dizendo isso e deitando dulce na cama novamente e a cobrindo como se fosse uma filha. deu-lhe um beijo na testa e desejou bons sonhos. dulce agradeceu e sorriu. a cama de thais era quente e aconchegante e principalmente segura. não queria sair dalí nunca mais. thais ascendeu um cigarro quando estava saindo e antes de fechar a porta olhou fixamente para aquela garota deitada alí em sua cama. era como se olhasse para si mesma há 10 anos atrás. suspirou, pegou um papel com um endereço rabiscado escrito 'thomas'. sorriu um sorriso sincero, grande. fechou a porta, ainda sorrindo bastante. e saiu.

domingo, 10 de outubro de 2010

Se você estivesse aqui para escrever essa canção.

Eu invento tantas histórias. Crio tantos mundos, tantas situações e personagens. Mas não consigo criar um evento onde a gente fique junto. Como naquela madrugada, agente estava junto, mas não. Aquela nossa música, aquele nosso céu. Aqueles nossos amigos, e todas aquelas cicatrizes. A bebida barata e gosto amargo do seu cigarro, e seu mundo de onde eu já estava mais do que vacinado. Nem aquele letra que representa aquele momento, nem os fragmentos de memórias em risadas que um dia me fizeram mal. Eu não consigo mais olhar nos seus olhos por mais que de tempos em tempos os seus procurem os meus. Eu cansei de ascender o trago do estrago que te faz tão bem. Eu queria paz, e nem a tempestade da cor dos seus olhos castanhos me tiraria naquele momento. Eu sinto muito mas você não mora mais aqui.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

sobre os haicais jogados alí

as vezes eu me pego rezando pra você ligar.
as vezes você liga e eu nem atendo.
as vezes todos os meus discos só fazem lembrar você.
as vezes eu não os entendendo.
as vezes eu queria fechar os olhos e te beijar.
mas acabo que só lamento.
porque se um dia você me deixar.
não vai existir remendo,
que vá juntar de novo,
o que eu pretendo não unir.
não vai existir remendo
pra curar o sofrimento
e todo esse tormento
de você existir.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

quatro

ouve esse silêncio. durante tanto tempo foi tudo que eu sempre quis. eu tenho um quarto escuro como proteção. e imagens que eu não sei de onde vem, contando o que eu ainda não vi. e eu deixei tudo pra trás com uma facilidade tamanha. acho que chamamos isso de paz. eu acho que chamamos isso de experiência. ou cicatrizes. ou como você queira chamar. em um sábado a tarde a campainha toca. era o carteiro. sem me preocupar com a samba-canção surrada, levanto com a barba por fazer, o cabelo desgrenhado, as olheiras e a camisa velha (ou a velha camisa) com o renato russo estampado. eram as contas do mês. afinal, meu endereço elas sabem de cor. e alguém também deve saber. talvez resolva aparecer. ouve esse silêncio. houve? e o carteiro pergunta. e eu respondo:
- eu sinto muito. ela não mora mais aqui.


inc: monno - quem sabe
zander - polvora
legião urbana - acrilic on canvas

sábado, 7 de agosto de 2010

prólogo

Após longos beijos e abraços de ódio e amor, tomaram o rumo do carro dela. Ela dirigia sem olhar muito pra ele, e ele se agarrava a mochila como se houvesse algo precioso lá, e a encarava com o canto do olho.
- Então, como está São Paulo?
- Ah, o mesmo caos de sempre. Mas você deveria ir pra lá...
- Você sabe que odeio aquela cidade tanto quanto você.
- Mas ela seria menos chata se você estivesse lá...
- E sua mãe? Deveríamos aproveitar que você está de férias e visita-la...
- É, eu conversei com minha irmã. Podemos ir pra lá semana que vem...
- Eu não sei porque insisto nisso! Eu vou visitar a tua mãe enquanto você desaparece e se aproveita nos braços daquelas vagabundas de São Paulo! Que ódio
- Já ouviu aquela teoria de que todo cachorro sem dono sonha em ter um lugar pra voltar?
- Não começa...
- Sério, se você fosse comigo eu não teria porque sumir mais...
- Você sabe que não duro em São Paulo 3 dias...
- Podíamos mudar pra Santos!
- Santos?
- Sim, Santos. Conseguiríamos um apartamento fácil lá com nossos amigos. Dinheiro não é problema, e lá não é tão irritante quanto São Paulo, nem tão pequeno quanto Gramado, e fica perto da minha vida...
- Porque você faz isso comigo?
- Porque se um dia eu pensei em ter um dono, esse dono seria você.
- Mas porque isso agora?
- Porque eu cansei de fingir que você está lá pra eu ficar feliz. Daí quando eu acordo e percebo que não é você e que foi tudo uma ilusão da minha cabeça, minha vontade é pegar o primeiro avião e vir te ver. E é isso que acontece, eu desisto de ficar longe de você. Eu desisto. E queria que você desistisse também...

domingo, 1 de agosto de 2010

sem necessidade para preocupações

talvez fosse segunda-feira de manhã quando percebi isso. eu sempre percebo as coisas nos piores momentos. naquele café requentado. na tv baixinha jogando o lixo do mundo pelas antenas. no silêncio. nas crianças rindo indo pra escola. nas crianças em si. meus únicos passos certos são quando estou indo trabalhar. meus únicos horários certos são dessa rotina que eu não me lembro de ter sonhado. em toda segunda-feira de manha eu não costumo me lembrar de muita coisa. muito menos de quem eu sou. e o que me tornei. é que só me lembro quando estou nos seus braços. é que só acordo quando vejo seu sorriso. eu tento não explicar. e acho que nem quero entender. você também deveria fazer o mesmo. não que eu não goste, mas é que posso fugir entende? então me aproveita hoje. não me diga palavras bonitas. morra em meus braços, mas respire outros ares. lembre-se que hoje eu sou seu, amanha eu sou do mundo. escreva meu nome na areia e deixa o mar apagar, e leva-lo dalí. não escreva meu nome no cimento, é muito mais difícil de apagar. e dolorido também. eu só quero evitar. mas não quero evitar você. então eu ascendo um cigarro tentando te afastar, mas você já aprendeu a contemplar a fumaça brincando com a luz. então eu tento não falar, e fingir que não é comigo, mas acho que minha respiração confusa acusa minha confusão. então eu peço pra você ficar e confundir, eu peço pra você passar aqui depois das seis e me desviar de todo tédio e principio de agonia. eu só peço pra não me deixar fugir, e quem sabe talvez eu esteja cansado de ser quem eu sou. só o tempo vai curar, só o tempo vai dizer, só o tempo vai explicar, o que meu sorriso insiste em esconder e resistir.