domingo, 24 de junho de 2012

catavento

ouça: bon iver - minnesota, WI

não vai adiantar dizer que já passou. arranhar meus discos, parar de ler meus livros, evitar meus shows. não vai surtir efeito comprar um vestido novo, cortar o cabelo, doar meu moletom que ficou na sua casa para a caridade. e pra que cortar as nossas fotos, rasgar as cartas, colocar um salto alto? não é assim que as coisas funcionam. não vai ser do jeito que você quer. não adianta jurar de pé junto que não vai lembrar da vista da minha janela a tarde, da escada que fazia você perder seu folego, do mendigo da esquina da padaria perto da minha casa. a gente dançando na rua e da vida passando. e as coisas que te faziam feliz ficando pra trás. não é como quando você pisca forte o olho e tudo some. isso não existe. é fantasia sua, a mesma fantasia de quando você imaginava que isso podia dar certo. a mesma fantasia que fazia você jurar que ia ficar enquanto eu te excitava. o mesmo devaneio que me fez te escrever de novo. a alucinação que te trouxe até aqui. não vai adiantar porque eu vou estar nos seus mais profundos. você não vai conseguir esquecer. eu não vou deixar. e você também não.

Um comentário:

  1. Não vai adiantar dizer que não você pensa em algum segundo do seu miserável e tedioso dia em mim. Todo o seu capitalismo moderno, sua modéstia moderna, seu corpo moderno e sua cabeça velha, não adianta dizer que não pensa... Todos nós, todos os substantivos e adjetivos que cabem em mim, você pensa, pensa, pensa, trepensa, repensa em todas essas merdas que dizemos, fizemos, pensamos, que queríamos. Não aguento mudar o verbo! Não preciso mudar o verbo! Não quero passar o tempo verbal, não aguento mais esse '' ão '' não quero mais esse verbo moderninho que sonha mais do que a própria palavra! Quanto tempo perdemos? Quantas vidas passamos? Camas, travesseiros, cigarros, sangue doamos? Onde você repousa essa sua cabeça de besouro? Pra quem conta e discute sobre o proletariado e toda sua gana? Me ouve, me lê, me fita, me consome no show da esquina, me acha. Procurei demais e já ceguei, ceguei, ceguei... Imortalizei o nada.

    Nona pão!

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