bom dia
De todas as pessoas do mundo que eu podia encontrar nessa cidade sem fim, eu tinha que encontrar ele, de pijama na fila do supermercado, depois de ter sonhado com ele na noite anterior e depois de uma manhã muito ruim. Pensei em me esconder, mas de repente a vontade passou quando eu percebi que ele me olhava com aquele olhar bobo e a boca entreaberta apoiado no carrinho. Acabamos sentados no banco do shopping tomando sorvete em absoluto silêncio que me pareceu uma eternidade, mas talvez tenham sido meros 40 segundos. Quando ele disse “você não precisa se explicar” eu desabei, e fui sincera como nunca devemos ser. Disse que ele não passava de um sonho adolescente, de uma utopia de uma vida diferente e que o que eu sentia por ele não era o suficiente pra jogar tudo pro alto e de repente ser outra pessoa. Não funcionava assim. E pedi desculpas no final, bufando. Como se fosse ensaiado ele acabou o sorvete quando acabei de falar e disse “vamos lá fora, preciso fumar”. Ele nunca ia parar de fumar. E me incomodava. Fiquei ainda mais confiante sobre minha explicação. Tinha um argumento ali caso ele tentasse me convencer do contrário. Quando saímos, ele acendeu o cigarro e percebi que meu argumento era falho porque apesar de tudo sentia saudade do jeito charmoso com que ele fazia isso. Ele deu um trago e perguntou “mas você está feliz” e por um instante eu não soube responder. As pessoas falando alto a nossa volta tiraram minha atenção. E acabei respondendo que sim, de um jeito que fizesse parecer que eu hesitei em responder para não magoá-lo. Ele sorriu com o canto direito da boca, com aquele jeito irônico e debochado que ele sempre fazia quando não acreditava em alguma coisa. E antes que eu pudesse me irritar ele me abraçou forte, do jeito que me faz errar a respiração, e foi embora. Fiquei olhando ele dobrar a esquina com o almoço em uma mão e um cigarro na outra. Precisava voltar a trabalhar, mas fiquei no escritório a tarde toda ouvindo Jeff Buckley sem atender ao telefone. Não funcionava assim.
boa tarde
Voltei para cara sorrindo, sem conseguir explicar porque estava sorrindo, e sem querer pensar nisso. Fiz um bom almoço ao som de The Strokes, assisti aos noticiários, saí com o cachorro pra passear no parque, comprei coisas pra casa, encontrei alguns amigos, fui visitar a minha avó. Quando voltei arrumei tudo, revisei alguns trabalhos e fiz uma música. Quando toquei novamente, percebi que era sobre ela de novo, e sem querer pensar nisso achei melhor ir dormir. Meu dia estava ganho, não funcionava assim
boa noite
Relacionamentos são complicados, principalmente os de longa data. Mulheres sempre são complicadas, e cabe a nós homens sermos a parte simples. Nem sempre é fácil, mas quando você gosta é bom ter paciência. Quando elas não atendem ao telefone é preocupante, mas no meu caso deixei o dia passar. Quando ela atendeu falou pouco, parecia séria, não quis incomodar. Disse que amanhã a encontrava e pra ela ficar bem. No meio da noite, bebendo com os meus amigos, resolvi ligar novamente tentando distraí-la, mas ela não atendeu. Já um pouco bêbado, resolvi passar em sua casa por passar, mas ela não estava. Fiquei repassando as ultimas semanas tentando encontrar algum erro que eu tenha cometido e não reparei, mas nada. Tudo estava na mesma nesses últimos 3 anos. Tudo no lugar, como manda o regulamento. Trabalhávamos, estudávamos, visitávamos nossos pais no final de semana, viajávamos nas férias pra praia, fazíamos sexo duas vezes por semana como qualquer casal normal. A vida era normal. Eu realmente não entendia e me deixava impaciente. Resolvi esperar na sala, talvez dormir por ali mesmo e esperar ela chegar e perguntar o que estava acontecendo, tentar resolver. Éramos maduros o suficiente para conversarmos abertamente. Sempre foi assim, sempre. O notebook dela estava em cima da mesa de centro na sala, resolvi passar o tempo, ouvir uma música. Quando abri o aparelho tocava uma música bonita até, gravação caseira, não conhecia o artista. Ouvi Radiohead e adormeci. Ela chegou no meio da madrugada e deitou ao meu lado no sofá e adormeceu. Achei melhor deixar pra amanhã. Sempre foi assim, sempre. É assim que funciona.
domingo, 6 de janeiro de 2013
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
dois tempos
para ler ouvindo: mahmundi quase sempre
suponhamos que fosse um tempo diferente, e eu não pensasse na palavra saudade no minimo dez vezes ao dia, e não tivesse que dize-la no minimo três. talvez eu nem sentisse de verdade mesmo. foi quando ela perguntou - saudade de quê - e eu disse - de tudo - de tudo o quê - mas é só quando os dias são chatos e a movimentação á minha volta não é o suficiente pra me distrair, então eu me distraio na unica coisa que me faz falta na vida. é assim, sempre distraído que eu nem sei de tudo da unica coisa que que me faz falta. só sei que digo. só sei que sinto. de vez em quando eu paro, vivo, e me repito aqui e todos os dias da minha rotina, até mesmo na rotina de sair da rotina. e ela perguntou - até hoje - e eu disse - só os dias que eu acordo. os que eu não acordo eu sonho. por mim da tudo na mesma. se fosse um tempo diferente eu daria de ombros e perguntaria - quem - mas é o mesmo tempo e o mesmo dia que eu me lembro nos outros dias, mesmo com o passar do ano passado e os temporais e o calor e o frio e a ventania que derrubou arvores na estrada. não é como se eu escolhesse o calendário em que eu vivo. mas cada vez que eu arranco uma folha esse dia parece chegar ao final. minha esperança se encontra em cada dia que eu não sei qual é. meu tempo passa a cada dia que eu não sei quem sou.
suponhamos que fosse um tempo diferente, e eu não pensasse na palavra saudade no minimo dez vezes ao dia, e não tivesse que dize-la no minimo três. talvez eu nem sentisse de verdade mesmo. foi quando ela perguntou - saudade de quê - e eu disse - de tudo - de tudo o quê - mas é só quando os dias são chatos e a movimentação á minha volta não é o suficiente pra me distrair, então eu me distraio na unica coisa que me faz falta na vida. é assim, sempre distraído que eu nem sei de tudo da unica coisa que que me faz falta. só sei que digo. só sei que sinto. de vez em quando eu paro, vivo, e me repito aqui e todos os dias da minha rotina, até mesmo na rotina de sair da rotina. e ela perguntou - até hoje - e eu disse - só os dias que eu acordo. os que eu não acordo eu sonho. por mim da tudo na mesma. se fosse um tempo diferente eu daria de ombros e perguntaria - quem - mas é o mesmo tempo e o mesmo dia que eu me lembro nos outros dias, mesmo com o passar do ano passado e os temporais e o calor e o frio e a ventania que derrubou arvores na estrada. não é como se eu escolhesse o calendário em que eu vivo. mas cada vez que eu arranco uma folha esse dia parece chegar ao final. minha esperança se encontra em cada dia que eu não sei qual é. meu tempo passa a cada dia que eu não sei quem sou.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
casa nova II
sabe-se lá se eu consigo
procuro abrigo, de tempo em tempo
eu sou o tempo que sobra entre
o que eu consigo deixar pra trás
enquanto eu corro pra valer
entre os meus vicios mais antigos
caminho entre os vivos
querendo viver
se já for tarde, pra tanto alarde
o que me sobra? cantei até explodir
não pode ser tão tarde, pra minha parte
casa nova é ter você morando aqui
procuro abrigo, de tempo em tempo
eu sou o tempo que sobra entre
o que eu consigo deixar pra trás
enquanto eu corro pra valer
entre os meus vicios mais antigos
caminho entre os vivos
querendo viver
se já for tarde, pra tanto alarde
o que me sobra? cantei até explodir
não pode ser tão tarde, pra minha parte
casa nova é ter você morando aqui
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
balanço I
desde pequeno, todo esse drama ao meu redor nunca fez muito sentido pra mim. mesmo quando meus pais se separaram, eu realmente não queria saber o motivo, eu estava bem. mas minha mãe insistia em me levar ao psicologo as quintas feiras como se eu tivesse algum problema. no começo foi divertido toda a atenção e as brincadeiras mas depois eu me cansei e não queria mais, mas não me deixaram parar de ir. até o dia em que fiquei parado na sala de espera sozinho olhando pro teto até decidir ir embora pra nunca mais voltar.
eu realmente não me importava.
eu não gostava do meu pai na época, sempre tão rígido com suas regras e lições. ele só ficava legal quando bebia, mesmo assim correndo o risco de haver uma briga com minha mãe por motivos que eu sempre desconhecia. ele bebia bastante nos finais de semana e aos domingos pela manhã tocava caetano pra mim e tentava me ensinar a tocar. eu não queria aprender, eu não sei se era a pouca idade ou o fato de eu não me sentir bem perto dele.
eu só queria correr.
ele só queria seu violão, sua pinga, um filho pra ensinar as coisas da vida. contar histórias e falar sobre os anos 70 e 80 e namorar no final da tarde no sofá de baixo das cobertas, mas não era assim. a resposta do mundo era cobrança. eram as contas pra pagar era a mulher pedindo dinheiro e a mãe que não queria o filho que ele não queria ser. queria cantar as coisas bonitas da américa mas parecia que a américa só queria reclamar. ele só queria alguém que o ouvisse de verdade e parasse de contar as horas pra tudo. mas ele tinha um filho pra criar. ele era um filho pra ser. um marido pra tentar
ele só queria correr.
o mundo desmoronou pra família. sem emprego, com cobrança, sem amor, com aliança. eu brincava com os meus bonecos com os ouvidos atentos a tudo que acontecia na casa, e olhava pela janela esperando meu aniversário chegar, pra ter a sensação que esta tudo bem de novo. eu tinha uma irmã agora, tudo tinha que ficar bem de novo. era estranho aquele silêncio no jantar. o medo aumentava e os gritos também.
ele saía do elevador quando outra pessoa entrava pra não ter que conversar
eu fui alheio a guerra. não me lembro quando mas fui morar com minha avó. eu aprendi a andar de ônibus e nunca mais veria meus amigos de infância. meu primeiro beijo, meu primeiro time, meu primeiro gol, meu primeiro videogame, minha primeira vida. o futebol na rua e o pique-esconde quando a luz acabava. o final da rua que dava em um corrêgo e a linha do trem. o escolar que sempre me trazia no mesmo horário, todos os dias. mesmo quando estava doente e não ia a aula eu aparecia na esquina pra acenar para o senhor que eu não me lembro o nome mas que o rosto não me sai da memoria.
rua saldanha da gama, 256, belo horizonte, brasil
havia um telefone antigo no canto da sala, daqueles que você tem que girar a tecla pra baixo pra discar. era verde claro e estava sempre brilhando. eu fui obrigado a crescer e deixar ele pra trás. eu fui sendo levado e ninguém que me levou sabe pelo que ou porque. eu simplesmente estava subindo a rua com a mochila nas costas. a minha mãe chorava enquanto eu visitava meu pai nos finais de semana em um bairro próximo de onde eu tinha saído.
não lembro de nenhuma explicação. não lembro de querer uma explicação.
todos os dias eu andava por cerca de meia hora para levar minha irmã ao colégio infantil. era 12:40 da tarde. as vezes o sol era tão forte que atravessa a rua entre os carros para chegar logo na sombra. o sol queimava minha cabeça, não me deixava pensar. arrastava minha irmã como um fardo que eu era obrigado a carregar. as vezes não trocávamos uma palavra. na minha cabeça eu criava uma história de super-heróis baseadas nas revistas que eu não parava de ler, não era pra fugir, eu não estava infeliz, mas eu só queria estar brincando com as outras crianças, que já não eram mais tão crianças assim. e eu ainda sonhava. o resto do mundo parecia que não. eu não me encontrava ali. nem em lugar nenhum.
eu realmente não me importava.
eu não gostava do meu pai na época, sempre tão rígido com suas regras e lições. ele só ficava legal quando bebia, mesmo assim correndo o risco de haver uma briga com minha mãe por motivos que eu sempre desconhecia. ele bebia bastante nos finais de semana e aos domingos pela manhã tocava caetano pra mim e tentava me ensinar a tocar. eu não queria aprender, eu não sei se era a pouca idade ou o fato de eu não me sentir bem perto dele.
eu só queria correr.
ele só queria seu violão, sua pinga, um filho pra ensinar as coisas da vida. contar histórias e falar sobre os anos 70 e 80 e namorar no final da tarde no sofá de baixo das cobertas, mas não era assim. a resposta do mundo era cobrança. eram as contas pra pagar era a mulher pedindo dinheiro e a mãe que não queria o filho que ele não queria ser. queria cantar as coisas bonitas da américa mas parecia que a américa só queria reclamar. ele só queria alguém que o ouvisse de verdade e parasse de contar as horas pra tudo. mas ele tinha um filho pra criar. ele era um filho pra ser. um marido pra tentar
ele só queria correr.
o mundo desmoronou pra família. sem emprego, com cobrança, sem amor, com aliança. eu brincava com os meus bonecos com os ouvidos atentos a tudo que acontecia na casa, e olhava pela janela esperando meu aniversário chegar, pra ter a sensação que esta tudo bem de novo. eu tinha uma irmã agora, tudo tinha que ficar bem de novo. era estranho aquele silêncio no jantar. o medo aumentava e os gritos também.
ele saía do elevador quando outra pessoa entrava pra não ter que conversar
eu fui alheio a guerra. não me lembro quando mas fui morar com minha avó. eu aprendi a andar de ônibus e nunca mais veria meus amigos de infância. meu primeiro beijo, meu primeiro time, meu primeiro gol, meu primeiro videogame, minha primeira vida. o futebol na rua e o pique-esconde quando a luz acabava. o final da rua que dava em um corrêgo e a linha do trem. o escolar que sempre me trazia no mesmo horário, todos os dias. mesmo quando estava doente e não ia a aula eu aparecia na esquina pra acenar para o senhor que eu não me lembro o nome mas que o rosto não me sai da memoria.
rua saldanha da gama, 256, belo horizonte, brasil
havia um telefone antigo no canto da sala, daqueles que você tem que girar a tecla pra baixo pra discar. era verde claro e estava sempre brilhando. eu fui obrigado a crescer e deixar ele pra trás. eu fui sendo levado e ninguém que me levou sabe pelo que ou porque. eu simplesmente estava subindo a rua com a mochila nas costas. a minha mãe chorava enquanto eu visitava meu pai nos finais de semana em um bairro próximo de onde eu tinha saído.
não lembro de nenhuma explicação. não lembro de querer uma explicação.
todos os dias eu andava por cerca de meia hora para levar minha irmã ao colégio infantil. era 12:40 da tarde. as vezes o sol era tão forte que atravessa a rua entre os carros para chegar logo na sombra. o sol queimava minha cabeça, não me deixava pensar. arrastava minha irmã como um fardo que eu era obrigado a carregar. as vezes não trocávamos uma palavra. na minha cabeça eu criava uma história de super-heróis baseadas nas revistas que eu não parava de ler, não era pra fugir, eu não estava infeliz, mas eu só queria estar brincando com as outras crianças, que já não eram mais tão crianças assim. e eu ainda sonhava. o resto do mundo parecia que não. eu não me encontrava ali. nem em lugar nenhum.
domingo, 2 de dezembro de 2012
carrossel
eu ganho a rua e perco o senso
de direção até a rua vinte e três
me perco sempre entre a esquina e a farmacia
eu ganho sempre algo que o mundo sabe
e eu não sei
cambaleando eu chego sempre antes das cinco
pois de inteiro eu já não chego aonde eu sei
eu ganho senso e perco a rua a contragosto
sem pressa eu chego em quase tudo que eu sonhei
pra reforçar eu perco tempo e me repito
eu já não piso mais na rua vinte e três
sem graça, eu perco a cena e me demito
de pingo em pingo eu vejo tudo que eu mudei
em vai e vem clichê o tempo segue
alheio a tudo em linhas tortas de pileque
em vai e vem me deixa tonto e me esquece
o tonto segue e sem vencer desaparece
e sem direção vai pela rua vinte e três
de direção até a rua vinte e três
me perco sempre entre a esquina e a farmacia
eu ganho sempre algo que o mundo sabe
e eu não sei
cambaleando eu chego sempre antes das cinco
pois de inteiro eu já não chego aonde eu sei
eu ganho senso e perco a rua a contragosto
sem pressa eu chego em quase tudo que eu sonhei
pra reforçar eu perco tempo e me repito
eu já não piso mais na rua vinte e três
sem graça, eu perco a cena e me demito
de pingo em pingo eu vejo tudo que eu mudei
em vai e vem clichê o tempo segue
alheio a tudo em linhas tortas de pileque
em vai e vem me deixa tonto e me esquece
o tonto segue e sem vencer desaparece
e sem direção vai pela rua vinte e três
domingo, 18 de novembro de 2012
porta
para ler ouvindo: 5 a seco - pra você dar o nome
ontem eu fui dormir e acordei com você colada no meu corpo, quase como se fizesse parte dele. eu sorri quando me dei conta mas é estranho toda vez você dizer que não sabe o que quer e pedir pra eu te esquecer dizendo que nunca mais vai voltar. e toda vez eu suspiro chateado e refaço meus planos fazendo o café da segunda-feira.
tento não me mexer na cama mas meu braço esta dormente e eu não sei o que vou dizer quando você acordar. quer dizer, eu estava bem sabe? eu sempre fico bem, eu sempre me acostumo e de meio ano pra cá eu mais dou risadas e faço apostas com os meus amigos do dia da semana ou do evento que vamos nos encontrar de novo, e você vai dizer que não mas seu sorriso e sua mão tremula vão dizer que sim e eu sempre digo pra você fazer o que seu coração mandar sem o minimo de esperança que ele dê a ordem final pra você ficar comigo. mas eu sempre quero ver onde vai dar e sempre da assim, comigo esquecendo de pedir as chaves do apartamento e do meu coração de volta.
- bom dia!
- bom dia.
- o café esta em cima da mesa.
- forte ou fraco?
- amargo.
- desculpa.
- tudo bem, pode ficar o quanto precisar.
- eu não pretendo ir embora dessa vez.
- eu acredito.
- então porque esta olhando pra janela?
- porque eu não quero acreditar.
- então porque fez tanto café?
- porque sou educado.
- então seja educado e olha pra mim!
- vai vestir uma roupa!
- pra que? você gosta do meu corpo. e já que vou ficar quero ficar à vontade.
- você sabe que não vai ficar.
- mas o tempo que eu ficar quero que seja como se eu nunca fosse embora.
- porque você faz isso?
- porque é assim que eu sei amar. se não fosse assim eu não te amaria tanto...
- você é um inferno!
- eu sei.
ontem eu fui dormir e acordei com você colada no meu corpo, quase como se fizesse parte dele. eu sorri quando me dei conta mas é estranho toda vez você dizer que não sabe o que quer e pedir pra eu te esquecer dizendo que nunca mais vai voltar. e toda vez eu suspiro chateado e refaço meus planos fazendo o café da segunda-feira.
tento não me mexer na cama mas meu braço esta dormente e eu não sei o que vou dizer quando você acordar. quer dizer, eu estava bem sabe? eu sempre fico bem, eu sempre me acostumo e de meio ano pra cá eu mais dou risadas e faço apostas com os meus amigos do dia da semana ou do evento que vamos nos encontrar de novo, e você vai dizer que não mas seu sorriso e sua mão tremula vão dizer que sim e eu sempre digo pra você fazer o que seu coração mandar sem o minimo de esperança que ele dê a ordem final pra você ficar comigo. mas eu sempre quero ver onde vai dar e sempre da assim, comigo esquecendo de pedir as chaves do apartamento e do meu coração de volta.
- bom dia!
- bom dia.
- o café esta em cima da mesa.
- forte ou fraco?
- amargo.
- desculpa.
- tudo bem, pode ficar o quanto precisar.
- eu não pretendo ir embora dessa vez.
- eu acredito.
- então porque esta olhando pra janela?
- porque eu não quero acreditar.
- então porque fez tanto café?
- porque sou educado.
- então seja educado e olha pra mim!
- vai vestir uma roupa!
- pra que? você gosta do meu corpo. e já que vou ficar quero ficar à vontade.
- você sabe que não vai ficar.
- mas o tempo que eu ficar quero que seja como se eu nunca fosse embora.
- porque você faz isso?
- porque é assim que eu sei amar. se não fosse assim eu não te amaria tanto...
- você é um inferno!
- eu sei.
terça-feira, 13 de novembro de 2012
manifesto pela liberdade
Acordo todo dia as seis em ponto. Jogo a água fria no rosto, o café forte na garganta e visto a roupa ainda sonolento, quase a mesma roupa de todos os dias. Saio no vento frio e espero a condução que segue meia cidade em caos, com pessoas correndo e cuspindo fumaça. Vou em pé olhando sem vontade as poucas arvores em tanto quando falsas. Chego ao meu destino e forço um sorriso pro porteiro, pra secretária e pro estagiário. Sento na minha cadeira, tomo posse da minha mesa – que não é bem minha - alguém comprou e me deixou sentar ali. O dia passa arrastado, levanto e tomo um ar puro, estico as pernas com um café e um cigarro, indicação do medico – que também disse para eu parar com o café e com o cigarro, mas cada coisa de uma vez. Volto pra cadeira que não é muito minha, nem de ninguém.
Vem a hora do almoço e reviro a mesma comida do mesmo restaurante há um bom tempo. Peço peixe mesmo sem gostar de peixe, porque disseram que faz bem e pra eu sentir um gosto diferente na boca, mudar alguma coisa na minha vida. Depois finjo me interessar pelas manchetes dos jornais expostos na banca, e até arrisco subir a sobrancelha com a noticia de uma melhora na economia do país, enquanto fumo outro cigarro sem perceber. E sem perceber já é hora de voltar e quando eu volto, a minha cadeira que já sinto ser um pouco minha está lá, olhando pra mim como se sentisse minha falta, pronta pra arrastar o resto do dia comigo.
Como se fosse outro mês a hora de ir embora chega e tomo o caminho de volta pra minha casa que nem é tanto minha, meu pai deixou pra mim. Passo antes no supermercado pra comprar cerveja e alguma bobagem pouco nutritiva para comer. E quase as mesmas pessoas que eu vi correndo o dia inteiro estão lá, correndo outra vez. Elas parecem ser quase sempre iguais, com as mesmas caras de perdidas comentando a vida de personagens de novela como se fossem as suas, reproduzindo idéias de livros de auto-ajuda como se soubessem quem são. Pago no cartão de debito pois me esqueci de sacar dinheiro. Eu queria estar de chinelos e mais a vontade em mim.
Enfim chegando em casa, recebido por ninguém, abro uma cerveja, bolo um baseado, ouço a Janis gritando no ultimo volume e me deixo esquecer. Assisto um desenho animado que me faz falta de uma porção de coisas e no intervalo, uma propaganda de um pacote turístico para 15 dias para Santa Clara, no Peru. Eu poderia citar mil e um fatores desse dia, incluindo a erva, para que eu arrumasse as minhas malas e partisse, mas não sei nenhum no momento. Anexo a esse manifesto de mim para mim mesmo, deixo uma procuração passando todos os meus bens á minha psiquiatra Luiza Maria Machado que me orientou a escrever sobre meu dia e encontrar o motivo do meu problema para dormir. O problema era eu mesmo e a vida que eu escolhi viver. Problema essa que estou concertando agora.
Vem a hora do almoço e reviro a mesma comida do mesmo restaurante há um bom tempo. Peço peixe mesmo sem gostar de peixe, porque disseram que faz bem e pra eu sentir um gosto diferente na boca, mudar alguma coisa na minha vida. Depois finjo me interessar pelas manchetes dos jornais expostos na banca, e até arrisco subir a sobrancelha com a noticia de uma melhora na economia do país, enquanto fumo outro cigarro sem perceber. E sem perceber já é hora de voltar e quando eu volto, a minha cadeira que já sinto ser um pouco minha está lá, olhando pra mim como se sentisse minha falta, pronta pra arrastar o resto do dia comigo.
Como se fosse outro mês a hora de ir embora chega e tomo o caminho de volta pra minha casa que nem é tanto minha, meu pai deixou pra mim. Passo antes no supermercado pra comprar cerveja e alguma bobagem pouco nutritiva para comer. E quase as mesmas pessoas que eu vi correndo o dia inteiro estão lá, correndo outra vez. Elas parecem ser quase sempre iguais, com as mesmas caras de perdidas comentando a vida de personagens de novela como se fossem as suas, reproduzindo idéias de livros de auto-ajuda como se soubessem quem são. Pago no cartão de debito pois me esqueci de sacar dinheiro. Eu queria estar de chinelos e mais a vontade em mim.
Enfim chegando em casa, recebido por ninguém, abro uma cerveja, bolo um baseado, ouço a Janis gritando no ultimo volume e me deixo esquecer. Assisto um desenho animado que me faz falta de uma porção de coisas e no intervalo, uma propaganda de um pacote turístico para 15 dias para Santa Clara, no Peru. Eu poderia citar mil e um fatores desse dia, incluindo a erva, para que eu arrumasse as minhas malas e partisse, mas não sei nenhum no momento. Anexo a esse manifesto de mim para mim mesmo, deixo uma procuração passando todos os meus bens á minha psiquiatra Luiza Maria Machado que me orientou a escrever sobre meu dia e encontrar o motivo do meu problema para dormir. O problema era eu mesmo e a vida que eu escolhi viver. Problema essa que estou concertando agora.
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