As 5 da manhã eu ouço não só as batidas do meu coração compassadas em ritmo de bossa nova como ouço o barulho do fluxo do meu sangue subindo e descendo pelas minhas veias. Estou deitada na minha cama e o teto parece mais baixo que o normal, mas eu não sinto medo. Eu esperava que alguma coisa acontecesse. Na verdade esperava um momento revelador – a hora, a data, o local e o motivo – que me levava a ser como eu era; perdida no meio de tantos encontros e desencontros, que aconteciam no meio do nada que eram esses encontros. Eu achei que nesse exato momento eu entenderia porque eu estava aqui, drogada e o porque minha memória (vida) parecia tão longe do momento agora.
Eu tinha um caminho, e desviei até aqui.
Foi como se eu estivesse em um carro seguindo a mesma auto estrada por dezoito anos, e havia uma bifurcação. Esquerda e direita, não havia um meio termo. Era como a angustia da separação, mas de mim mesma. Era como a sorte da indecisão, o azar da escolha e o meu corpo um inteiro, não uma fração. O meu sorriso era loteria, o resultado final. Meu devaneio era o resto, o que ficou pra trás. Um dia eu voltaria se ainda existisse volta. Se não houvesse contramão. Mas o carro seguia, os dias passavam.
Era tudo um jogo mal jogado por mim, que não sabia chutar. O galo da vizinha canta, e eu não sei que horas são, pela primeira vez em meses. Começo a rir de euforia e desespero. Não saber as horas me da a sensação de não saber em que lugar da vida eu estou, e agora me dou conta que não sei do dia, do mês e da semana. Mas nunca me esqueço do ano, porque eu queria me chamar Ana. Lembro de desejar ser Ana a 8 anos atrás, na primeira vez em que a estrada bifurcou. Naqueles dias em que o asfalto hora curvava para um lado, hora curvava para o outro, lembro de estar no banheiro da casa da minha avó após o ano novo, depois da vida nova, e a minha tia me mandava prestar atenção com a voz alta que preenchia meus ouvidos amplificada pela excelente acustica do banheiro. Ela dizia “você vem de uma família de fracassados, você precisa ser feliz, entendeu?” Naquela época eu tinha medo de olhar nos olhos das pessoas, e até hoje conto nos dedos as pessoas que olhei nos olhos, mas eu me lembro de olhar no fundo dos olhos dela, no susto e no impulso. Eu não me lembro de ter respondido, mas me lembro de ter escovado os dentes olhando fundo nos meus olhos. Eu queria fazer isso agora então vou me levantar e procurar no espelho se eu sou feliz. Tenho mil argumentos pra provar que sim, mil sentimentos pra dizer que não. E uma vida inteira pra não saber responder.
A estrada bifurcou de novo, no mesmo lugar, na mesma direção. Eu tremo de ansiedade porque tentar é morrer e viver, tudo ao mesmo tempo, no mesmo segundo em que respiro. O carro segue a 150 por hora, e o que eu vou fazer da minha escolha é tudo um jogo mal jogado por mim, que não sei defender. Eu não sei me mover sem saber. Quando não sei machuco. Machuco a mim e ao mundo. E ao criado mudo que sempre chuto quando levanto correndo. E agora me preocupo porque eu não sei mais andar devagar. Porque necessariamente eu corro eu direção a bifurcação? Quando eu estou na esquerda olho as janelas da rua, desejando subir prédios. Quando estou na direita, olho as ruas da janela desejando cair no asfalto, fazer barulho e machucado. Sinto uma ponta de inveja das pessoas decididas que sabem onde vão. Sinto um baseado inteiro de tédio de saber o que esperar. Eu canso de saber, me mato de esperar. Me canso de viver, me mato de sonhar. Começo a não acreditar nas pessoas decididas que não olham pro lado, não olham pra trás. Não queriam que fosse diferente o café da manhã. Não queriam que fosse diferente a roupa do dia, ou queriam estar transando no escritório com a secretária. Eu pensei isso tão forte que esqueci de respirar e segurei com força o lençol, e me dei conta que não enxergava o teto mais.
Eu sai de mim pra não ter que escolher. Esquerda ou direita, matar ou viver. E pra não ter que escolher, eu sai do carro em movimento, e deixei que ele fosse mato a dentro, e nunca mais o vi. Parei no meio da estrada, exatamente no meio, e decidi pegar carona no primeiro carro que passasse. Ou ele pararia ou ele passaria por cima de mim. A escolha que eu fiz, o contexto em que eu vivi, as pessoas com quem sorri, todos os dias desde que eu nasci. O mundo girou pra lá e pra cá, em torno do sol, puxando a lua, choveu, ventou, não nevou, estiou, e tudo, extremamente tudo me desviou até aqui.
Adormeci.
Acordei e não tive resposta. Fiz um café pra variar. Abri a porta da varanda e o sol estava lá, pra variar. A vizinha estendia roupa no varal, pra variar. As crianças choravam, pra variar. Eu não achava meus óculos, pra variar. Coloquei um disco do Chico pra variar. Sentei com um cigarro, pra variar. Apoiei minha cabeça na mão e suspirei desiludida pra variar. Mastiguei uns biscoitos enquanto olhava a vizinhança, pra variar. Quando notei no canto direito da minha visão uma roupa diferente, um sorriso diferente. Enquanto Chico cantava “deixa em paz meu coração” eu fiz um almoço diferente, e me senti diferente, como se não precisasse jogar. Como mesmo se eu virasse a esquerda, lá na frente eu pudesse virar a direita. Como mesmo se eu não pudesse mais virar, a estrada se faria certa em um tempo ou outro. Eu nunca gostei de placas me mostrando aonde ir. Foi assim que escureceu, foi assim que eu venci.
sábado, 31 de agosto de 2013
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
joão
trago estrelas
respiro fumaça
neblina me cega
o medo me mata
dia após dia
noite após tarde
um pé atravessa
o outro milagre
trago estrelas
sinal amarelo
cortina fechada
ilumina concreto
sentido contrário
mão contra mão
mudo de aquário
não diz nada não
trago estrelas
dia após dia
respiro fumaça
noite após tarde
neblina me cega
um pé atravessa
o medo me mata
outro milagre
trago estrelas
sentido contrário
sinal amarelo
mão e contra mão
cortina fechada
mudo de aquário
ilumina concreto
não diz nada não
respiro fumaça
neblina me cega
o medo me mata
dia após dia
noite após tarde
um pé atravessa
o outro milagre
trago estrelas
sinal amarelo
cortina fechada
ilumina concreto
sentido contrário
mão contra mão
mudo de aquário
não diz nada não
trago estrelas
dia após dia
respiro fumaça
noite após tarde
neblina me cega
um pé atravessa
o medo me mata
outro milagre
trago estrelas
sentido contrário
sinal amarelo
mão e contra mão
cortina fechada
mudo de aquário
ilumina concreto
não diz nada não
terça-feira, 16 de julho de 2013
o diário dos novos dias II
I
permanece intacto o pensamento de que a sorte vive em tudo e em tudo de bom dará
tudo vai dar certo o que quer que certo signifique
a deus dará com fé e bom coração
adeus dará a lágrima que desce em vão
a mão que me estende certeira e me levanta do medo
afaga a cabeça e me desce no sono
me faz entender que sorrir não causa nenhum esforço
ilumina o caminho de volta pra casa e guia pra dias melhores
II
o nó na garganta e os trocados suados
café amargo e o jeans surrado
a música na cidade que desvia a atenção dos carros parados
que fazem barulho maior que os sinos nas igrejas
melodia que percorre o corpo e viaja a mente
pra longe do mundo que julga e impõe medo
faz caber no olhar o que não coube no mundo
e nenhum outro mundo entende
III
ouço a conversa da loteria e do risco da morte
e os ventos do norte ainda não movem moinhos
as contas pra pagar e a verdade do universo na fila do banco
o poeta ainda esta vivo e sobrevive com a ajuda de aparelhos
procura emprego porque no berço a fome chora
e sua poesia não é mais uma são três e nada pode esperar
na esperança da boa aventurança
que aprendeu com o próximo que veio antes dele
segue espalhando seus poemas no sinal
e seu grande nome ao vento
IV
no térreo precinto sinais de fumaça sem fogo
a cabeço é um estorvo e dores latentes
entre conversas de presidentes e dores de dente
o prédio em chamar de vidas sem precedentes na história
cada história em balcão de bar e sussurros em festas
cada dialética do mundo animal que come mais do que precisa
enquanto o bando passa fome na esquina
suas fêmeas são doentes e seus filhos estranhos
aos olhos de quem não sabe olhar
o futuro que chora porque sabe que não vai chegar
V
bate ponto na via e assovia na esquina a espera da condução amarela
que leva de volta para o amor
nos braços a marca da amarga viga
que cheira a bolor de dinheiro vencido
jazigos e amigos esperam visita nas camas de hospitais
em suas casa ou no centro da cidade
no meio do acaso do caos
quando o tempo deixa e o destino não leva antes que seja tarde
antes que me falte mais palavras do que vida pra viver
eu nunca vou parar de dizer que foi bom te ver
eu olho muito e guardo pouca coisa
mas me assusto quando lembro detalhes de enfeites
que me fazem acreditar. do nada no meio da tarde
faço alarde pra fazer barulho pra incomodar
e pra recordar ao mundo que eu existo
e um turbilhão invade a minha casa meu ouvido meu ar
eu preciso gritar as vezes
meu coração bate do lado direito do peito
e onde quer que eu invente que ele exista
espero que ele exista nas pessoas que eu amo
e que lhes deixem surdo de boas intenções
que aja sempre comemorações por estarmos vivos
felizes e seguindo nossas próprias direções
e que elas sempre se cruzem por nossas opções
divago ao acaso precisando de um abraço
e de olhar mais pro espaço
o espaço do celular que nunca funciona acabou
permanece intacto o pensamento de que a sorte vive em tudo e em tudo de bom dará
tudo vai dar certo o que quer que certo signifique
a deus dará com fé e bom coração
adeus dará a lágrima que desce em vão
a mão que me estende certeira e me levanta do medo
afaga a cabeça e me desce no sono
me faz entender que sorrir não causa nenhum esforço
ilumina o caminho de volta pra casa e guia pra dias melhores
II
o nó na garganta e os trocados suados
café amargo e o jeans surrado
a música na cidade que desvia a atenção dos carros parados
que fazem barulho maior que os sinos nas igrejas
melodia que percorre o corpo e viaja a mente
pra longe do mundo que julga e impõe medo
faz caber no olhar o que não coube no mundo
e nenhum outro mundo entende
III
ouço a conversa da loteria e do risco da morte
e os ventos do norte ainda não movem moinhos
as contas pra pagar e a verdade do universo na fila do banco
o poeta ainda esta vivo e sobrevive com a ajuda de aparelhos
procura emprego porque no berço a fome chora
e sua poesia não é mais uma são três e nada pode esperar
na esperança da boa aventurança
que aprendeu com o próximo que veio antes dele
segue espalhando seus poemas no sinal
e seu grande nome ao vento
IV
no térreo precinto sinais de fumaça sem fogo
a cabeço é um estorvo e dores latentes
entre conversas de presidentes e dores de dente
o prédio em chamar de vidas sem precedentes na história
cada história em balcão de bar e sussurros em festas
cada dialética do mundo animal que come mais do que precisa
enquanto o bando passa fome na esquina
suas fêmeas são doentes e seus filhos estranhos
aos olhos de quem não sabe olhar
o futuro que chora porque sabe que não vai chegar
V
bate ponto na via e assovia na esquina a espera da condução amarela
que leva de volta para o amor
nos braços a marca da amarga viga
que cheira a bolor de dinheiro vencido
jazigos e amigos esperam visita nas camas de hospitais
em suas casa ou no centro da cidade
no meio do acaso do caos
quando o tempo deixa e o destino não leva antes que seja tarde
antes que me falte mais palavras do que vida pra viver
eu nunca vou parar de dizer que foi bom te ver
eu olho muito e guardo pouca coisa
mas me assusto quando lembro detalhes de enfeites
que me fazem acreditar. do nada no meio da tarde
faço alarde pra fazer barulho pra incomodar
e pra recordar ao mundo que eu existo
e um turbilhão invade a minha casa meu ouvido meu ar
eu preciso gritar as vezes
meu coração bate do lado direito do peito
e onde quer que eu invente que ele exista
espero que ele exista nas pessoas que eu amo
e que lhes deixem surdo de boas intenções
que aja sempre comemorações por estarmos vivos
felizes e seguindo nossas próprias direções
e que elas sempre se cruzem por nossas opções
divago ao acaso precisando de um abraço
e de olhar mais pro espaço
o espaço do celular que nunca funciona acabou
segunda-feira, 24 de junho de 2013
o sopro do dragão
a cidade acordou com o seu teto de vidro em pedaços no chão
refletindo o sol preguiçoso de começo de inverno
as pessoas comentam qualquer coisa sobre a televisão
como se não tivesse havido inferno
inferno nosso de cada dia,
o inferno de todos os santos
o mar que vem pela avenida
quando viver já não tem mais encanto
quando a voz já não é mais ouvida
e ninguém parece ouvir mais pranto
o grito ecoa pelo silêncio na esquina
enquanto o mundo permanece girando
bem no meio do olho do furacão
coragem bate mais forte do que o sangue lateja
não existe mais pátria nem nação
não é só olho que lacrimeja
é a mãe gentil que não sabe se chora
ou se sorri pelo filho que luta
entre o medo e a esperança que aflora
o dia já não é mais o mesmo nas ruas
refletindo o sol preguiçoso de começo de inverno
as pessoas comentam qualquer coisa sobre a televisão
como se não tivesse havido inferno
inferno nosso de cada dia,
o inferno de todos os santos
o mar que vem pela avenida
quando viver já não tem mais encanto
quando a voz já não é mais ouvida
e ninguém parece ouvir mais pranto
o grito ecoa pelo silêncio na esquina
enquanto o mundo permanece girando
bem no meio do olho do furacão
coragem bate mais forte do que o sangue lateja
não existe mais pátria nem nação
não é só olho que lacrimeja
é a mãe gentil que não sabe se chora
ou se sorri pelo filho que luta
entre o medo e a esperança que aflora
o dia já não é mais o mesmo nas ruas
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Quem Precisa do Brasil
No começo, eu manti um pé atrás com as manifestações pelo país.
Uma semana antes dos protestos, no meu trajeto ônibus/centro/metrô, entre 6 e 7 da manhã, reparava nos rostos das pessoas nos transportes públicos e pelas ruas. Os rostos cansados, ou melhor, abatidos pelo cansaço de trabalhar em um emprego que não sonhou quando era criança - porque não teve tempo de sonhar, teve que trabalhar pra ajudar a família, e levantar cedo e ser humilhado em um ônibus lotado sem conforto e sem descanso, trabalhar 8 horas por dia como manda o regulamento, num emprego que lhe exige sacrifícios físicos e psicológicos. E no final, voltar no mesmo ônibus, humilhado pela lotação, olhando pros rostos de gente tão ou mais cansado que ele.
Quando abro o jornal: aumento do custo de vida, violência, desvio de dinheiro publico, mais violência, menos educação, caos na saúde, leis e decretos sem o menor sentido.
Quando olho a periferia ao meu redor, ao menor sinal de crescimento econômico, a favela foi tomada de carros populares, antenas de tevê a cabo, puxadinhos e segundo andar irregulares, roupas de marca, academias, tevês de led e celulares
Quando abro o jornal: cura gay, pec 37 e 39, gastos bilionários em futebol, leis esdruxulas de uma entidade privada internacional que passam por cima das leis que beneficiam o povo, impunidade parlamentar, mais desvio de dinheiro publico, menos educação.
Quando ouço as pessoas conversando na rua: bigbrother, novela, futebol, fofoca, famosos, cansaço pelo trabalho, jeitinho brasileiro de passar a perna e tirar vantagem em tudo.
Uma semana antes dos protestos, no meu trajeto ônibus/centro/metrô, entre 6 e 7 da manhã, reparava nos rostos das pessoas nos transportes públicos e pelas ruas. Essas pessoas vão chegar em casa, tomar banho, fazer a janta, assistir ao telejornal, a novela, e dormir. Se elas tiverem filho, elas preocuparam como anda a educação da escola em que ele esta matriculado? Esses filhos dessas pessoas estão preocupados em se tornar alguém mais esclarecido do que seus familiares na vida ou só estão preocupados em arrumar um trabalho menos árduo que lhes dê dinheiro pra comprar o tênis da moda?
Essas pessoas vão chegar em casa para suas famílias ou, ao invés disso, vão para os bares gastar tudo que ganhou com seu sub-emprego para amenizar o cansaço e a desilusão de que nunca vão ter um oportunidade? Eles nunca vão ter uma oportunidade porque não tem oportunidade ou porque não procuram uma oportunidade?
É justo muitos se matarem para ter uma oportunidade enquanto poucos limpam a bunda com uma nota de 100?
No começo, eu manti um pé atrás com as manifestações pelo país.
Todo esse discurso "Robin Wood" da classe média me faz pensar no fim e no depois. No fim, que seria bom pra quem? Bom pras linhas de frente que organizaram os protestos, conseguem visibilidade e numa dada reforma pulam para o outro lado, e não se sabe mais quem é porco, quem é humano. No fim conduzido pelos oportunistas da efervescência com o intuito de angariar militantes para suas causas partidárias ou de movimentos com ideias unilaterais, fazendo todo mundo esquecer do fim que deveria existir: o bem estar comum. E ainda, o fim das pessoas de bem, que entraram pro protesto com a esperança de não ter que trabalhar 14 horas por dia pra colocar o filho em um colégio particular com medo do ensino publico do propro país. As pessoas que estavam no meu lugar a anos atrás, na luta contra o cenário politico vigente, hoje vê tudo isso pela tevê com o ar de "já vi esse filme antes". São pessoas da classe média que tem que trabalhar 14 horas por dia, que não tem os mesmos problemas que as pessoas que eu vejo nos transportes públicos e nas ruas, mas que não se sentem representados pelas pessoas que ajudaram a eleger com o grito nas ruas por um país melhor. Sinto nos olhos dessas pessoas a pergunta: onde esta o país pelo qual eu gritei a décadas atrás?
No começo, eu manti um pé atrás com as manifestações pelo país, mas eu não resisti!
Li e reli, exaustivamente, manifestos e opiniões. Gente que apoia, gente que condena. Gente que acha que vai haver nova ditadura, gente que acha que não vai dar em nada. Gente que reclama do trânsito, gente que buzina. Gente que não sabe porque está lá, mas está. Gente que daria tudo pra estar lá, mas pode estar. Gente. Milhões de gente. Gente que antes não sabia a quantas andava seu país. Agora sabem. Sabem porque, porque mais que todas as profecias do fim dessa história, levantamos da cadeira e gritamos, envelhecemos gritando, e vamos morrer gritando. Não é só na manifestação. Vamos gritar nos bares em conversa com os nossos amigos. Gritar no facebook compartilhando fatos, notícias verídicas e discutindo opinião e informação. Vamos gritar dentro de casa, buscando referência no passado e agindo corretamente no futuro. Vamos gritar nas nossas cabeças todo duvida e pensamentos, gerando mais discussão e mais informação. Vamos criar nossos filhos gritando que se ele não gritarem também, tudo que nos construirmos vai ser tomado de novo aos poucos. Eu não resisti, porque agora a cara abatida pelo cansaço do povo no transporte publico e nas ruas se mistura a um leve contentamento de esperança de dias melhores. Eu não resisti porque vi nos olhos de quem gritou a décadas, apesar de já terem gritado e visto esse filme, a esperança em quem grita hoje.
Eu não resisti a manifestação porque nós precisamos do Brasil.
Uma semana antes dos protestos, no meu trajeto ônibus/centro/metrô, entre 6 e 7 da manhã, reparava nos rostos das pessoas nos transportes públicos e pelas ruas. Os rostos cansados, ou melhor, abatidos pelo cansaço de trabalhar em um emprego que não sonhou quando era criança - porque não teve tempo de sonhar, teve que trabalhar pra ajudar a família, e levantar cedo e ser humilhado em um ônibus lotado sem conforto e sem descanso, trabalhar 8 horas por dia como manda o regulamento, num emprego que lhe exige sacrifícios físicos e psicológicos. E no final, voltar no mesmo ônibus, humilhado pela lotação, olhando pros rostos de gente tão ou mais cansado que ele.
Quando abro o jornal: aumento do custo de vida, violência, desvio de dinheiro publico, mais violência, menos educação, caos na saúde, leis e decretos sem o menor sentido.
Quando olho a periferia ao meu redor, ao menor sinal de crescimento econômico, a favela foi tomada de carros populares, antenas de tevê a cabo, puxadinhos e segundo andar irregulares, roupas de marca, academias, tevês de led e celulares
Quando abro o jornal: cura gay, pec 37 e 39, gastos bilionários em futebol, leis esdruxulas de uma entidade privada internacional que passam por cima das leis que beneficiam o povo, impunidade parlamentar, mais desvio de dinheiro publico, menos educação.
Quando ouço as pessoas conversando na rua: bigbrother, novela, futebol, fofoca, famosos, cansaço pelo trabalho, jeitinho brasileiro de passar a perna e tirar vantagem em tudo.
Uma semana antes dos protestos, no meu trajeto ônibus/centro/metrô, entre 6 e 7 da manhã, reparava nos rostos das pessoas nos transportes públicos e pelas ruas. Essas pessoas vão chegar em casa, tomar banho, fazer a janta, assistir ao telejornal, a novela, e dormir. Se elas tiverem filho, elas preocuparam como anda a educação da escola em que ele esta matriculado? Esses filhos dessas pessoas estão preocupados em se tornar alguém mais esclarecido do que seus familiares na vida ou só estão preocupados em arrumar um trabalho menos árduo que lhes dê dinheiro pra comprar o tênis da moda?
Essas pessoas vão chegar em casa para suas famílias ou, ao invés disso, vão para os bares gastar tudo que ganhou com seu sub-emprego para amenizar o cansaço e a desilusão de que nunca vão ter um oportunidade? Eles nunca vão ter uma oportunidade porque não tem oportunidade ou porque não procuram uma oportunidade?
É justo muitos se matarem para ter uma oportunidade enquanto poucos limpam a bunda com uma nota de 100?
No começo, eu manti um pé atrás com as manifestações pelo país.
Todo esse discurso "Robin Wood" da classe média me faz pensar no fim e no depois. No fim, que seria bom pra quem? Bom pras linhas de frente que organizaram os protestos, conseguem visibilidade e numa dada reforma pulam para o outro lado, e não se sabe mais quem é porco, quem é humano. No fim conduzido pelos oportunistas da efervescência com o intuito de angariar militantes para suas causas partidárias ou de movimentos com ideias unilaterais, fazendo todo mundo esquecer do fim que deveria existir: o bem estar comum. E ainda, o fim das pessoas de bem, que entraram pro protesto com a esperança de não ter que trabalhar 14 horas por dia pra colocar o filho em um colégio particular com medo do ensino publico do propro país. As pessoas que estavam no meu lugar a anos atrás, na luta contra o cenário politico vigente, hoje vê tudo isso pela tevê com o ar de "já vi esse filme antes". São pessoas da classe média que tem que trabalhar 14 horas por dia, que não tem os mesmos problemas que as pessoas que eu vejo nos transportes públicos e nas ruas, mas que não se sentem representados pelas pessoas que ajudaram a eleger com o grito nas ruas por um país melhor. Sinto nos olhos dessas pessoas a pergunta: onde esta o país pelo qual eu gritei a décadas atrás?
No começo, eu manti um pé atrás com as manifestações pelo país, mas eu não resisti!
Li e reli, exaustivamente, manifestos e opiniões. Gente que apoia, gente que condena. Gente que acha que vai haver nova ditadura, gente que acha que não vai dar em nada. Gente que reclama do trânsito, gente que buzina. Gente que não sabe porque está lá, mas está. Gente que daria tudo pra estar lá, mas pode estar. Gente. Milhões de gente. Gente que antes não sabia a quantas andava seu país. Agora sabem. Sabem porque, porque mais que todas as profecias do fim dessa história, levantamos da cadeira e gritamos, envelhecemos gritando, e vamos morrer gritando. Não é só na manifestação. Vamos gritar nos bares em conversa com os nossos amigos. Gritar no facebook compartilhando fatos, notícias verídicas e discutindo opinião e informação. Vamos gritar dentro de casa, buscando referência no passado e agindo corretamente no futuro. Vamos gritar nas nossas cabeças todo duvida e pensamentos, gerando mais discussão e mais informação. Vamos criar nossos filhos gritando que se ele não gritarem também, tudo que nos construirmos vai ser tomado de novo aos poucos. Eu não resisti, porque agora a cara abatida pelo cansaço do povo no transporte publico e nas ruas se mistura a um leve contentamento de esperança de dias melhores. Eu não resisti porque vi nos olhos de quem gritou a décadas, apesar de já terem gritado e visto esse filme, a esperança em quem grita hoje.
Eu não resisti a manifestação porque nós precisamos do Brasil.
sexta-feira, 14 de junho de 2013
pele, carne e osso
pele, carne, osso e coração
unha, sujeira, ardor e concreto
meço minhas palavras em oração
o céu invade a torre do meu prédio
procuro explicações que não chegam das nuvens
e vou pra debaixo da terra com as minhas
porque rio na cara da desgraça que me pune
porque querer ser eu mesmo toda a vida
na via todavia contramão
na mão tudo aquilo que me despeço
de tudo que me é ilusão
no sorrio o controverso
da métrica que me assassina
pra eu me sentir vivo no inverno
unha, sujeira, ardor e concreto
meço minhas palavras em oração
o céu invade a torre do meu prédio
procuro explicações que não chegam das nuvens
e vou pra debaixo da terra com as minhas
porque rio na cara da desgraça que me pune
porque querer ser eu mesmo toda a vida
na via todavia contramão
na mão tudo aquilo que me despeço
de tudo que me é ilusão
no sorrio o controverso
da métrica que me assassina
pra eu me sentir vivo no inverno
segunda-feira, 27 de maio de 2013
inacabado
intro
me senti incomodado com o seu sorriso enquanto me beija
e me atordoei com a cor do seus olhos
que muda conforme a luz que eu olho
e fiquei mal acostumado com sua mão que bagunça meu cabelo
e nem me incomodo com o batom que fica pelo meu corpo
e pela minha roupa
verso
ajeita sua mão na minha
e encosta seus lábios nos meus
encontra motivos e caminha
pro meu lado que já é todo teu
senta e se ajeita o corpo
que eu chego pra te carregar
tenta e me espera um pouco
que eu to pensando em te trazer pra cá
pra se sentir pequena nos meus braços grandes
pra eu me sentir pequeno frente ao seu querer
pra te fazer poema em meio a tanta prova
pra de mim você não se esquecer
me senti incomodado com o seu sorriso enquanto me beija
e me atordoei com a cor do seus olhos
que muda conforme a luz que eu olho
e fiquei mal acostumado com sua mão que bagunça meu cabelo
e nem me incomodo com o batom que fica pelo meu corpo
e pela minha roupa
verso
ajeita sua mão na minha
e encosta seus lábios nos meus
encontra motivos e caminha
pro meu lado que já é todo teu
senta e se ajeita o corpo
que eu chego pra te carregar
tenta e me espera um pouco
que eu to pensando em te trazer pra cá
pra se sentir pequena nos meus braços grandes
pra eu me sentir pequeno frente ao seu querer
pra te fazer poema em meio a tanta prova
pra de mim você não se esquecer
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