quarta-feira, 9 de junho de 2010

sobre quando paula ataca

chovia. fazia frio. ventava. paula se jogava nas escadas e não aguentava mais contar as manchas no teto, enquanto dona carmem se empolgava com seu tricô. não aguentava sua ansiedade naquela pousada, naquela cidade, onde pacato era apelido pra um lugar onde não acontecia absolutamente nada. mas fazer o que, havia dado tudo errado. já estava cansada de chorar e rezar, e fugir era o melhor remédio - sempre foi - e pouco se importava com sua covardia. de tão cansada de nada, resolveu tomar um café na lanchonete próxima. vestiu seu casaco verde, ignorou a chuva fina que caia, e atravessou a rua brincando com as posas d'agua enquanto dona carmem gritava pedindo cuidado com a pneumonia. nem escutou e entrou rodopiando com uma felicidade que ela não entendia de onde vinha. assim como também não entendia como havia chegado ali. muito menos porque dessa vez não sentia vontade de ir embora. foi quando o sino que avisa a entrada de pessoas tocou. foi a primeira vez que ela parou de mexer seu café em cinco minutos.

ele entrou depressa se escondendo da chuva, todo molhado e se recostou na porta. ela deu um sorriso tímido e pensou se as pessoas naquela cidade não conheciam guarda-chuva. ele tentava recuperar o fôlego, e estava quase conseguindo quando viu paula. mas foi em vão porque seu fôlego foi embora novamente. ela foi a sua primeira visão quando entrou na lanchonete. mas ela já havia desviado o olhar. mexia o café mais depressa do que antes e agora lutava contra seu olho para não olhar pro lado. da parte dele, foi preciso que a garçonete implorasse para que ele se sentasse e pedisse algo, ou simplesmente parasse de atrapalhar a passagem das pessoas e molhar o chão. ele se dirigiu ao balcão a uma cadeira de paula e pediu um café duplo bem forte. era inverno. as primeiras palavras de paula fizeram desse um inverno mais bonito e inesquecível. as palavras dele, bem... talvez um inverno mais divertido mas não menos encantador para uma garota que nunca havia sido feliz, presa entre a sorte e o azar, tentando não se atrasar e sorrir. e como ela sorriu...

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