quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

dois tempos

para ler ouvindo: mahmundi quase sempre

suponhamos que fosse um tempo diferente, e eu não pensasse na palavra saudade no minimo dez vezes ao dia, e não tivesse que dize-la no minimo três. talvez eu nem sentisse de verdade mesmo. foi quando ela perguntou - saudade de quê - e eu disse - de tudo - de tudo o quê - mas é só quando os dias são chatos e a movimentação á minha volta não é o suficiente pra me distrair, então eu me distraio na unica coisa que me faz falta na vida. é assim, sempre distraído que eu nem sei de tudo da unica coisa que que me faz falta. só sei que digo. só sei que sinto. de vez em quando eu paro, vivo, e me repito aqui e todos os dias da minha rotina, até mesmo na rotina de sair da rotina. e ela perguntou - até hoje - e eu disse - só os dias que eu acordo. os que eu não acordo eu sonho. por mim da tudo na mesma. se fosse um tempo diferente eu daria de ombros e perguntaria - quem - mas é o mesmo tempo e o mesmo dia que eu me lembro nos outros dias, mesmo com o passar do ano passado e os temporais e o calor e o frio e a ventania que derrubou arvores na estrada. não é como se eu escolhesse o calendário em que eu vivo. mas cada vez que eu arranco uma folha esse dia parece chegar ao final. minha esperança se encontra em cada dia que eu não sei qual é. meu tempo passa a cada dia que eu não sei quem sou.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

casa nova II

sabe-se lá se eu consigo
procuro abrigo, de tempo em tempo
eu sou o tempo que sobra entre
o que eu consigo deixar pra trás
enquanto eu corro pra valer
entre os meus vicios mais antigos
caminho entre os vivos
querendo viver

se já for tarde, pra tanto alarde
o que me sobra? cantei até explodir
não pode ser tão tarde, pra minha parte
casa nova é ter você morando aqui

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

balanço I

desde pequeno, todo esse drama ao meu redor nunca fez muito sentido pra mim. mesmo quando meus pais se separaram, eu realmente não queria saber o motivo, eu estava bem. mas minha mãe insistia em me levar ao psicologo as quintas feiras como se eu tivesse algum problema. no começo foi divertido toda a atenção e as brincadeiras mas depois eu me cansei e não queria mais, mas não me deixaram parar de ir. até o dia em que fiquei parado na sala de espera sozinho olhando pro teto até decidir ir embora pra nunca mais voltar.

eu realmente não me importava.

eu não gostava do meu pai na época, sempre tão rígido com suas regras e lições. ele só ficava legal quando bebia, mesmo assim correndo o risco de haver uma briga com minha mãe por motivos que eu sempre desconhecia. ele bebia bastante nos finais de semana e aos domingos pela manhã tocava caetano pra mim e tentava me ensinar a tocar. eu não queria aprender, eu não sei se era a pouca idade ou o fato de eu não me sentir bem perto dele.

eu só queria correr.

ele só queria seu violão, sua pinga, um filho pra ensinar as coisas da vida. contar histórias e falar sobre os anos 70 e 80 e namorar no final da tarde no sofá de baixo das cobertas, mas não era assim. a resposta do mundo era cobrança. eram as contas pra pagar era a mulher pedindo dinheiro e a mãe que não queria o filho que ele não queria ser. queria cantar as coisas bonitas da américa mas parecia que a américa só queria reclamar. ele só queria alguém que o ouvisse de verdade e parasse de contar as horas pra tudo. mas ele tinha um filho pra criar. ele era um filho pra ser. um marido pra tentar

ele só queria correr.

o mundo desmoronou pra família. sem emprego, com cobrança, sem amor, com aliança. eu brincava com os meus bonecos com os ouvidos atentos a tudo que acontecia na casa, e olhava pela janela esperando meu aniversário chegar, pra ter a sensação que esta tudo bem de novo. eu tinha uma irmã agora, tudo tinha que ficar bem de novo. era estranho aquele silêncio no jantar. o medo aumentava e os gritos também.

ele saía do elevador quando outra pessoa entrava pra não ter que conversar

eu fui alheio a guerra. não me lembro quando mas fui morar com minha avó. eu aprendi a andar de ônibus e nunca mais veria meus amigos de infância. meu primeiro beijo, meu primeiro time, meu primeiro gol, meu primeiro videogame, minha primeira vida. o futebol na rua e o pique-esconde quando a luz acabava. o final da rua que dava em um corrêgo e a linha do trem. o escolar que sempre me trazia no mesmo horário, todos os dias. mesmo quando estava doente e não ia a aula eu aparecia na esquina pra acenar para o senhor que eu não me lembro o nome mas que o rosto não me sai da memoria.

rua saldanha da gama, 256, belo horizonte, brasil

havia um telefone antigo no canto da sala, daqueles que você tem que girar a tecla pra baixo pra discar. era verde claro e estava sempre brilhando. eu fui obrigado a crescer e deixar ele pra trás. eu fui sendo levado e ninguém que me levou sabe pelo que ou porque. eu simplesmente estava subindo a rua com a mochila nas costas. a minha mãe chorava enquanto eu visitava meu pai nos finais de semana em um bairro próximo de onde eu tinha saído.

não lembro de nenhuma explicação. não lembro de querer uma explicação.

todos os dias eu andava por cerca de meia hora para levar minha irmã ao colégio infantil. era 12:40 da tarde. as vezes o sol era tão forte que atravessa a rua entre os carros para chegar logo na sombra. o sol queimava minha cabeça, não me deixava pensar. arrastava minha irmã como um fardo que eu era obrigado a carregar. as vezes não trocávamos uma palavra. na minha cabeça eu criava uma história de super-heróis baseadas nas revistas que eu não parava de ler, não era pra fugir, eu não estava infeliz, mas eu só queria estar brincando com as outras crianças, que já não eram mais tão crianças assim. e eu ainda sonhava. o resto do mundo parecia que não. eu não me encontrava ali. nem em lugar nenhum.

domingo, 2 de dezembro de 2012

carrossel

eu ganho a rua e perco o senso
de direção até a rua vinte e três
me perco sempre entre a esquina e a farmacia
eu ganho sempre algo que o mundo sabe
e eu não sei

cambaleando eu chego sempre antes das cinco
pois de inteiro eu já não chego aonde eu sei
eu ganho senso e perco a rua a contragosto
sem pressa eu chego em quase tudo que eu sonhei

pra reforçar eu perco tempo e me repito
eu já não piso mais na rua vinte e três
sem graça, eu perco a cena e me demito
de pingo em pingo eu vejo tudo que eu mudei

em vai e vem clichê o tempo segue
alheio a tudo em linhas tortas de pileque
em vai e vem me deixa tonto e me esquece
o tonto segue e sem vencer desaparece

e sem direção vai pela rua vinte e três

domingo, 18 de novembro de 2012

porta

para ler ouvindo: 5 a seco - pra você dar o nome

ontem eu fui dormir e acordei com você colada no meu corpo, quase como se fizesse parte dele. eu sorri quando me dei conta mas é estranho toda vez você dizer que não sabe o que quer e pedir pra eu te esquecer dizendo que nunca mais vai voltar. e toda vez eu suspiro chateado e refaço meus planos fazendo o café da segunda-feira.
tento não me mexer na cama mas meu braço esta dormente e eu não sei o que vou dizer quando você acordar. quer dizer, eu estava bem sabe? eu sempre fico bem, eu sempre me acostumo e de meio ano pra cá eu mais dou risadas e faço apostas com os meus amigos do dia da semana ou do evento que vamos nos encontrar de novo, e você vai dizer que não mas seu sorriso e sua mão tremula vão dizer que sim e eu sempre digo pra você fazer o que seu coração mandar sem o minimo de esperança que ele dê a ordem final pra você ficar comigo. mas eu sempre quero ver onde vai dar e sempre da assim, comigo esquecendo de pedir as chaves do apartamento e do meu coração de volta.

- bom dia!
- bom dia.
- o café esta em cima da mesa.
- forte ou fraco?
- amargo.
- desculpa.
- tudo bem, pode ficar o quanto precisar.
- eu não pretendo ir embora dessa vez.
- eu acredito.
- então porque esta olhando pra janela?
- porque eu não quero acreditar.
- então porque fez tanto café?
- porque sou educado.
- então seja educado e olha pra mim!
- vai vestir uma roupa!
- pra que? você gosta do meu corpo. e já que vou ficar quero ficar à vontade.
- você sabe que não vai ficar.
- mas o tempo que eu ficar quero que seja como se eu nunca fosse embora.
- porque você faz isso?
- porque é assim que eu sei amar. se não fosse assim eu não te amaria tanto...
- você é um inferno!
- eu sei.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

manifesto pela liberdade

Acordo todo dia as seis em ponto. Jogo a água fria no rosto, o café forte na garganta e visto a roupa ainda sonolento, quase a mesma roupa de todos os dias. Saio no vento frio e espero a condução que segue meia cidade em caos, com pessoas correndo e cuspindo fumaça. Vou em pé olhando sem vontade as poucas arvores em tanto quando falsas. Chego ao meu destino e forço um sorriso pro porteiro, pra secretária e pro estagiário. Sento na minha cadeira, tomo posse da minha mesa – que não é bem minha - alguém comprou e me deixou sentar ali. O dia passa arrastado, levanto e tomo um ar puro, estico as pernas com um café e um cigarro, indicação do medico – que também disse para eu parar com o café e com o cigarro, mas cada coisa de uma vez. Volto pra cadeira que não é muito minha, nem de ninguém.
Vem a hora do almoço e reviro a mesma comida do mesmo restaurante há um bom tempo. Peço peixe mesmo sem gostar de peixe, porque disseram que faz bem e pra eu sentir um gosto diferente na boca, mudar alguma coisa na minha vida. Depois finjo me interessar pelas manchetes dos jornais expostos na banca, e até arrisco subir a sobrancelha com a noticia de uma melhora na economia do país, enquanto fumo outro cigarro sem perceber. E sem perceber já é hora de voltar e quando eu volto, a minha cadeira que já sinto ser um pouco minha está lá, olhando pra mim como se sentisse minha falta, pronta pra arrastar o resto do dia comigo.
Como se fosse outro mês a hora de ir embora chega e tomo o caminho de volta pra minha casa que nem é tanto minha, meu pai deixou pra mim. Passo antes no supermercado pra comprar cerveja e alguma bobagem pouco nutritiva para comer. E quase as mesmas pessoas que eu vi correndo o dia inteiro estão lá, correndo outra vez. Elas parecem ser quase sempre iguais, com as mesmas caras de perdidas comentando a vida de personagens de novela como se fossem as suas, reproduzindo idéias de livros de auto-ajuda como se soubessem quem são. Pago no cartão de debito pois me esqueci de sacar dinheiro. Eu queria estar de chinelos e mais a vontade em mim.
Enfim chegando em casa, recebido por ninguém, abro uma cerveja, bolo um baseado, ouço a Janis gritando no ultimo volume e me deixo esquecer. Assisto um desenho animado que me faz falta de uma porção de coisas e no intervalo, uma propaganda de um pacote turístico para 15 dias para Santa Clara, no Peru. Eu poderia citar mil e um fatores desse dia, incluindo a erva, para que eu arrumasse as minhas malas e partisse, mas não sei nenhum no momento. Anexo a esse manifesto de mim para mim mesmo, deixo uma procuração passando todos os meus bens á minha psiquiatra Luiza Maria Machado que me orientou a escrever sobre meu dia e encontrar o motivo do meu problema para dormir. O problema era eu mesmo e a vida que eu escolhi viver. Problema essa que estou concertando agora.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

afobação

para ler ouvindo: chico buarque - sem você 2

quando procuro um nome na agenda do meu celular com suas iniciais e não vejo seu nome no topo, sinto como se tivesse que lembrar alguma coisa impossível de esquecer, mas eu não lembro. da um branco na cabeça e no coração, e uma pontada de ansiedade na boca do estomago. tento escrever alguma coisa quando vejo uma garota com o mesmo penteado que o seu, que me lembra alguém que não está na minha memória, nem nas minhas fotos mais recentes. entre amigos, quando alguém conta um caso parecido com o que vivemos e eu tento contar a nossa história eu me perco no meio porque não me lembro o final, porque não sei se o começo e o meio realmente aconteceram ou estou apenas inventando pra fingir experiência. mas se parecem com recordações ou algo assim. esses dias até achei um quadro que não me lembro de ter comprado, se quer faço ideia de onde veio. percebe o que esta acontecendo? lembrar e esquecer já se tornou tão banal que mal vejo a diferença entre os dois. nem ao menos sei pra quem estou escrevendo isso tudo. se eu lembrar te conto com calma em uma outra temporada qualquer.

sábado, 13 de outubro de 2012

das palavras que eu mais gosto

de todos os sentidos do corpo humano
os que eu mais gosto de sentir é o que eu sinto com os pés
os pés na parede fria, no chão gelado,
no asfalto quente. na terra fofa,
na areira seca, no mar incerto.
o chute na bola, a força no pedal,
o impulso pra correr, o salto mortal.

falo como se eu não gostasse dos dedos,
dos cachos do cabelo,
do bico do seio,
das cordas de violão,
dos anseios.

tem meus olhos que já não enxergam tão bem
mas ainda vejo sorridente
o mar transparente
o céu azul
a serra verde
o meu amor que reluz

vez ou outra meu nariz coça
não sinto o cheiro de nada
mas o perfume da moça
o suor do trabalho
a bonina nascendo
e o café fresquinho
eu sinto o cheiro de cor

mordo a língua pra falar de receio
quando sinto em outra língua que o amor já veio
eu falo de menos e sinto o recheio do doce ao amargo
que a vida me traz

das palavras que eu mais gosto
na vida com certeza á vida que me satisfaz
não falo das (palavras) que eu menos gosto
pois neste momento de vida que passa poesia
palavras que não traduzem minha alegria
eu não quero ouvir falar mais

domingo, 7 de outubro de 2012

redemoinho (ou porque eu fui embora)

ouça: vanguart - das lagrimas

eu poderia usar qualquer desculpa esfarrapada pra você não me odiar, e tentar te explicar porque eu não estava do seu lado quando acordou. seria bem mais fácil porque a verdade é difícil e complicada, tão absurda que não consigo acha-la, quanto mais escrever e explicar para que você não se sinta mal lendo isso. então saiba que tudo que você ler daqui pra frente é pura mentira pra te confortar e me ausentar da culpa pelo seus próximos dias ruins. eu vou me sentir melhor assim, e se você acreditar também será melhor pra você e todo mundo sai menos triste, porque a última verdade que escrevo aqui é que eu não vou estar completamente feliz sem você do meu lado.
então por onde começo? ah, justamente por essa parte, a parte que você de alguma maneira me fez precisar de você pra sorrir com força a ponto de machucar meu maxilar e me deixar vendida e de joelhos. de onde você tirou essa ideia de me fazer te amar? eu não nasci pra isso, quanto mais pra saber lidar com essa vontade de não ir embora. essa fase de me acomodar até com seus defeitos em detrimento de tudo que eu sonhei para meu príncipe encantado. e você esta longe de ser meu príncipe encantado porque você se quer veste calças aos domingos. você me vê nervosa da mesa de jantar e vem com esse papo de senta aqui e se aconchega.
você é o único que consegue me parar.
foi a primeira vez que eu dormi até as duas da tarde e não vi o dia passar. acho que o mundo sente falta de mim. eu vou sentir falta de você e dos seus planos absurdos que pareciam até fazer sentido quando você me contava com a empolgação de uma criança na mesa do bar. e o tempo todo eu só queria entender seu tempo e a maneira como você me faz feliz sem perceber. em algum lugar lá fora eu vou parar e perceber a grande burrada que eu fiz a qualquer momento, então eu vou rezar todos os dias para que você ainda seja meu em alguma parte da sua vida, assim como eu fui sua e nunca consegui dizer. meus olhos sempre disseram por mim e como eu desejo que você tenha ouvido quando eu gritei naquele silêncio que só você sabe fazer antes me beijar e tirar a minha roupa.
pode parecer tudo bobo e sem sentido agora mas quando você olhar pra fora da sua janela você vai entender. mas caso contrario vou estar deitada no sofá vendo tv se você precisar.

com amor, v

domingo, 30 de setembro de 2012

sorte

o batido insistente do pé no chão e as duas embalagens de cupcake em cima da mesa eram indícios de uma longa espera. a cabeça que girava em todos as direções possíveis e o dedo polegar que ensaiava o uso de um isqueiro, coisa de quem havia parado de fumar há pouco tempo mas que logo voltaria com força total, porque com certeza era uma péssima hora pra parar largar o vicio. todos os sinais eram evidências de que alguém tinha dado o bolo na garota que roubava minha atenção nos poucos minutos do meu lanche. a sorte as vezes bate no lugar errado, pois jamais faria uma garota tão bonita esperar tanto. fiquei imaginado o tipo de babaca que faria isso, ou se ela tinha um defeito muito grande mas mesmo assim pensei em me aproximar. pensei em usar o raciocínio da sorte, fazê-la rir, quebrar o gelo e me sentar à sua mesa. falar de livros, discos, filmes e um pouco desse delírio cotidiano. trocaríamos telefones e eu a chamaria para tomar algo mais forte que um café; começaríamos a namorar, noivaríamos depois da faculdade e juntaríamos grana; casaríamos. teríamos dois filhos e um jardim igual ao dos romances que escrevo no verão.
ainda era inverno. minha bebida acabara e eu tomava apenas a água do gelo derretido enquanto fitava suas pernas. quando dei por mim já era dezoito e trinta e minha aula começava. levantei apressado e olhei uma ultima vez procurando alguma coisa, e nossos olhos se esbarraram por segundos. continuei andando, minha vida não tinha tempo para o amor. e uma garota que espera tanto alguém não entenderia um sonho que não tem tempo pra acontecer. continuei sonhando até a hora de dormir. agora eu não lembro de mais nada.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

paranoia

ouça: cazuza - quase um segundo

o tempo sem ti não é um tempo qualquer
o tempo sentir não é pra qualquer um
nesse segundo eu penso fazer o que quero
no segundo seguinte já não é bem o que eu vejo
percebo que faça o que eu fizer
o que meu coração quer
ainda é o que eu desejo
ainda há você no meu peito

domingo, 9 de setembro de 2012

razão

quando eu fui mais eu e menos você
quando eu fui mais casa e menos mundo
é estranho o vento te roubando o ar
eu não percebi o fim de tudo

e foi o começo desse absurdo
que eu quis chamar de recomeço
e tentar me acostumar sem teu susurro
conseguir a paz que não tem preço

e pode me virar do avesso
eu não te devo explicação
desse sorriso que não me cabe no peito
dessa vontade de voltar a dar as mãos

de pouco a pouco abandonei o labirinto
que eu criei quando tentava te encontrar
sai as presas sem pensar em ter um rumo
de pouco a pouco nunca mais penso em voltar

domingo, 2 de setembro de 2012

grito

para ler ouvindo: quarto negro - vesânia (parte II)

mantendo a direita, cheguei a pergunta que me incomodava: porque os pés dela não esquentavam mais os meus a noite. eu não tinha percebido; só me dei conta quando chegou o inverno e me esquecia de colocar as meias antes de dormir. não que eu não soubesse a resposta; enquanto perguntava já ouvia ela dizer que eu ando muito ocupado com a minha vida e esqueci dela e de sua vontade de ter um filho, de comprar um sitio e visitar seus pais no feriado. vai dizer que trabalho de mais, assisto jogos de mais e o sexo já não é mais o mesmo. falar que não levei ela pra jantar e não reparei no novo penteado e que dou mais valor ao carro do que a ela e estou à decepcionando e não era isso que ela esperava do nosso casamento. eu vou tentar e relutar um pouco, arriscar alguma desculpa esfarrapada que no fundo eu sei que não vai colar e ela vai ficar mais brava ainda. eu posso dizer que vou mudar mas ela me conhece bem e não vai ser fácil assim. vou leva-la pra jantar, ao cinema e vou dar mais prazer a ela na hora do sexo. visitar os pais dela qualquer final de semana e dar um presente pra fechar com chave de ouro.
mas ela não tirava os olhos da rua a caminho do trabalho. nem da rádio ela reclamou. permanece o silêncio por pelo menos um quarteirão. foi quando percebi o quanto me fazia falta seus gritos. foi quando percebi que eu perdi.

sábado, 25 de agosto de 2012

dinamite (ou a borboleta e o furacão II)

para ler ouvindo: bon iver - flume

tudo que pode explodir causa ansiedade pela explosão. aquilo que está intacto não apresenta motivos para não ser quebrado. não existia porque pra não dar aquele passo. eu ainda acreditava no velho clichê do olhar. e confundiu como eu esperava que fosse. não fazia um mês que ela passeava pelo meus dias. eu perdi as contas em algum canto perdido pela casa. eu sempre perco alguma coisa pelo caminho, até o dia em que eu parar de perder. provavelmente será o dia que eu não vou estar mais no caminho. e vou estar parado contanto essa história a quem interessar possa. eu odiava historias até começar a gostar. eu não gostava até começar a amar. é como uma linha de defesa pra não acontecer de novo, mas sempre acontece. explode feito um furacão, bonito como uma borboleta colorida, inofensiva, sem saber porque vai de peito aberto para o olho. entorpecida, ela só abre as asas e vai.

ela subia as escadas com aquele meio sorriso olhando pra baixo com medo de me encarar. eu sempre queria estar esperando no final das escadas mas sempre me segurava e ficava atrás da porta esperando ela bater. agindo normalmente como se não precisasse agir. são só coisas bobas que a gente faz sem perceber, mas quando você começa a lembrar os detalhes são mais fortes do que o ponto final. e você nem se quer lembra em que lugar você estava na história quando começou o final. de qualquer maneira, depois que ela parou de subir as escadas e tudo ficou assim, como o final de uma tormenta, lembro dela dizer - para todos os efeitos eu nunca estive aqui.

passei a encarar como se fosse possível e o tempo mudou muitas coisas por aqui e por lá também, mas existem coisas que não se pode mudar e o quadro dela continua no mesmo lugar. Ficaria um buraco na parede e eu odeio remendar coisas. As vezes eu gosto de lembrar porque aquele quadro que eu nem gostava ainda esta alí quase dois anos depois. pra lembrar que, pra todos os efeitos, eu nunca estive aqui também.

sábado, 18 de agosto de 2012

a primeira epifania

compreendi o significado da gente
mesmo que nadasse contra a corrente
mesmo que seja errado, pago, barato
sem sal, por mal.

aprendi que é normal, e que não há como evitar
o que se veste, se faz, se sai, se sonha sem pensar
em curvas escuras, claras como a luz do sol,

evitei o que se corre sem querer
e o que não da pra evitar
o que se aprende sem perceber
o que se entende só de olhar

em um mundo onde não se esconde de ninguém
onde não há sombra de duvidas
o que eu pensei querer nunca existiu
o que existiu eu passei sem ver



* texto escrito com joaquim emidio aniversariante do dia. meus sinceros parabéns pelos anos e pela ideia do poema.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

porto, ponte, âncora, paz

essas ruas me trazem ventos que eu não sei porque
essa vista me cega e me entorpece de paz
eu já não lembro o tempo que me trouxe até aqui
nada me enlouquece nesses dias de cais

é um estar pleno de graça sem perigo
e achar abrigo onde tiver que ser
o interior corre no seu próprio caos
a cidade esquece o que precisa ter

entre fumaças e destinos eu sigo sorrindo
passos largos, torto, perdido, caminho
eu noto que o sino não bate outra vez

eu que há muito não ouvia nada
já não sabia que som fazer
ouvi o ruído da vida chegando outra vez

quarta-feira, 25 de julho de 2012

leve

ouça: estrada - casa

eu escrevi um texto pra dizer que passou
eu fiz uma música pra dizer que volto a te ver em alguns dias
eu compus um rap pra dizer que eu não vou desistir de vencer
eu plantei uma arvore pra encher a rua de alegria

eu vou construir uma casa com portas bem grandes pra você entrar
eu aceitei ser o pega pra contar até dez e te procurar
e se eu mentir desculpa, foi pra me aproximar
e se eu disser que não, é mentira, eu gosto tanto de você

eu pintei a casa de azul pra combinar com o céu
eu te comprei retalhos pra combinar comigo
eu fiz do mundo casa, igreja e bordel
eu me iludi com juras ao pé do ouvido

eu gosto da vida assim, um terremoto de cada vez
eu passo meus dias assim, leve como um papel
pra que o vento você passe e me leve fácil
pra que o sereno eu fique e caia pra sempre

quarta-feira, 18 de julho de 2012

quadrado

quando eu te dizia não era nada de mais
e a sua voz sumia pra me provocar
e o tempo disse lento nunca é tempo de mais
e sua mão descia pra me provocar
é raro, acontece, mas ninguém nunca vê
e nada acontecia pra me provocar
é tarde, não esquece, um dia você vai ver
você só existe pra me provocar

terça-feira, 3 de julho de 2012

a-calma

ouça: yael naim - try hard

não é certo o que eu estou fazendo
andar sem abrir os olhos
"jogando pra perder"

não é certo o que eu ando dizendo
sem pensar, sem medir
sem entender

não é certo com elas
não é certo com ninguém
não é certo pra mim

e exceto o que eu grito sem ninguém saber

não é certo o que eu sussurro
não é certo o que vai acontecer

eu não pedi pra vir aqui e ficar
é só uma canção
eu nunca quis que realmente você nunca me esquecesse
eu pedi nas entrelinhas e você nunca entendeu

mas hoje em dia parece tudo tão certo

aonde quer que você esteja
quem quer você seja
pede a conta e vem aqui
me prova que eu ainda existo
que ainda existe alguma coisa dentro de mim

eu tenho tanta historia pra contar que eu esqueci de viver.

domingo, 24 de junho de 2012

catavento

ouça: bon iver - minnesota, WI

não vai adiantar dizer que já passou. arranhar meus discos, parar de ler meus livros, evitar meus shows. não vai surtir efeito comprar um vestido novo, cortar o cabelo, doar meu moletom que ficou na sua casa para a caridade. e pra que cortar as nossas fotos, rasgar as cartas, colocar um salto alto? não é assim que as coisas funcionam. não vai ser do jeito que você quer. não adianta jurar de pé junto que não vai lembrar da vista da minha janela a tarde, da escada que fazia você perder seu folego, do mendigo da esquina da padaria perto da minha casa. a gente dançando na rua e da vida passando. e as coisas que te faziam feliz ficando pra trás. não é como quando você pisca forte o olho e tudo some. isso não existe. é fantasia sua, a mesma fantasia de quando você imaginava que isso podia dar certo. a mesma fantasia que fazia você jurar que ia ficar enquanto eu te excitava. o mesmo devaneio que me fez te escrever de novo. a alucinação que te trouxe até aqui. não vai adiantar porque eu vou estar nos seus mais profundos. você não vai conseguir esquecer. eu não vou deixar. e você também não.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

confronto (ou sem você no corpo III)

para ler ouvindo: chico buarque - folhetim

eu sinto qualquer minimo corte causado pela folha do caderno
ou qualquer coisa que arranhe a pele
como o vento por exemplo
o ar é estranho, parece veneno
tudo é preto e branco, os dias cinzas são monocromáticos
e eu não diferencio as placas nas ruas
vou somente aos lugares que vou automaticamente
por puro efeito da rotina
morfina
imerso dentro de mim
procurando e procurando
absorto sem ar
ignorando qualquer milimetro que ultrapasse
a ponta dos pelos do meu corpo

pisando firme no chão (sem chão)
olhando as horas (sem relógio)
sem hora pra voltar
pra onde voltar
pra que voltar
pra quem voltar
eu volto sozinho pra casa

procurando e procurando
voando sem par
ignorando qualquer milimetro que ultrapasse
a fina pele do teu corpo

estou absorto em desalento
estou absorto em você

terça-feira, 19 de junho de 2012

plebeu e sinuca

ser poeta é assim
sente coisa onde não tem
ser humano é assim
acha coisa onde sentir

terça-feira, 12 de junho de 2012

alvoroço

para ler ouvindo: umrio - cor de jasmim

observo meus óculos embaçados depois de um final de semana intenso, juntando as cenas e os cacos do filme b que é a minha vida. é sempre um problema tomar decisões. é sempre um problema tomar decisões sendo eu. é sempre um problema tomar decisões sendo eu bêbado sob o efeito da madrugada. não que eu me arrependa é claro - nessa hora do pensamento sobe um leve sorriso tímido no meu rosto - pois afinal de contas sou eu o cara que se joga de cabeça e nada a braçadas largas para onde der, sem nem saber onde esta indo. não me lembro de uma unica vez na vida ter evitado, desviado, pensado melhor e recuado. eu fraquejo, eu sempre quero ver onde vai dar. vem sorte, vem dessa vez mudar, dançar, me fazer sentir de novo - sorriso irônico. seria menos eu. talvez um dia fosse melhor, ao menos um pouco deixar de ser o garoto que desce o morro correndo de chinelo em tempo de tropeçar, cair e se machucar. só uma vez escutar a mãe preocupada e ir com cuidado e ir devagar.

um dia eu mudo eu juro. eu juro.

eu me rendo fácil a olhares, lugares, ao calor da minha pele, a língua tua. um dia eu vou aprender a me cuidar, eu prometo, de verdade. mudo o segredo da chave, mudo o disco, a cerveja, mudo de país se for preciso. apago a minha agenda, mudo meu numero, meu jeito de andar, de escrever, durmo com metade das garotas da cidade até sumir com teu gosto da minha boca. doo minhas roupas pra não sentir mais seu perfume. um dia te encontro, te olho e te sussurro no ouvido: - passou. mas por enquanto só pego a flanela e limpo devagar meus óculos. agora consigo ver o outro lado da rua. agora consigo ver com clareza que eu não vou mais ficar como eu pensei.

domingo, 10 de junho de 2012

em chamas

ouça: estrada - luz

isso não é mais sobre amor.

eu perdi a fé, as chaves, a cabeça e um pouco da razão. eu encontrei meu isqueiro e gente perdida na rua.

isso não é mais sobre querer.

eu perdi o tato, a visão, o olfato e o paladar. eu encontrei meu ponto fraco e me escondo pra esquecer.

isso não é mais sobre sentir.

eu perdi o voo, a avenida do contorno e as moedas do meu bolso. eu a encontrei no ponto de táxi sem saber pra onde ir.

isso não é mais sobre esquecer.

eu perdi a vontade, o emprego, o trago e joguei fora o cigarro. eu encontrei o que eu tinha perdido quando a peguei olhando pra mim. sem saber.

isso não é mais sobre sonhar.

eu perdi tanta coisa que perdi a conta. e as coisas que eu encontrei joguei pro ar pra ver se achava em outro alguém. por puro prazer.

sábado, 2 de junho de 2012

dois cobertores e meio

o que a gente pensa que esta fazendo dizendo assim?
o que a gente pensa que faz quando faz isso?
o que se quer dizer balançando os braços feito uma bailarina cansada de esperar?
o que não esperar dizer de um abraço?
e quando corre pra longe sem saber, pra evitar?
o que pensa que diz mas não fala?
e o que a gente faz com o peso das palavras?
o que fazer com o pé que sobra pra fora da coberta, sozinho?
o que a gente quer acreditar?
o que a gente ainda faz aqui?
o que a gente ainda tenta salvar?

porque ainda espera tanto de mim?

quarta-feira, 30 de maio de 2012

bolhas

estive pensando em te iludir, matar meu tempo. em te levar pra jantar, contar estorias. em me vangloriar do meu trabalho, dos dias chatos, fazer você rir, mas principalmente em te enganar.

pensei em te levar flores, em te ligar de madrugada, te mostrar uma música. mas lembre-se que quero te ludibriar.

pensei em elogiar teu cabelo, olhar nos teus olhos, te fazer um poema, te acender um cigarro. mas bem, é só trapaça.

quis te beijar com calma, te levar pra cama, te fazer um cafuné e falar bobagens.

quis te prender em mim, vestir a roupa enquanto você dorme, balbuciar uma desculpa e ir embora.

raciocinei não pensar em voltar.

calculei tudo como um crime.

mas o tiro saiu pela culatra e a vitima sou eu, parado ao pé da tua cama com o coração na mão exitando como um calhorda em te deixar pra trás.

domingo, 27 de maio de 2012

tempo de pipa

ouça: cicero - tempo de pipa

corre as escadas, o vento vem vindo
eu não sou mais menino
mas ainda sei brincar.

subúrbio, condomínio fechado
morro-asfalto, não importa
todos vão ver minha pipa no ar.

imagina só, como estrela no céu
brilhando a tarde, cheia de sol
chegando com graça onde eu queria estar.

talvez seja isso a maneira que eu tenho
menino destino, destino talvez
corre as escadas, a noite vem vindo
eu não sou mais menino
mas ainda sei brincar de me esconder

quarta-feira, 23 de maio de 2012

conta gotas

queria poder dizer o mesmo que você me diz, pra evitar qualquer explicação.
queria poder sentir o mesmo, pra evitar qualquer desacerto.
queria que eu não fosse eu mesmo, pra evitar qualquer desatenção.
queria que hoje fosse qualquer dia, pra evitar o frio.

queria ser o guarda de trânsito, pra evitar o teu olhar.
queria ser aquele tempo, pra você não se esquecer
queria ler teu livro, em forma de canção
queria uma canção, pra não deixar mais você ir.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

reconstrução

a gente não sabe o que faz quando o prédio cai
a gente não sabe o que tenta quando o mundo diz não
o prédio não sabe o que faz quando se ergue de novo
o mundo não sabe o que faz quando se teima que sim

o tempo não sabe o que diz quando a gente não passa
a gente não sabe o que faz quando a sorte não vem
o vento me erra perdido e não pensa mais nada
a dias me pego sorrindo pensando em te ver

quarta-feira, 16 de maio de 2012

ladrilho (ou a ciranda de roda do que não foi)

I
mais do que você imagina eu sou um completo idiota. eu me atrapalho, eu não sei as horas, a hora de falar, a hora de existir... ora, que problema, eu sou tão clichê. digo coisas sem sentido e as vezes nem digo o que eu queria dizer. eu quero tanto e as vezes nem preciso.

II
eu tremo, eu gaguejo, eu sonho
eu minto, eu respiro, eu vejo vindo e repito
fica aqui comigo
a gente senta, a gente inventa, a gente tenta
eu te olho, você fala, eu te abraço, você me beija
eu corro, você me freia
eu sinto, você receia
o mundo gira, você me para
a noite é fria e você tão calada
eu tento rima mas você não vem
eu ainda espero lá em cima enquanto a noite vem.

III
parece um filme que eu já vi e não me lembro o final
eu não dou mais um passo enquanto não acabar por aqui.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

plastico

a verdade
é que há muita vontade de se entregar
e pouca coragem
a verdade
é que há tanto pra dizer
e pouca palavra
a verdade
é que há tanto pra viver
e pouco tempo
a verdade
é que há tanto pra esquecer
e pouco senso

a mais pura verdade
é que há tanto de você em mim
e tão pouco eu nesse momento



e talvez no fundo eu não me importe

terça-feira, 8 de maio de 2012

choque

quando os dias são assim, todos iguais; os minutos contados, as atividades planejadas, os sentimentos guardados, a realidade quase inexistente. sinto falta de poder fazer meu próprio café, ou de sentar na cozinha da minha avó e ouvir ela reclamando do meu pai da mesma maneira que ele reclama de mim. mas principalmente, sinto falta de não saber o que esperar. os anos vão passando e todos os outonos ficam iguais, e as pessoas por aí fingem ainda se espantar com o frio e toda a chuva. e eu aqui, parado ouvindo um reggae qualquer vendo o carro se aproximando e já calculando que ele vai jogar água em mim, então apenas dou um passo para o lado e veja água passar fingindo inutilmente me importar com tudo isso. vou perceber o exato momento em que esse filme vai mudar de novo porque tenho contado cada segundo desse mês. estou pensando em pintar a sala de verde de novo e esperar o carteiro chegar e pergunta-lo: - alguma novidade? porque aqui continuo o mesmo paciente de sempre. e você?

terça-feira, 1 de maio de 2012

como se ainda fosse carnaval

eu não tive jeito de pensar. nunca fui do tipo que pensa muito no amanhã. te procurei por trás das mascaras e das pessoas que fingem não me ver perdido por aí, como se eu não fizesse parte. sábado, domingo, segunda, terça. na quarta, bem, parei pra pensar aonde eu estava indo e mudei um pouco de direção pra ver se a sorte desistia de me abandonar e voltava aqui como se nunca houvesse azar. até hoje acompanho o bloco pra saber até onde ele vai. sem sucesso, vou deixar a música diminuir e respirar. ano que vem tem mais. e como se ainda fosse carnaval - aquele carnaval - eu vou brincar de ser feliz ao teu lado.

sábado, 21 de abril de 2012

saída

- então, você tanto se esforçou que conseguiu me esquecer...
- você e sua mania de razão. como pode ter tanta certeza?
- você nunca esteve tanto tempo sem me esbarrar por aí ou sem deixar algum sinal de que ainda lembra...
- é que cheguei a conclusão que isso não ia nos levar a lugar algum.
- não é bem assim. nos trouxe até aqui.
- o que tem aqui?
- nós.
- e o que tem "nós"?
- alguma coisa que não consegue ficar pra trás.
- você também sumiu. isso não significa que você deixou pra trás?
- eu não sumi.
- você também há um bom tempo não me esbarra por aí...
- eu não faço as coisas acontecerem. elas simplesmente acontecem.
- então porque você esta parado há duas horas me esperando sair do trabalho?
- então porque você esta parada há meia hora me esperando dizer que estou com saudade?
- porque eu gosto de ter certeza.
- porque eu ainda gosto de você.

os carros buzinavam forte no centro da cidade em meio aquele transito intenso. ameaçava chover. choveu muito aquele dia quando eu fui embora. mas não o suficiente para impedir que eu a visse me olhando do outro lado da rua enquanto o ônibus partia pra longe daqueles dias de paz.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

as palavras do poeta torto

ouça: legião urbana - montanha mágica

você se esconde atrás desse violão
canta palavras que não sabe dizer
atravessa a rua sem olhar pra trás
escreve nas paredes pra não esquecer
olha bem pra esse céu que não é mais teu
joga fora o tempo, o verso e o refrão
olha dentro do teu olho e diz se é paz.
olha bem pros meus olhos e diz se é amor
da voltas ao relento sem bem saber
mas nem esse sereno é bem ilusão
eu já não sei mais o que responder
quando pergunta a quantas andas o destino
que não quer mais saber de você
de quantas voltas quiser teu balão
sempre vai voltar aqui
enquanto preocupar com o que perdeu
preso tanto tempo em quem partiu
já não é mais você, eu enfatizo
é tudo que você ganhou, e bem
parece que você não viu

quinta-feira, 12 de abril de 2012

vendaval

após dormir o final de semana inteiro, a rotina me obrigava a colocar os pés pra fora de casa na segunda pela manhã. parecia ter havido um vendaval que devastou tudo em um raio de duzentos metros ou mais. e logo eu, com problemas pra reter informação recente e com um deficit de atenção absurdo, lembrava cada passo nesses duzentos metros. o dia parecia insosso e foro do lugar, bem assim, clichê, como você gosta tanto. as pessoas estavam imersas em seus pensamentos e mal olhavam para o lado, me fazendo questionar o que eu perdi na minha hibernação. no curto tempo e distancia da minha casa até o meu trabalho, tudo estava devagar e melancólico, como um luto coletivo. cheguei levemente preocupado ao escritório mas estava tudo lá, imovel. as pessoas, minha mesa, meus papeis, os problemas. os comprimentos falsos e os sorrisos amarelos. peguei um café e um cigarro como de rotina e fui até o patio fumar. com a vista das montanhas atras do prédio, quando a fumaça começou a me envolver, eu entendi que não era o mundo que estava errado. era meu mundo sem você que parecia ter alterado a rotação da terra. da minha terra. o vendaval foram lembranças. a calmaria era a consequencia. e o dia era finalmente o fim. e o amanhã não parecia um recomeço.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Outono 06'

ouça: topaz - sono

eu nunca hesitei fechar os olhos, virar as costas e seguir.
eu nunca hesitei em evitar.
eu nunca hesitei em hesitar.

mas houve uma vez que meus pés arrastaram no chão e minhas pernas não queriam obedecer. houve essa vez que mordi forte os lábios e pensei em ficar. não foi um daqueles momentos que você sabe o que está fazendo. foi um daqueles minutos que você não sabe porque sente nada. ou porque esta sentindo tudo ao mesmo tempo sem pensar.
eu não sei se acertei ao ouvir a tulipa cantando 'do amor' no meu ouvido. nem sei se deveria ter chamado pra subir. a ideia era não ter ideia do que fazer. pelo menos uma vez. era essa vez. nossa vez. nada haver eu pensei. pensei em arriscar perder, pra pelos menos vencer as vezes que eu pensei vencer indo embora. mas talvez estivesse apenas deixando de ganhar. ganhar o que eu não sabia. jogava pra perder justamente por não saber o que podia ganhar.
então ela subiu. ganhei um sorriso e algumas lembranças pela casa que ela esquecia e vinha buscar as vezes. mas um dia ela se esqueceu de esquecer e esqueceu o caminho de volta.

eu sempre hesitei ganhar pra não ter que perder. é assim que funciona.
eu sempre hesitei lembrar pra não ter que esquecer. é assim que se passa os dias.
eu sempre hesitei em ter que hesitar em viver
pra nunca mais ter que evitar em te ver.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

o poeta das palavras tortas

de repente tudo ficou impossivel como se fosse o ontem
de repente tudo ficou claro como se fosse amanhã
de frente o presente, o liquidificador e o medo
de frente o espelho, teus olhos os mesmos

do nada tudo ficou amarelo
do tudo nada mais era azul
do quase já não era sem tempo
do tempo já não era mais meu

eu sigo sempre a sorte perdido
eu sigo sempre forte indolor
eu sigo capenga esses trilhos
eu sigo fingindo não ser

porque não parar por aqui?
porque tanto tempo a perder?
porque não parece ser fim
porque não parece ser eu

domingo, 1 de abril de 2012

lamento

me exlica, tanta falta
ai de mim que não meço
as palavras
e eu não sei
o momento
eu perdi
tanto tempo.
me explica, tua alma
ai de mim que não meço
o tormento
e eu não sei
o momento
eu perdi
tanto tempo aqui.

outono 01'

ouça: quarto negro - desconocidos

- há muito deixei de ter medo. não me lembro quando, onde ou porque, mas de repente estava com o pé na estrada, me metendo em qualquer confusão que me desse distração por um curto período de tempo.
- e foi melhor assim?
- a intensidade e a beleza compensam o efêmero. pelo menos pra mim. nem sempre tão real quanto eu imagino, mas como bruno já questionava, o que é o real além da impressão do que se sente?
- e você esta feliz agora?
- sabe, os dias tem sido bem iguais. você não sabe o que acontece ou como foi dormir no sofá, então você assiste a vida seguir, mas é só o relógio que segue. até os carros parecem não sair do lugar. é só o congestionamento eu sei, mas não venta por aqui há um bom tempo.
- e você nunca vai mudar né?
- eu já tentei. mas não.

quinta-feira, 15 de março de 2012

março

desacelera o passo, para o coração
abre um pouco os olhos, respira forte enfim
esses dias cinzas, essa cidade cinza
sempre do lado errado, preso em minutos contados
como um conta gotas mostrando o caminho
sem tempo de dizer: olá, como vai você?
para um pouco e me abraça como antes
me gosta como nunca, me perde como sempre
me fala de você e segue a rua
até onde não der mais.
esse é o filme das nossas vidas
essa é o filme de você em mim.
já não tem tempo pra ser
pouco dinheiro pra contar
a história que eu perdi o fim
a hora que eu perdi pra te encontrar.

sábado, 10 de março de 2012

a falta

a saudade que arde
o tempo que cura
o tapa na cara
a voz que sussurra

que a saudade não passa
que o tempo fez curva
na porta da sala
que um dia foi tua

a saudade que alegra
o tempo sem chuva
no vão da sacada
em noite de lua

onde a saudade não bate
o tempo flutua
nada mais volta
na rua que continua

segunda-feira, 5 de março de 2012

paralelepípedo

não te acredito mais
não me crucifico mais
não sei, tão pouco

não me preocupo mais
ninguém procura mais
eu vivo tão pouco

todo mundo quer mais
você lamenta um pouco mais
eu te vejo tão pouco

te quero um pouco mais
não se se sou capaz
esse poema ainda é pouco pra dizer

sexta-feira, 2 de março de 2012

espaço

daqui de longe não consigo te ouvir, então ouço o que me contam de você. e da saudade. e da vontade de correr. da vontade de fugir. desculpa a confusão, mas a a dificuldade que eu tive pra te amar é a mesma dificuldade que eu tenho pra esquecer. passa o filme que quiser mas nada parece mudar. o tempo não parece me entender. os dias não parecem me ajudar. você não parece me esquecer também.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

vacuo

finalmente tempo pra pensar. finalmente silêncio. enfim sós. eu deveria estudar, cortar o cabelo, ligar pra alguém. mas me sento na mesa da cozinha soprando um café e discutindo. há gritos e tapas na parede e as almofadas do sofá estão no chão pegando sujeira. o barulho das pernas da cadeira batendo forte no chão e a tv ligada sem sentido algum. argumentos falhos, farpas inevitavelmente sem querer, alguma vontade de chorar. sempre a porta batendo forte atrás de mim e um suspiro forte. me lembro quando esse suspiro era porque estava tudo bem. me lembro de jurar que estava tudo bem. agora mesmo, sozinho aqui, eu poderia jurar que esta tudo bem mas não esta. sempre tem esse silêncio incomodando. sempre tem você lá fora que eu não sei onde esta. sempre tem essa vontade de que você estivesse aqui. essa vontade de que tudo passe logo pra eu te ver sorrir de novo.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

faz parte do meu show II

eu deixo a barba por fazer, perco os tênis, desarrumo o quarto
me acomodo no sofá
eu só acordo depois das duas pra requentar o café de ontem
até já esqueci o caminho da padaria
eu erro o caminho do shoppping
se isso te fizer feliz
eu ligo a tv, corro mais rapido, ando distraído
até começo a fumar mais pra te tragar um pouco menos
não assisto mais filmes tristes
não estou mais pra limpar suas lágrimas quando precisar
me repreendo quando achar que devo
e como sempre estou errado
meu orgulho me engole pra ficar em paz
não te busco mais as nove
não vejo mais seu ônibus passar
minhas economias se foram
minha geladeira esta vazia de bobagens
ria do jeito que achar que deve
não tenho mais paciencia pra esperar qualquer coisa na sala vazia
nao quero você mais perto
evito teu olhar de longe
mesmo com a cara de quem pensa se realmente quer ficar
e eu até parei de dançar aquela música que você gosta

só não volte mais.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

quando o carnaval passar

os dias que precedem o carnaval são assim, chatos, corridos, quentes e vazios. os dias durante o carnaval nunca parecem verdade e é difícil acreditar existir algo além das mascaras e da folia. mas os dias após o carnaval sempre veem, e neles a gente decide o que fazer com o que sobrou de nossas vidas. hoje eu passei na porta do teu trabalho e fiquei parado com o celular na mão por minutos, como se minha vida dependesse daquilo. blasfêmia, eu sei. preferi não incomodar. preferi ir embora como tudo vai. você foi embora como tudo fica.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

as vezes, como sempre II

eu queria que você fosse minha fã, e entendesse tudo que eu queria dizer. queria te encontrar em algum bar e sem querer te flagrar olhando pra mim com vergonha de chegar perto. e claro que eu também estaria receoso. teus olhos castanhos são tão profundos e quem dera eu soubesse dizer tudo que eu escrevo sem gaguejar. eu queria que sem perceber você mudasse meus domingos, meu carnaval, talvez o meu destino só. sem amarras, barco embriagado ao mar. queria que você me fizesse acreditar de novo, e que tudo que eu vivi até hoje foi apenas pra te fazer sorrir. sem desilusões, sem passado, sem futuro. eu queria aprender sobre seu cantor favorito, e te mostrar meus discos do renato. dia após dia, te mostrar que o que você lê de mim não são apenas palavras tentando soar bonitas. é só minha maneira de demonstrar que eu queria que você chegasse mais perto e não saísse mais por um bom tempo. um tempo bom.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

o viajante

eu ando por aí inventando nomes, sendo tudo que eu não sou. descobrindo ruas, praças, cidades, gente tão diferente quanto tudo que eu já vi. o plano era que o por-do-sol nunca fosse o mesmo. e mesmo que fossem dias de chuva, seria sempre diferente. nunca o mesmo lugar, nunca a mesma pessoa. quase nunca as mesmas palavras. mas em alguma dessas ruas, em algum desses poentes, naquela exata chuva, ainda existe um lugar ao qual eu talvez queira voltar um dia. mudar a direção, trocar as estradas, conhecer outro eu, nada foi suficiente para que em algum momento dessa busca sem fim em me lembrasse desse dia azul. foram poucos céus laranjas. foram poucas chuvas finas e quentes. foi apenas um sorriso. e o arco-iris mais bonito que já vi. todo gato de rua quer ter um lugar pra voltar. talvez um dia eu volte para o meu, se o assim o vento me quiser levar.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

caminho

a forma como tudo da errado não é diferente da forma como tudo da certo. eu só percebo quando não da mais pra evitar. eu repasso todas as frases, reviso todas as anotações mentais de cada sorriso, cada franzida de testa, cada dia bom, cada dia ruim. mas é sempre quando não da mais pra evitar. penso saber o que fazer mas dou de cara com o acaso. parece ser melhor assim, eu acho. tento me convencer de que não é tão ruim assim. finjo acreditar nos meus argumentos e que sou velho de mais pra cair no mesmo truque novamente. e quando encho o peito de coragem pra sair de ti, não consigo mais evitar. estou parado na porta da tua casa esperando te ver pra te levar por aí.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Breve

eu que não conheco bem você daqui
faço tanto força para enxergar
no tempo que tu passa eu já nao sei de mim
respira fundo que em breve tudo vai passar
eu não gritei eu sei teu nome
o acaso todo dia vem pra me lembrar
eu não sei teu sobrenome
e pouca importa se um dia tu ira voltar

eu cansei, e não sei falar
passa tão de pressa
e lá não sou mais eu
mas eu sei, não vai adiantar
porque se move assim?

tudo que eu sei
eu sei pra me guardar
de você que esta em mim

olho pro relogio e são quase seis
o mundo não vai parar porque esta aqui
minto cada dia sempre de um vez
usando o artificio que tu usa em mim
vem concreto e indiferença que tu fingi armar
no fundo eu sei sou que estou sempre em você
senão não estaria ai a me olhar
parada ouvindo isso que é sobre você

eu cansei, e não vou voltar
passa tão depressa
e aqui ainda sou eu
mas eu sei, não vai adiantar
porque se move assim?

tudo que eu sei
eu sei pra me guardar
de você que esta em mim
tudo que eu sei
eu sei pra me livrar
de você, que não sai daqui

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

o sono, a dança, o amanhã

dança aquele mesmo passo
sopra aquele mesmo tom
canta aquele velho samba
que eu já não sei qual é o som

ando sonolento por aí
já não ando sem você em mim
rodopiando sempre sem parar
respirando forte enfim

finjo não ter certeza
me faço de desentendido
ou seja
tudo vai durar
o tempo que eu não me mover

e te ver rodar
e te ver sorrir
e te ver correr
voltando pra mim

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

parapeito

alinha tuas mãos nas minhas
empilha as contas e as cartas sobre a mesa
fecha a janela porque vai chover
e tranca a porta se for demorar

deixa o som da tv bem baixinho
eu não quero ouvir o que me faz lembrar
mas deixa teu sorriso perto
pra se um dia eu precisar sonhar

não é o calor que faz agora
não é o vento ou o telhado
é o barulho de você la fora
e o som que vem dos carros

e vai embora assim sem dizer nada
fecha os olhos como se o coração não enxergasse
mas se perde de novo quando olha
eu indo embora sem querer voltar

domingo, 22 de janeiro de 2012

café requentado

um dia acordei assim
os dias que eu queria que passassem devagar
hoje eu corro pra não ver
requento meu café de ontem
evito teu olhar
te escrevo em bem-me-quer
pra não ter mais que te ver chorar

se bem que teu rosto lindo corado
e meus dedos que ficavam molhados
durmo e não encontro mais
requento os dias pra um dia
finalmente eu te encontrar em paz.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

terraço

tem vezes que o céu parece tão perto
e você tão longe
respiro fundo
não é hora de brincar de esconder

justo quando deveria me encontrar
e me mostrar o bairro
o terraço
a fita e o laço

logo quando eu queria te encontrar
te mostrar o meu lado
o afago, as luzes no terraço
e tudo que um abraço pode dar

quando a gente finalmente se ver
eu disfaço o estrago
a falto do terraço
tudo que seu abraço me faz falta.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

sobre o ator que não sabia atuar

começou assim, eu andando imaginando um universo diferente. o estranho da turma conhecido mundialmente por saber sei lá o que. então eu precisava descobrir algo em que eu fosse bom além de vencer partidas de video game e ser o estranho da turma. não me lembro em qual rua estava quando percebi que já estava fazendo uma coisa que pouca gente fazia. imaginar. foi só questão de me perder. foi quando fiz dezoito e percebi que minha imaginação não ia me salvar do mundo real. criar situações era mais fácil do que vive-las. e elas começaram a se tornar reais. mais reais do que aquele menino parado no portão de casa vendo os carros passarem pudesse prever. mas não me lembro em qual dia estava quando resolvi não parar. e veio o amor. e não parou mais. não tinha o mesmo gosto da adolescencia. nem melhor nem pior. e aprendi que amor não se mede, não se rotula, não se muda. e descobri a música. descobri que eu sabia bem mais do que achava que sabia. como das outras vezes, eu não lembro onde eu estava. talvez no sofá marrom eu acho. e foi um efeito dominó. veio a amizade. foi a amizade. ainda é a amizade. veio as madrugadas, do jeito ou mais perfeitas que eu imaginei. veio os beijos, os abraços, os carinhos, as frustrações, as dores, as poucas mas ainda lágrimas. e as confusões. ah, minhas doces e mal fadadas confusões. eu lembro onde eu estava quando percebi o quanto gosto disso. estava parado, olhando a cidade lá de cima, em silêncio, ouvindo meus amigos conversarem e ouvindo The Suburbs do Arcade Fire. me lembrei daquele menino de treze anos doido pra sair da gaiola, que olhava o horizonte pensando aonde aquela rua ia parar. onze anos depois, descobri que ela sempre para comigo sorrindo de uma maneira ou de outra em qualquer lugar que eu nunca vou lembrar. mas vou saber que estive ali sorrindo. sempre.

domingo, 8 de janeiro de 2012

eu passei naquela rua hoje

pra que fingir? pra que correr?
eu luto todos dias pra um dia desses eu descansar feliz.
é tão simples ver, é tanto querer
que a gente nem nota.

para um pouco aqui do meu lado
e em silêncio conversa comigo como naquele dia longe.
muito longe.
eu queria que fosse longe o suficiente para não precisar voltar tão cedo.
mas amanhã é segunda-feira e a gente já se esquece de novo.
e de novo.

mas senta,
e escuta o que nos trouxe até aqui.
aquela música, aquele dia, aquele ano,
aquele feriado, aquele carnaval.
aquele passo errado, olho pro lado e já não tem mais.
a gente não sabe mais.
e tudo fica com gosto de de guarda-chuva.

mas senta aqui, eu prometo que não vou demorar.
não sei se despedida é a solução, mas morei um dia no seu abraço,
eu só queria visitar pra ver hoje como tudo está.

senta aqui e me conta como vai você,
antes que eu me vá de vez
pra nunca mais voltar.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

o calculista

em meio a tantas planilhas, trabalhos e contas, eu fiz uma planilha pra você. usei todas as formulas possíveis, fechei e abri abas, inverti pontos e sinais, usei gráficos, desenhos e formatações, tudo para descobrir onde errei nos meus cálculos iniciais. porque nos meus planos, eu simplesmente pegaria minhas coisas e iria embora, mas parei na escada sem entender sequer porque tinha parado alí. e se não fosse o porteiro, acredito que ainda estaria lá, olhando pra parede. é que eu, que só vejo números no total, me esqueci de calcular a variável 'saudade' em alguma célula no meio dessa bagunça toda. fecho a planilha sem salvar, e volto a esperar um e-mail que nunca chega.

Supercombo - O Calculista

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

sem você no corpo II

vez ou outra me pego conversando com você de novo, tentando te explicar algo que nem mesmo eu sei. e que não tem explicação. na verdade não precisa de explicação, mas sempre estou sentado na escada, com um café frio em uma mão e um cigarro na outra, pensando o que vai ser do meu verão agora sem aquilo tudo de meses atras. começa a chover lá fora como de costume e me lembro que deixei as janelas abertas. mas a preocupação vai embora quando vem uma ponta de esperança de que vou chegar em casa e a janela vai estar fechada, a comida vai estar em cima da mesa e você vai estar sorrindo pra mim, sentada no sofá, como deveria ser.

domingo, 1 de janeiro de 2012

sem você no corpo

é que as coisas que a gente perde pela vida
de vez em quando a gente acha em momentos ideias
quando tem que achar
em dias como esse

está em você, está em mim
está em nós

é como pingar limão e andar no sol
viver marca
as vezes arde
e te faz lembrar o que te fez chegar aqui

que seja eterno enquanto dure
que seja feito o possível pra sorrir
daqui pro futuro o que tiver que ser

sem você no corpo...